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Tony Trindade monitorou ilegalmente operação e manipulou testemunhas, diz PF

O jornalista foi preso na manhã de hoje durante a Operação Acesso Negado. Ele é acusado de atrapalhar o andamento das investigações da Operação Delivery.

A Polícia Federal realizou coletiva de imprensa, na manhã desta terça-feira (18), com intuito de detalhar a “Operação Acesso Negado”, deflagrada na manhã de hoje e que teve como alvo principal o jornalista Tony Trindade, que se encontra preso na sede da PF. Participaram da coletiva, a superintendente da Polícia Federal no Piauí, Mariana Paranhos e o delegado Alan Reis, que presidiu as investigações que culminaram na ação de hoje.

A Operação Acesso Negado foi um desdobramento da Operação Delivery, ação esta que apura desvio de recursos públicos do Fundeb destinados à Prefeitura de União, que tem como gestor o prefeito Paulo Henrique, cujo Tony Trindade é assessor de comunicação. O jornalista é acusado pela PF de atrapalhar o andamento das investigações da Operação Delivery. Foram cumpridos mandados na residência de Tony Trindade e em outros endereços ligados a ele e a dois advogados.


  • Foto: Reprodução/FacebookTony TrindadeTony Trindade

O delegado Alan Reis, responsável por conduzir a Operação Acesso Negado, afirmou que foi realizado por parte de Tony Trindade “monitoramento indevido, ilegal, encontros obscuros e acessos indevidos a processos sigilosos” e que ele ainda tentou “manipular” testemunhas com intuito de minimizar as investigações da Operação Delivery. Outros dois advogados, cujos nomes não foram revelados, são acusados de ajudar o jornalista na obtenção de informações sigilosas da PF.

“Jornalista [Tony Trindade] e advogados realizaram monitoramento indevido, ilegal, encontros obscuros, acessos indevidos a processos sigilosos, apresentaram e tentaram manipular versões de testemunhas e atos intimidatória a fim de minimizar as investigações. A operação visa reprimir qualquer tentativa de embaraçamento em qualquer investigação, de qualquer que seja da Polícia Federal ou Polícia Civil”, afirmou o delegado.

  • Foto: Lucas Dias/GP1Carro com o jornalista Tony Trindade chega a sede da Polícia FederalCarro com o jornalista Tony Trindade chega a sede da Polícia Federal

Alan Reis explicou que os advogados não tiveram a prisão decretada pois a ação delituosa dos dois foi apenas de busca indevida a processo judicial, diferente de Tony Trindade, que teria agido diretamente contra a Operação Delivery. “A ação delituosa foi um ato, por isso somente buscas, o acesso indevido a processo judicial de caráter sigiloso. A gente entende que isso não foi motivo de preventiva porque não foi reiterado, diferente do jornalista”, explicou.

“Resguardar a investigação”

O delegado da Polícia Federal afirmou que a ação da PF de hoje teve o intuito de resguardar informações da Operação Delivery. “A gente trabalha com provas e não achismo. A partir do momento temos informação que teve vazamento, a Polícia Federal em nenhum momento se furta em trabalhar dentro da legalidade. As medidas que foram cumpridas, foram porque a Polícia Federal entendeu que eram necessárias para resguardar a investigação”.

  • Foto: Lucas Dias/GP1Residência do jornalista Tony TrindadeResidência do jornalista Tony Trindade

O que de fato fez Tony Trindade?

Segundo o delegado Alan Reis, Tony Trindade estava obtendo informações de caráter sigiloso, bem como orientando os investigados da Operação Delivery na tentativa, segundo a PF, de “manipular as provas a serem juntadas no inquérito”.

“A gente apresentou à Justiça de forma bem clara com provas de que esse jornalista estava realizando monitoramento diário das investigações, estava obtendo informações de caráter sigiloso, onde só seria possível através de um acesso ao processo judicial, que é sigiloso. Essa mesma pessoa estava orientando um dos investigados para que se reunisse com testemunhas e outros investigados para que apresentassem depoimentos convergentes, que demonstra a intenção de manipular as provas a serem juntadas no inquérito. Ele fala em atos intimidatórios, é uma coisa forte você falar isso no intuito de minimizar as investigações. Ainda vamos investigar se é para intimidar a polícia ou a população. Os dois advogados que foram alvo de busca tentaram acessar de forma ilegal processos judiciais, mas o ato deles foi só isso. É grave, mas não tanto como os fatos como o do jornalista”, detalhou o delegado Alan Reis.

O integrante da PF ainda justificou a decretação da prisão preventiva de Tony Trindade. “A prisão preventiva é um instituo jurídico que não tem prazo e visa garantir a ordem pública. Corre sim o risco do investigado, inclusive por ter um histórico e tentativa de interferência ser reincidente e atrapalhar a investigação em curso”, destacou.

Provas descartadas

Conforme o delegado Alan Reis, os investigados da Operação Delivery foram avisados antecipadamente da ação policial, e por esta razão, provas foram destruídas. “O que a gente percebeu é que foram depoimentos convergentes [dos investigados da Delivery]. Uma mesma versão apresentada de forma bem pontual e uma situação peculiar que ocorreu foi que, na data que a gente protocolou pedidos à Justiça, nesta mesma data os investigados foram informados que haveria operação. O que prejudica bastante o trabalho policial, houve destruição de provas, celulares que foram descartados. Devido a atos de um dos investigados o trabalho da polícia foi atrapalhado”.

Como ocorreu o acesso

“O servidor tem acesso a senha e processos sigilosos tem acesso mais ainda. A investigação com análise do material, com as oitivas, tem como objetivo saber como ocorreram os acessos e que nível tais acessos ocorreram também”, contou Alan.

O delegado reiterou que Tony Trindade realizou encontros com investigados da Delivery no intuito de manipular depoimentos. “Não foi só esse monitoramento. Não foi um ato pontual que ocorreu. A reiteração do monitoramento de uma investigação judicial com acesso indevido a um acesso judicial sigiloso, estar se encontrando com investigados a fim de manipular. Isso é gravíssimo. Você não sabe se o agente público foi identificado. A polícia não está aqui para passar a mão na cabeça de ninguém, seja jornalista, advogado ou servidor público”.

Oito anos de cadeia

De acordo com a superintendente da Polícia Federal no Piauí, Mariana Paranhos, os investigados da Operação Acesso Negado podem pegar até 8 anos de prisão.

“Até o momento já foram identificadas participação de advogados e jornalista, além dos beneficiários com essa estratégia. A conduta é grave, a pena pode chegar a 8 anos de prisão. O vazamento de informação sigilosas coloca em risco o processo policial, mas também coloca em risco a vida e a integridade física dos envolvidos em cada uma das etapas da investigação”, ressaltou a superintendente.

  • Foto: Lucas Dias/GP1Superintendente Regional da Polícia Federal, Mariana ParanhosSuperintendente Regional da Polícia Federal, Mariana Paranhos

“Direito de informar e ser informado é defendido por lei e a Polícia Federal vai defender sempre. O que a gente não coaduna é com a ilegalidade. Informações sigilosas só podem ser acessados por aqueles que tem credencial e segurança, fora isso é crime e é isso que está sendo investigado nessa operação”, finalizou Mariana.

Jornalista nega acusações

A assessoria de imprensa do jornalista Tony Trindade encaminhou uma nota ao GP1 na manhã desta terça-feira (18) expondo os esclarecimentos do apresentador quanto ao ocorrido. Tony explicou no texto que, na qualidade de apresentador de programa de televisão e colunista de jornal, se restringiu apenas a fazer seu dever de jornalista e formador de opinião, ao divulgar detalhes da Operação Delivery da PF, que investiga desvios de recursos públicos destinados à educação da cidade de União.

Ele acredita que o mandado de prisão preventiva seria a título de frear a divulgação de informações. Para Tony, “soa descabido e desproporcional, uma vez que o jornalista sequer foi ouvido pela autoridade policial antes da condução”.

Confira a nota na íntegra:

“A assessoria de imprensa do jornalista Tony Trindade considera oportuno esclarecer fatos a respeito da Operação “Acesso Negado”, deflagrada nesta terça-feira (18) pela Polícia Federal, em Teresina, Monsenhor Gil e União e que resultou na prisão preventiva do jornalista.

Conforme nota divulgada pela própria PF, a operação investiga “atos ilegais de intervenção/embaraçamento” à investigação de desvios de recursos públicos destinados à educação na cidade de União, cabe ressaltar que na qualidade de apresentador de programa de televisão e colunista de jornal, Tony Trindade ao veicular fatos da operação, apenas fez o seu dever de jornalista e formador de opinião.

O mandado de prisão preventiva a título de frear a divulgação de informação soa descabido e desproporcional, uma vez que o jornalista sequer foi ouvido pela autoridade policial antes da condução.

É temoroso ao exercício profissional, que jornalistas sejam presos por relações com suas fontes, relações essas que são asseguradas pela própria Constituição Federal.

Tony Trindade coloca-se à disposição das autoridades, certo de que atos ilegais não prosperarão com o aval da justiça”.

Assessoria de imprensa

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