O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), negou nesta quarta-feira, 30, ter vazado qualquer informação das investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes. Acusado do vazamento pelo presidente Jair Bolsonaro, Witzel afirmou que nem mesmo teve acesso a documentos do caso, que corre em segredo de Justiça.
Ele lamentou que o presidente, “num momento talvez de descontrole emocional”, tenha feito acusações a ele. Disse esperar um pedido de desculpas como o que foi dirigido pelo presidente ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela publicação do vídeo em que é comparado a um leão atacado por hienas. Uma delas é a Corte suprema.
“Eu jamais vazei qualquer tipo de documento. (Nem) sequer tive acesso a documentos que constem dessa investigação. Se esse documento vazou, como foi apresentado ontem por uma emissora de televisão, que a Polícia Federal investigue”, afirmou o governador.
“Se está no Supremo Tribunal Federal pode ter vazado ali dentro, em qualquer outro órgão. Tem que ser investigado. A investigação pode ser da PF, até porque há interesse da União, e eu estou à disposição”, disse durante a inauguração do programa Segurança Presente, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Ao rebater as declarações de Bolsonaro, Witzel disse que recebeu “com muita tristeza” o que classificou de “levianas acusações”. Ele mencionou por diversas vezes sua carreira na magistratura e chegou a dizer que em 17 anos nunca vazou nada, “muito menos interceptação telefônica”. Era uma referência indireta ao suposto vazamento de ligações pelo atual ministro Sérgio Moro enquanto juiz da Lava Jato. O governador do Rio destacou que respeita as instituições. Disse esperar que Bolsonaro reflita e peça desculpas ao povo do Rio de Janeiro.
“Não manipulo o Ministério Público, não manipulo a Polícia Civil. Isso é absolutamente inadequado, contrário às instituições democráticas. A Polícia Civil no meu governo tem independência, o Ministério Público tem e sempre terá independência e, infelizmente, eu recebi com muita tristeza essas levianas acusações”, disse.
De acordo com a reportagem exibida no Jornal Nacional, da TV Globo, um porteiro do condomínio de Bolsonaro, no Rio, afirmou à Polícia Civil que, às 17h10 do dia 14 de março de 2018 (horas antes do crime), um homem chamado Elcio (que seria Elcio Queiroz, um dos acusados pelo duplo homicídio) entrou no condomínio Vivendas da Barra dirigindo um Renault Logan prata.
Ele afirmou que iria à casa 58, que pertence a Bolsonaro e onde morava o hoje presidente, na época deputado federal. Ronnie Lessa, outro acusado pelo crime, era vizinho do presidente, na casa 65. Teria sido à casa dele que Elcio para a qual teria se dirigido.
Conforme registros da Câmara, entretanto, o então deputado estava em Brasília. Em uma transmissão em vídeo nas redes sociais na noite de terça-feira, Bolsonaro, que está no exterior, criticou fortemente a reportagem. Também atribuiu o vazamento de informações do inquérito a Witzel, seu adversário político e aspirante a candidato à presidência em 2022.
O clima entre Bolsonaro e Witzel azedou recentemente, depois que o governador manifestou, em mais de uma ocasião, que quer disputar a eleição presidencial. Em evento no Rio, em outubro, Bolsonaro citou “inimigos internos”, mirando o governador. Na transmissão ao vivo realizada na noite de terça-feira, de um hotel na Arábia Saudita, o presidente citou Witzel diversas vezes. Disse que ele só se elegeu por ter ficado, na campanha eleitoral, “colado” a seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL).
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