A Polícia Civil do Piauí realizou uma entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira (19) para dar detalhes sobre a investigação envolvendo o duplo assassinato no município de São Raimundo Nonato, ocorrido em 06 de fevereiro deste ano, que terminou com 3 pessoas presas e 2 foragidos, após as apurações feitas pelo Departamento de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (DRACO), por meio do delegado Eduardo Aquino.
As vítimas, identificadas como Erinelton Pereira de Sousa, vulgo Netinho, e Mauro César Aguiar dos Santos, eram integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e foram mortas por membros do próprio PCC.
Dos cinco envolvidos no duplo homicídio, três estão presos: Everaldo Ferreira, vulgo Caçador; Deilton dos Santos Dias, vulgo Neném; e Melba Kaliane Ribeiro Damasceno. Os foragidos são: Pedro Nonato Ferreira da Cruz, vulgo Pilty, (companheiro de Melba) e João Victor Borges de Oliveira, vulgo Maguim.
Motivação
Conforme informações do delegado Eduardo Aquino, o crime teve relação com a disputa por pontos de drogas entre os membros da facção PCC. “Hoje no Piauí e a nível nacional há um conflito interno no PCC em que eles estão em disputa por pontos de vendas de entorpecentes. Está havendo essa disputa e aqui no Piauí ela está intensificada em Morro Cabeça no Tempo, São Raimundo Nonato, Curimatá e Avelino Lopes, no extremo Sul. Essas são as cidades por onde o PCC chegou ao Piauí”, explicou.
“A atuação do PCC dentro dessas cidades é de duas famílias: os ‘Brancos’ e os ‘Marotos’. Os marotos são de Pilão Arcado, na Bahia, e são chefiados por um homem conhecido como Vei ou Veinho de Goiás. Já a outra família, os Marotos, os membros eram chefiados por Flex Pereira Lacerda, que tinha 41 anos, e foi morto em dezembro de 2023, em Osasco, São Paulo”, completou Aquino.
A morte de Flex foi o que desencadeou os assassinatos, segundo o delegado Eduardo Aquino ressaltou. “O Flex estava em São Paulo foragido do sistema prisional, e em dezembro foi morto em um salão de beleza, esse foi o pano de fundo para essa matança que está ocorrendo, porque uma das vítimas, Erinelton Pereira de Sousa, foi identificado dentro da facção como a pessoa que teria entregue o Flex em São Paulo. Todos eram amigos e trabalhavam juntos dentro do tráfico de drogas no PCC”, declarou.
“Quando a facção pelo lado dos brancos identificou que o Netinho era um traidor e havia entregado o Flex, resolveu matá-lo e bolou um plano”, pontuou o delegado Eduardo Aquino.
Emboscada
Ainda de acordo com a Polícia Civil, Erinelton foi atraído por Pedro Nonato Ferreira da Cruz até a cidade de São Raimundo com objetivo de comprar uma arma. “Eles atraíram o Netinho, juntamente com Mauro, sob o pretexto de que ele pudesse adquirir uma arma. O Pilty negociou com ele uma pistola Glock. Assim, Netinho, Mauro e uma adolescente de iniciais J.M.S., de 17 anos, foram recebidos por Deilton dos Santos, que foi a pessoa encarregada pelo Pilty para atrair o Netinho para a morte, inclusive, a casa onde ocorreu o homicídio pertence a Deilton, o Neném”, contou Aquino.
“A agente identificou que por volta as 23h30, Deilton recebeu o Mauro, Netinho e a menor. O Netinho entregou a arma da negociação ao Neném e foi até a casa de Pilty levar esse revólver para completar a negociação”, explicou Eduardo Aquino.
O que Erinelton não contava era que na ocasião da suposta entrega da arma de fogo, ele seria assassinado com requinte de crueldade, no dia seguinte.
Acusados
O delegado Eduardo Aquino explicou a atuação dos envolvidos no duplo homicídio: “Foram identificadas cinco pessoas envolvidas no crime: Pedro Nonato Ferreira da Cruz, vulgo Pilty, que é extremamente perigoso, com diversas passagens criminais, inclusive, por homicídios e roubos a bancos; João Victor Borges de Oliveira, de 23 anos, com mandado de prisão por homicídio em Canto do Buriti, conhecido como Maguim ou Baianin, também extremamente perigoso e violento; Everaldo Ferreira, vulgo Caçador, do núcleo de disciplina do PCC na região de São Raimundo Nonato, que estava foragido do sistema prisional desde 2017 e foi preso dois dias após o crime, na zona rural de São Raimundo Nonato; Deilton dos Santos Dias, o Neném, proprietário da residência onde o crime ocorreu e que foi o responsável por levar as vítimas até o local, também com diversas passagens criminais e, por fim, identificamos uma mulher, Melba Kaliane Ribeiro Damasceno, de 20 anos, companheira do Pilty, que prestou apoio logístico para execução do crime”, elencou.
Relação entre mortes em São Raimundo Nonato e Avelino Lopes
Segundo o delegado do DRACO, as mortes registradas nesse final de semana, a exemplo do que ocorreu em São Raimundo Nonato, também decorrem de um derramamento de sangue organizado pelos próprios membros do PCC.
“Todos os casos estão interligados devido a essa guerra instaurada pelo PCC, essa briga interna da facção. Então, depois da morte do Flex, que ocorreu em São Paulo, foi identificado que a pessoa de nome Erinelton, vulgo Netinho, teria dado a localização do Flex, que acabou sendo morto em São Paulo. Então, um grupo do próprio PCC se organizou para matar o Netinho. O Pilty, que era muito ligado ao Flex, organizou a morte do Netinho junto com seus comparsas e, após o crime, outro grupo do PCC também resolveu agir em retaliação. Esse outro grupo pegou o terceiro nome na hierarquia dos “brancos”, que seria o Paçoca, e o mataram lá na cidade de Avelino Lopes. Posteriormente, vieram outras mortes, sempre motivadas por retaliação. Tanto de um lado como do outro, dos dois grupos que estão brigando pelo domínio do tráfico de drogas dentro do PCC. O DRACO deve permanecer lá pelo povo pelo menos 30 dias. A gente já recebeu determinação do delegado geral, do nosso coordenador, para que a gente intensificasse não só o trabalho investigativo nessa região, mas que a gente realizasse o trabalho ostensivo, com operações em toda essa região, saturando o máximo possível e acabar com esse derramamento de sangue”, explicou o delegado Eduardo Aquino.
Foragidos
O delegado geral da Polícia Civil do Piauí, Luccy Keiko, destacou que a população pode auxiliar as forças de Segurança Pública, denunciando o paradeiro dos dois únicos foragidos, Pedro Nonato Ferreira da Cruz Júnior e João Victor Borges de Oliveira.
“Eu quero ressaltar toda a narrativa apontada pelo delegado Eduardo Aquino de que uma morte ocorrida em São Paulo, desencadeou outros homicídios no Piauí. Nós apresentamos as imagens do foragido para que essas pessoas são identificadas e a população possa auxiliar, também, na captura desses indivíduos”, completou o delegado geral da Polícia Civil do Piauí, Luccy Keiko.
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