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Política

Moro abandonou o País e Ciro achou saída honrosa, diz Fábio Faria

Para Faria, o cenário de Fla-Flu é irreversível na disputa pelo Palácio do Planalto em 2022.

A terceira via vai ser espremida nas eleições presidenciais de 2022. De seu gabinete no segundo andar do Palácio do Planalto, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, vaticina em entrevista ao Estadão o que entende ser o destino de pré-candidatos que tentam vingar como alternativa ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), atualmente favorito em pesquisas de intenção de voto.

Para Faria, deputado de quarto mandato que já apoiou o PT, o cenário de Fla-Flu é irreversível na disputa pelo Palácio do Planalto. Nesse sentido, afirma que Ciro Gomes arrumou uma “saída honrosa” ao suspender sua pré-candidatura, em protesto pelo apoio de deputados do PDT à PEC dos precatórios – ela pode viabilizar o Auxílio Brasil, programa social substituto do Bolsa Família e trunfo eleitoral de Bolsonaro. Também garante que a filiação de Sergio Moro ao Podemos não vai ameaçar o presidente. “Onde ele estava nesse último ano, quando estávamos com pandemia, as pessoas morrendo. Moro foi para os Estados Unidos, foi embora, abandonou o País”, diz Faria.


O que dificulta as tentativas de candidaturas alternativas a Lula e Bolsonaro?

São dois nomes consolidados, na direita e na esquerda. Os dois têm em torno de 30% de apoio popular cada. Quando sobram 40% e divide, porque não tem como sair um nome só, fica muito difícil de disputar. A eleição está polarizada. Nenhum outro nome desperta paixão, não tem torcida. O Fla-Flu está jogado. Falta muito tempero na terceira via, e os dois têm de sobra.

O Ciro Gomes suspendeu a candidatura dele a presidente por causa dos votos de deputados do PDT favoráveis à PEC dos precatórios.

O nome dele está caindo nas pesquisas. Pode ser que ele esteja tendo alguma dificuldade interna e viu uma oportunidade de uma saída honrosa.

A entrada na política do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro ameaça Bolsonaro? Ele pode arrastar o apoio dos militares?

O Sergio Moro tem zero de habilidade política. Como vai se relacionar com o Congresso, com o grupo de ministros? É acostumado a dar decisão e mandar cumprir. Política é convencimento, diálogo, é abrir de coisas em nome do consenso. Onde ele estava nesse último ano, quando estávamos com pandemia, as pessoas morrendo, ele foi parar os Estados Unidos. Foi embora, abandonou o País. E volta agora para querer ser candidato? Não vejo essa condição dele de crescimento. Não acredito que ele terá voto da esquerda ou da direita. Vai ter o voto de pessoas que eram bolsonaristas e já não são mais, poderiam estar votando em outro nome da terceira via e vão optar por ele. Não vejo ele captando gente de dentro do governo, da base, do grupo do presidente Bolsonaro. Acho Moro totalmente sem capacidade para ser presidente da República.

Bolsonaro segue viável eleitoralmente?

O vento que sopra no Brasil ainda é de centro-direita. Existe uma ressaca muito grande do PT. Lula está vivendo um bom momento porque se tornou elegível. Ele esteve preso, cheio de denúncias, e agora está olhando de camarote. Mas ele traz um legado de muito desgaste. O governo Dilma, os escândalos de corrupção, isso não entrou na discussão ainda. Os números do Lula têm muita gordura. Ele já começou a queimar. E por outro lado Bolsonaro sai de um momento de pandemia gravíssimo, as pessoas em casa, com medo de morrer, perdendo parentes, agora estamos vendo a vida de volta. CPI durante cinco meses dominando só com notícia negativa para o presidente diariamente. Muita gente achou que ele ia morrer, mas ele sobreviveu, porque tem um arranque muito forte, do grupo que está com ele. Eu vejo Lula e Bolsonaro no segundo turno, e Bolsonaro ganhando. Acho difícil o PT voltar. Não brigo com pesquisa, mas tem muita gente com raiva, que diz que vota em qualquer um contra Bolsonaro, mas não vota em Lula de jeito nenhum. Com um período de calmaria, resolvendo a economia, acho que a inflação global tende a melhorar no primeiro trimestre do ano que vem, e tem muita entrega que o governo vai ter condições de mostrar. Só briga, só conflito, é uma estratégia da oposição, inteligente por parte deles.

O presidente é adepto do conflito.

É, ele gosta, responde a tudo, fala o que pensa. Mas estamos vivendo um período mais calmo, deu uma melhorada. As pessoas estão gostando desse momento de paz.

O tensionamento com os poderes passou?

Está muito melhor. Com o Arthur Lira (presidente da Câmara) tem boa relação, com Rodrigo Pacheco (presidente do Senado) é ok também. A relação com o Supremo evoluiu muito. Não acredito que volte a ter instabilidade por isso.

O presidente tem que trocar o nome do indicado ao STF diante do risco de derrota de André Mendonça?

Isso é uma decisão muito do presidente. A escolha não passa pelos ministros. André é decisão pessoal dele. Pelo que ouço não tem nada no radar de troca de nome no momento. Estamos acompanhando as dificuldades. Pacheco disse que iria fazer as sabatinas, mas ninguém sabe quais, ninguém sabe se ele vai avocar para si ou vai ser pautado lá na CCJ.

Sem CPI, qual vai ser o espaço da oposição agora?

Vai ser uma briga cada vez mais forte do bolsonarismo com petismo. E vai espremer muito. A terceira via vai diminuir.

Qual será o discurso do presidente para a disputa do novo mandato?

A campanha será o presidente mostrar o que fez nos quatro anos e o que o PT fez nos 13.

O TSE decidiu que disparos de mensagens em massa que foram usadas na campanha do presidente em 2018 vão dar cassação de mandato e até cadeia em 2022. Como isso pode afetar a reeleição do presidente? Justiça Eleitoral tem meios de fazer punir ou é bravata?

O resultado do julgamento foi positivo para o presidente. Foi 7 a 0 (contra a cassação do mandato). As regras novas serão colocadas e todo mundo vai respeitar.

Até quando a disputa entre o senhor e o ministro Rogério Marinho sobre quem será o candidato de Bolsonaro ao Senado no Rio Grande do Norte permanecerá silenciosa? O senhor não se vê em desvantagem pelo fato de ele despejar recursos no Estado, distribuir tratores, cisternas e ter muito mais dinheiro no Desenvolvimento Regional?

A vantagem é boa para o Rio Grande do Norte que está recebendo investimentos, não sou contra ele mandar nada para o Estado. Também tenho feito o mesmo para o Brasil todo, somos ministros do Brasil, tem que ajudar todos os Estados. Quem vai escolher isso não sou eu nem ele (Marinho), é o povo. Pelo que ouvi do presidente ele não vai se meter nesse assunto e eu e Rogério teríamos que nos entender. Eu conversei com ele (Marinho). A gente vai decidir isso em março, porque o prazo de desincompatibilização é 7 de abril. A gente jogou para frente. Quem decide e elege não é o presidente, não sou eu nem ele. Vamos ver o que a população do Rio Grande está achando para no momento certo tomar a decisão.

O critério entre o senhor e Marinho será intenção de voto em pesquisa?

Meu critério é. Se eu vir que tenho condições e tiver aval por parte do presidente, vou em frente. É o que estou percebendo, estou achando que mesmo com menos recursos financeiros e de emendas (do que Marinho), a população tem gostado do meu trabalho. Se continuar desse jeito vou ser candidato.

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