A Polícia Federal concluiu, nesta segunda-feira (26), que o presidente Michel Temer praticou o crime de obstrução de Justiça. O novo relatório foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
A PF apontou que Temer “embaraçou a investigação” ao “incentivar” a manutenção de “pagamentos ilegítimos” ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e ao não ter acionado as autoridades competentes quando ouviu o empresário Joesley Batista, da JBS, dizer que estava “comprando” e “segurando” um procurador e dois juízes.
As constatações são baseadas na conversa gravada entre Michel Temer e Joesley, num encontro não oficial ocorrido na noite do dia 7 de março, no Palácio do Jaburu. O empresário gravou secretamente o diálogo e entregou o áudio à Procuradoria-Geral da República para conseguir fechar o acordo de delação premiada, que, no fim, concedeu-lhe imunidade penal para todos os crimes confessados até aquele momento.
O áudio foi periciado pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC) da PF, que afastou a possibilidade de adulteração nos arquivos em laudo anexado na sexta-feira (23) — a defesa do presidente questionava a integridade das gravações. O relatório e o laudo foram incluídos no processo que investiga o presidente pelos crimes de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa, instaurado a partir do acordo de colaboração da JBS.
- Foto: Dida Sampaio/Estadão ConteúdoMichel Temer
Na conversa, Joesley fala sobre iniciativas que estaria tomando em relação a Eduardo Cunha. O executivo diz que havia “zerado as pendências” e que estava “de bem” com o deputado cassado. Michel Temer, então, responde: “É, tem que manter isso, viu?”. Este trecho foi transcrito pela PF.
Em outro momento, Temer responde “ótimo, ótimo” ao ouvir Joesley afirmar que estava “comprando” um procurador do Ministério Público Federal e “segurando” dois juízes que atuavam em operações que o investigavam na Justiça Federal de Brasília.
O relatório da PF também pede que os ministros do STF decidam se o peemedebista deve ser incluído como investigado no inquérito 4327 do Supremo, que apura os crimes de organização criminosa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro supostamente cometidos por integrantes do chamado “PMDB da Câmara” em contratos de estatais, especialmente a Caixa Econômica Federal.
Entre os investigados estão aliados de Temer, como os ex-deputados federais Eduardo Cunha e Henrique Alves, o líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE), além do operador financeiro Lúcio Bolonha Funaro.
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