Em carta aberta divulgada nesta segunda-feira (24), o jornalista Tony Trindade disse que sua prisão, realizada no último dia 18 pela Polícia Federal, foi “um grande mal-entendido”. Na carta, o apresentador da Band disse que prestou depoimento e que respondeu a todas as perguntas feitas pelos investigadores.
A prisão do jornalista foi efetuada durante a Operação Acesso Negado, cujo jornalista é acusado de atrapalhar as investigações da Operação Delivery, que investiga desvio de recursos do Fundeb destinados à Prefeitura de União.
- Foto: Reprodução/FacebookTony Trindade
“Prestei depoimento, respondi a todas as perguntas que me foram feitas, sem tergiversar. Entreguei voluntariamente as senhas do meu celular, do meu notebook, do meu e-mail, liberei minhas contas bancárias e qualquer outro sigilo que venham a precisar como ajuda à elucidação do que considero ter sido um grande mal-entendido. Disse-lhes que tudo está aberto. Fiz tudo sem precisar que me pedissem”, disse.
Tony destacou ainda sua atuação na área de marketing político e negou que sua atuação tinha como objetivo monitorar a investigação, mas sim monitorar como as notícias eram veiculadas nos meios de comunicação. “Certamente por não saber de minha atuação na área de marketing político, quando eu dizia que monitorava a situação, em lugar de compreender que se tratava de monitoramento das notícias veiculadas nos meios de comunicação, pensaram se tratar de monitoração das investigações’, continuou.
O jornalista reiterou que não tem e não teve nenhuma informação privilegiada e que não repassou qualquer informação para possíveis alvos da Polícia Federal. Tony disse que apenas fez seu trabalho como assessor e tentou proteger a imagem de seus clientes.
“Quando eu tentava tranquilizar meus clientes, que estavam muito ansiosos, pedindo calma e reconfortando com afirmações de que nada lhes aconteceria, imaginaram que eu teria informações privilegiadas de que eles não seriam presos. A Polícia Federal, no claro mal-entendido que sabemos ter acontecido, vislumbrou por esse diálogo que eu pudesse ter acesso, contato, privilégio de informação interna que viria a beneficiar outrem. Não tenho e nunca tive qualquer informação privilegiada, contato ou fonte junto à polícia. Nunca fiz monitoramento de investigação, pois meu trabalho é apenas com a imprensa e proteção da imagem de meus clientes”, afirmou.
Lei a carta de Tony Trindade na íntegra
"Certamente você foi informado dos últimos fatos que envolveram meu nome, tendo sido alvo de uma ação da Polícia Federal, que culminou com minha prisão. Sem deixar de destacar: prisão preventiva.
O que, também certamente, você não sabe são os detalhes desse episódio, o que favorece a muitas especulações e, infelizmente, conclusões equivocadas, notadamente dos que nutrem sentimentos de maldade. Os que não controlam o sentimento de inveja. Isso não é de hoje, comigo.
A prisão teve como base a suspeita, por parte da PF, de que eu monitorava e tinha acesso a informações privilegiadas relacionadas a operações da Polícia Federal e de outras instituições policiais e que, ao mesmo tempo, repassava-as aos seus possíveis alvos.
Prestei depoimento, respondi a todas as perguntas que me foram feitas, sem tergiversar. Entreguei voluntariamente as senhas do meu celular, do meu notebook, do meu e-mail, liberei minhas contas bancárias e qualquer outro sigilo que venham a precisar como ajuda à elucidação do que considero ter sido um grande mal-entendido. Disse-lhes que tudo está aberto. Fiz tudo sem precisar que me pedissem.
Até hoje, mesmo depois de tudo, permanecem as perguntas: Qual informação privilegiada, em específico, eu teria monitorado? E quem foi beneficiado por essa suposta informação privilegiada?
Ao longo dos meus mais de 35 anos de carreira todos sabem que não me restringi à atividade jornalística. Desde cedo fui forjado no trabalho. Meu primeiro emprego, no rádio, foi aos 14 anos e na Tv aos 16. Paralelamente à atuação honrosa de noticiar, pude atuar na montagem e instalação de emissoras de rádio e Tv, fui diretor de várias delas, já apresentei programas eleitorais e, por conseguinte, passei a atuar mais profundamente em assessorias de comunicação, marketing político e gerenciamento de crise de imagem. É exatamente em um desses casos que Polícia Federal se apega, eu creio.
Com a prisão do ex-secretário de Educação do município de União, em maio, após a apreensão de vultosa quantia em dinheiro, encontrado em carro da referida secretaria, foram encontrados diálogos que mantive com o mesmo (e ressalte-se: mantinha também com os demais membros da gestão municipal da cidade) em mensagens de WhatsApp. Fato comum, rotineiro.
Os diálogos objetivavam orientar o secretário a adotar postura que evitasse maior desgaste da imagem da gestão municipal, já que o fato era de grande repercussão.
A Polícia Federal jogou luz sobre palavras como “monitoramento”, “intimidação da oposição” e minha reprimenda a uma nota que foi divulgada pela secretaria de educação, de forma atabalhoada, que mais confundia que explicava sobre o episódio. Ficou em destaque ainda a minha pressa em fazer um carro de som rodar na cidade, com texto que tinha como finalidade acalmar a população e dar salvaguarda ao prefeito, eximindo-o, em princípio, de qualquer vínculo com tal episódio. Certamente por não saber de minha atuação na área de marketing político, quando eu dizia que monitorava a situação, em lugar de compreender que se tratava de monitoramento das notícias veiculadas nos meios de comunicação, pensaram se tratar de monitoração das investigações.
Quando eu tentava tranquilizar meus clientes, que estavam muito ansiosos, pedindo calma e reconfortando com afirmações de que nada lhes aconteceria, imaginaram que eu teria informações privilegiadas de que eles não seriam presos. A Polícia Federal, no claro mal-entendido que sabemos ter acontecido, vislumbrou por esse diálogo que eu pudesse ter acesso, contato, privilégio de informação interna que viria a beneficiar outrem. Não tenho e nunca tive qualquer informação privilegiada, contato ou fonte junto à polícia. Nunca fiz monitoramento de investigação, pois meu trabalho é apenas com a imprensa e proteção da imagem de meus clientes.
Tenho certeza que hoje, diante do que já foi esclarecido, eles têm a convicção que houve uma distorção e uma superestimação da atividade que é desenvolvida por mim no campo do marketing eleitoral.
O que aconteceu não tem volta. Cada segundo vivido, sofrido, está em minha memória. Falarei sobre isso depois. Já escrevo um livro sobre tudo. O inquérito segue, não sou o alvo dele. Diria: “fui inserido equivocadamente”. Espero não somente absolvição, mas sequer ser acusado. Espero ser retirado desse processo. Espero encontrar, a bem da democracia, da preservação do estado de Direito, da liberdade de imprensa e do direito a ampla defesa, que esse equívoco não prossiga em relação a mim. Sou um trabalhador. Sou cristão, filho, marido, pai, avô. Sou de classe média, endereço fixo e sem qualquer condenação, zeloso por minha imagem e por minha reputação. Ainda estou ferido e tentando superar o trauma e o golpe que sofri em minha imagem, construída no decorrer de uma vida inteira de trabalho e ética. Não há, no entanto, de minha parte, ódio, mágoa ou sentimento de revanchismo.
Sigo tentando entender as razões que moveram os agentes públicos, que estavam fazendo seu trabalho a partir das convicções e dados que tinham naquele momento. Espero que eles, igualmente, compreendam que eu também apenas fazia meu trabalho de assessoria de comunicação, nos limites da lei e de minhas convicções. Não há motivo para baixar a cabeça, nem me envergonhar por nada. Permaneço firme, porque sei que Deus tem um propósito, ainda não consolidado, para mim. Estou no descanso do senhor.
Seria um tolo se não tirasse uma grande lição de tudo o que passei e estou passando. Deus está me conduzindo. Alma leve, coração elevado, certeza da inocência. Nada melhor que isso.
Agradeço a minha esposa Lêda, aos meus filhos, aos familiares, aos irmãos e amigos que foram a minha fortaleza durante a passagem por mais esta provação. Minha gratidão aos advogados que, de forma competente, atuaram em minha defesa. Agradeço a forma respeitosa como a verdadeira imprensa do Piauí tratou todo o episódio.
Agradeço meus companheiros de trabalho, irmãos de luta diária. Agradeço aos meus irmãos cristãos, aos amigos diretores da Band Piauí pela reiterada demonstração de confiança. Obrigado a OAB Piauí, ao Sindicato dos jornalistas. Obrigado as milhares de manifestações de apoio que ainda hoje estou recebendo dos meus leitores, ouvintes e telespectadores.
Agradeço imensamente ao Sistema O Dia, em particular a Dr. Valmir Miranda e ao nosso Diretor Sérgio Miranda, que nunca duvidaram de minha inocência e, como prova, mantiveram minha coluna em circulação, escrita pela minha equipe, tal qual fez a Band, ao manter meus programas no ar, com a mesma liberdade editorial.
Sigo a disposição dos policiais e da justiça.Foram três dias e três noites que jamais sairão de minha memória. E sei que apenas uma batalha foi vencida. Nada tenho a esconder. Estou ainda mais forte, pois tudo aquilo que não mata, fortalece".
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