Antes da nova crise que pressiona o presidente Jair Bolsonaro para indicar um titular para o Ministério da Saúde, o chefe interino da pasta, general Eduardo Pazuello, já havia sinalizado em conversas reservadas que tem interesse em voltar a assumir uma função no Comando Militar da Amazônia. General de três estrelas, ele não demonstra vontade em ir para a reserva para permanecer em definitivo no governo.
Apesar disso, mesmo sendo o motivo do recente entrevero envolvendo as Forças Armadas e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), Pazuello tem enfatizado que não vai pedir para deixar o Ministério da Saúde. O argumento, segundo interlocutores, é que ele foi convocado para uma missão e cabe ao presidente, chefe das Forças Armadas, a dispensá-lo.
Pazuello estava no comando do 12º Região Militar, que engloba Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima, quando aceitou no final de abril o convite para integrar o ministério como secretário-executivo do então ex-ministro Nelson Teich. Chegou em Brasília com 15 militares que o acompanham desde que atuou na Olimpíada do Rio de 2016.
Ao aceitar a “missão”, como Pazuello se refere à sua passagem na Saúde, ficou acertado com o presidente que ele e seu grupo ficariam entre 90 e 100 dias no governo. Com a saída de Teich, em 15 de maio, o general assumiu interinamente a pasta quando o País registrava 14.962 óbitos.
Atualmente, o Brasil contabiliza 75.523 mortes, segundo dados do consórcio de veículo de imprensa consolidados na quarta-feira, 15.
Até agora, segundo o Estadão, Bolsonaro não sinalizou que vai estender o período da “intervenção militar” no ministério. Com isso, militares que atuam com o ministro interino seguem trabalhando com a previsão de deixar os cargos na Saúde no máximo até setembro.
Pazuello não descarta estender sua permanência temporária no governo até o final do ano para reestruturar o ministério, se este for o pedido de Bolsonaro. Entretanto, sinaliza a interlocutores a vontade de reassumir o trabalho na 12.ª Região Militar, onde oficialmente segue no comando. A sala do general segue montada com nome na porta e objetos pessoais. Em viagem a Manaus, no fim de maio, ele chegou a levar algumas pessoas ao seu gabinete.
O problema é que o Alto Comando do Exército já designou, em 29 de junho, o general de divisão Edson Rosty para o posto. A nomeação de Rosty está prevista para ser oficializada no final deste mês, junto com as promoções do Exército. Antes, porém, precisa ser assinada por Bolsonaro. Apesar de não ser comum, até lá pode haver mudanças.
Segundo integrantes do Exército, Bolsonaro pode atuar para reconduzir Pazuello ao comando da 12ª Região Militar, mas não seria uma medida bem vista. Fato é que se o ministro interino da Saúde voltar à Força não ficará sem posição de destaque, principalmente após ter passado pelo governo e contar com o apreço do presidente da República.
Nesta quarta-feira, 15, Bolsonaro saiu em defesa de Pazuello nas redes sociais e elogiou a experiência do general em logística e administração. Na publicação, no entanto, não indicou qual será o futuro de Pazuello. “Pazuello é um predestinado, nos momentos difíceis sempre está no lugar certo pra melhor servir a sua Pátria. O nosso Exército se orgulha desse nobre soldado”, disse.
Pazuello é apontado por colegas de governo e secretários locais de saúde como mais influente e poderoso que Teich. Desde que assumiu o comando do ministério tomou várias decisões que atenderam as determinações de Bolsonaro. Em 20 de maio, o órgão publicou orientações para uso da cloroquina desde os primeiros sintomas do novo coronavírus, mesmo sem a droga apresentar eficácia contra a doença. O ministério também deixou de defender benefícios do distanciamento social e traçar estratégias sobre quarentena.
Segundo auxiliares do governo, Bolsonaro deve começar avaliar nomes para assumir o Ministério da Saúde após se recuperar da covid-19. Segundo integrantes do Planalto, a expectativa é ter uma definição sobre o comando da pasta até meados de agosto.
A substituição do interino, general Eduardo Pazuello, começa a ser discutida em meio ao mais novo embate entre as Forças Armadas e um integrante do STF. No sábado, 11, o ministro do Supremo Gilmar Mendes disse que o Exército estava se associando a um “genocídio” ao se referir à crise sanitária instalada no País com a covid 19. a. O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, reagiu e ingressou na terça-feira, 14, com uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Mendes.
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