Pelo menos 55% dos tuítes com a hashtag #BolsonaroDay publicados no dia das manifestações pró-governo de 15 de março vieram de perfis automatizados ou robôs, de acordo com levantamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). O estudo identificou 66 mil contas que, sozinhas, foram responsáveis por cerca de 1,2 milhão de postagens.
A pesquisa, coordenada pelas professoras Isabela Kalil (FESPSP) e Marie Santini (UFRJ), aponta que os robôs que usaram a hashtag #BolsonaroDay publicaram, em média, 700 tuítes no dia 15 de março. As contas automatizadas mais ativas chegaram a postar mais de 1,2 mil tuítes nessa data.
A grande quantidade de tuítes por conta em apenas um dia é um indício claro de automação. De acordo com o estudo, usuários comuns publicam de três a dez vezes no Twitter por dia, enquanto humanos mais ativos postam até 50 tuítes por dia.
A hashtag #BolsonaroDay foi a mais utilizada no Twitter no dia 15 de março. O estudo mostra a formação de uma “tropa cibernética” com uso expressivo dos chamados robôs e ciborgues. Os primeiros são contas que publicam, de forma automática, mensagens escritas com uso de inteligência artificial; os segundos, perfis que postam tuítes elaborados por humanos, mas também de maneira automatizada.
“As chamadas ‘tropas cibernéticas’ ou exércitos virtuais são comumente utilizados nas redes sociais para ativar a militância online a favor do governo e falsificar a opinião pública”, afirma a pesquisa. “Isso afeta a cobertura jornalista e cria túneis de realidade para os usuários das redes sociais”.
Para identificar as publicações de perfis inautênticos, os pesquisadores utilizaram o software Gotcha, desenvolvido pelo Laboratório de Microssociologia e Estudo de Redes (NetLab) da UFRJ, em parceria com a Twist System, uma startup de ciência de dados. O índice de acerto é 80%.
Temas mais utilizados pelas ‘tropas virtuais’ de Bolsonaro
O estudo também analisou tuítes com as 30 principais hashtags de apoio ao presidente Jair Bolsonaro entre 1º de janeiro e 15 de março de 2020. Os pesquisadores identificaram alguns padrões de comportamento nas postagens. Um deles é o de “campanha permanente”: isso significa adotar métodos de campanha mesmo fora do período eleitoral, com uso da militância virtual para atacar adversários.
“O objetivo dessa forma de comunicação, marcada por informações enganosas e exaltação de si, é provocar o “contágio” emocional e respostas viscerais do público – como raiva, medo, desorientação, negacionismo e indignação”, afirmam os pesquisadores.
Entre as hashtags utilizadas nesse discurso estão #Bolsonaro2022 e #BolsonaroPresidenteAté2026. “O volume de uso das hashtags da campanha permanente no Twitter se mantém homogêneo ao longo das semanas e dos meses do ano desde seu surgimento”, informa o estudo. “Evidências de uma ação de comunicação planejada, orquestrada e automatizada”.
Outro padrão de comportamento apontado na pesquisa é o de chamamento para os atos 15 de março, com utilização de hashtags como #CongressoInimigodoBrasil e #Dia15EuVou. As mensagens publicadas no Twitter incentivavam a participação das manifestações de rua, mesmo contrariando recomendações para evitar contágio pela covid-19. Para tanto, as postagens se valiam da figura do patriota, uma pessoa que estaria disposta a “morrer pelo País”.
Os autores do estudo apontam que a decisão dos humanos de participarem dos atos pró-governo pode ter sido orientada pela falsa percepção de adesão expressiva à pauta do 15M nas redes. “Ainda que os robôs não possam votar ou transmitir doenças, sua atuação nas redes sociais (ao se confundirem com usuários comuns), pode orientar o comportamento dos humanos e alterar de maneira significativa a tomada de decisão ou o comportamento”, diz a pesquisa.
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