Os participantes do Programa Mais Médicos no Piauí publicaram uma carta aberta repudiando as declarações da vice-governadora do Estado, Regina Sousa (PT-PI) que, ao retweetar a postagem de um professor em suas redes sócias na última terça-feira (28), chamou os médicos brasileiros de “racistas e xenofóbicos”.
Na carta, os profissionais afirmaram que no Brasil não faltam médicos e sim, “seriedade, honestidade e competência”, de gestores estaduais e municipais.
O texto diz ainda que “agredir toda uma classe, num momento tão crítico, com um discurso de vilanização por defender apenas o correto e o necessário para proteção de todos, é tão vil quanto hipócrita e aproveitador”.
- Foto: Lucas Dias/GP1A vice-governadora do Piauí, Regina Sousa, também marcou presença na comemoração
Carta na íntegra
“Carta aberta dos participantes do Programa Mais Médicos no Piauí à Vice-governadora Regina Sousa
Prezada Vice-governadora,
Convidamos vossa excelência a visitar os hospitais e UBS nos mais remotos cantos do estado e ir conosco ao CRM para assim mostrarmos que no Brasil não faltam médicos.
Queríamos mostrar, também, que o que realmente está escasso é seriedade, honestidade e competência por parte dos gestores municipais e estaduais - aqui incluímos o Governo do qual vossa senhoria faz parte. Esses sim são os verdadeiros responsáveis pela falta do mínimo, desde o aparato mais básico de uma UBS, à respiradores, carrinhos de parada, testes e até mesmo EPIs para a proteção dos profissionais da saúde. Some a isso os constantes atrasos salariais e calotes que todos nós médicos (do Programa Mais Médicos ou não) estamos acostumados a enfrentar no dia a dia da profissão, em especial no estado do Piauí.
É fácil e cômodo escrever em suas redes sociais, da segurança de sua casa, com suas contas pagas (com dinheiro advindo dos nossos suados impostos) que o problema da saúde brasileira é uma suposta falta de médicos e subentender que todos os problemas do Sistema Único de Saúde, relacionados ou não à COVID-19, fossem ser solucionados simplesmente com a abertura do país para profissionais, sejam eles brasileiros ou não (posto que o cerne da questão em momento algum foi ou será a nacionalidade de alguém), formados em outros países, sem a devida comprovação de sua capacidade laborativa por meio da revalidação formal do seu diploma.
Em nenhum país sério do mundo, que valorize minimamente a saúde de seus habitantes, é permitida o exercício da medicina sem a comprovação das habilidades e conhecimentos empregados à realidade daquele país e naquela língua, mesmo nos tempos mais sombrios.
Enquanto na quase totalidade dos países do mundo percebeu-se, em meio a tragédia de saúde pública que vivemos, a importância da medicina para uma sociedade e da devida valorização de todos os profissionais da saúde, alguns entes governamentais brasileiros insistem em nos agredir, nos diminuir, nos tipificar e principalmente nos julgar, sem ao menos entender (propositalmente ou não) a complexidade da situação.
Agredir toda uma classe, num momento tão crítico, com um discurso de vilanização por defender apenas o correto e o necessário para proteção de todos é tão vil quanto hipócrita e aproveitador.
Vossa senhoria, se pesquisar o mínimo sobre o assunto, saberá que o limitante maior dessa crise global não é a quantidade de médicos e sim de leitos em Unidades de Terapia Intensiva necessariamente bem equipadas, além de Médicos Intensivistas ou, ao mínimo experientes, na área, além de demais profissionais que trabalham nas UTIs. Os profissionais formados fora do país e que desejam atuar em terras brasileiras, em quase sua totalidade, não são dessa especialidade médica nem tampouco trarão em suas bagagens os equipamentos necessários para abertura de vagas de UTIs.
Portanto, se aproveitar do estado de calamidade pública para fazer lobby pela admissão e aceitação de profissionais sem CRM no país, é uma atitude, no mínimo, repugnante.
Ao invés de nos agredir, que tal fiscalizar os contratos absurdos que estão sendo feitos sem licitação e completamente fora da realidade? (Aqui citamos o contrato de 10 ambulâncias por mais de 1 milhão de reais, por exemplo). Que tal se revoltar com os 8 anos do atual governo que nada deixou além de diversas obras paradas e que pouco melhorou o nosso sistema de saúde estadual?
O verdadeiro preconceito é o que proferistes mais cedo em suas redes. Nós médicos não vamos aceitar qualquer discurso de ódio e ou desrespeito à classe! Já temos problemas demais para enfrentar no dia a dia graças aos políticos aproveitadores como a vossa senhoria. Enquanto pudermos trabalhar e brigar por melhores condições de trabalho e cobrar o governo, seja ele qual for, iremos!
Enquanto isso, seguiremos trabalhando sob duras penas, enfrentando um inimigo invisível nessa guerra diária, completamente desarmados, desprotegidos e desorientados graças à gestores como a vossa senhoria.
Queremos deixar claro, assim, que quaisquer médicos, de quaisquer especialidades ou nacionalidades, inclusive brasileiros, formados fora do território nacional, que queiram nos ajudar nessa difícil missão de cuidar da saúde da nossa população, que serão muito bem vindos e apoiados pelos colegas aqui já presentes, desde que passem pela devida comprovação necessária sob a forma vigente de revalidação do diploma médico, hoje conhecida como REVALIDA.”
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