O vereador e vice-presidente da Câmara Municipal de Nazária, Cícero da Silva Rocha (MDB), preso acusado de integrar um grupo criminoso que aplicava golpes com a falsa promessa de emprego, já está em liberdade. A decisão foi dada pelo juiz Valdemir Ferreira Santos, da Central de Inquéritos de Teresina, na última terça-feira (09).
O magistrado ressaltou que não ficou comprovado nos autos que as medidas cautelares seriam insuficientes para evitar a reiteração delitiva e assegurar a ordem pública não se mostrando mais razoável a manutenção da prisão apenas pelo cometimento, em tese, do crime mencionado.
Foi então revogada a prisão preventiva mediante o cumprimento das seguintes medidas cautelares: proibição de ausentar-se da Comarca sem autorização judicial; realização de cadastro e atendimento psicossocial por videochamada, na Central Integrada de Alternativas Penais (CIAP) para a fiscalização do devido cumprimento das medidas cautelares impostas; e comparecimento obrigatório sempre que intimado.
Prisão
O vereador Cícero Rocha e outras duas pessoas, Raimundo Lopes Bezerra Filho e Wanderson Fernandes Lima Negreiros, foram presos no dia 2 de abril deste ano por equipes do 6º Distrito Policial, comandada pelo delegado Odilo Sena, durante a Operação Vaga Fantasma. Todas as prisões foram preventivas e decretadas pelo juiz Valdemir Ferreira Santos.
Raimundo Lopes foi preso em Teresina e Wanderson Fernandes, em Fortaleza, no estado do Ceará. Um quarto alvo identificado como Danilo Ferreira, falso corretor de veículos, continua foragido.
A operação contou com o apoio do Departamento de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (DRACO) e da Polícia Civil do Ceará.
Como funcionava o golpe
Em entrevista à imprensa, o delegado Odilo Sena explicou que a associação criminosa se aproveitava de pessoas que estavam desempregadas ou na eminência de perder o emprego para orquestrar o crime, que lesava não somente as pessoas físicas, como também revendedoras de veículos e, ainda, as financeiras, que concediam os valores financiados sem saber que estavam caindo em um golpe. “Na verdade, existia um esquema que usava os dados de pessoas físicas, no caso, de pessoas que estavam desempregadas ou em vias de ser demitidas, existia a questão também das revendedoras de veículos e os bancos. Essas três pontas eram as vítimas desse golpe. Era um triplo golpe, em que as pessoas físicas ficavam com restrição, os donos das empresas perdiam os seus veículos e os bancos perdiam os valores emprestados e, por fim, os golpistas ainda ficavam com os veículos”, explicou o delegado Odilo Sena.
“Essas pessoas desempregadas emprestavam seus dados na finalidade de conseguir o emprego. O ardil se baseava numa vaga de emprego e essas pessoas disponibilizavam os dados, CPF, RG, comprovante de residência, comprovante de rendimento, com a promessa de que esses dados fossem colocados numa empresa de limpeza privada, aqui da cidade de Teresina”, continuou o delegado Odilo.
Com os dados em mãos, a associação criminosa procurava revendedoras de veículos e bancos para obter as vantagens indevidas. “É nesse momento que entra a figura do Danilo. O Danilo pegava todas as informações e enganava as empresas de revenda de veículos, dizendo que essas pessoas queriam comprar veículos, mas, na verdade, não era. O Danilo é um corretor de veículos bastante conhecido aqui da área do Ilhotas, Monte Castelo, da Vermelha, enfim, ele é muito conhecido e pratica esse tipo de procedimento há quase 20 anos. Infelizmente, esse indivíduo está solto causando muito prejuízo”, declarou Odilo Sena.
Participação do vereador
Segundo a investigação delineada pela Polícia Civil, o papel do vereador era fundamental para garantir que a empreitada criminosa tivesse sucesso, sobretudo, atraindo um número substancial de vítimas que acreditavam na figura do parlamentar, pois ele se utilizava da imagem pública sob a alegação de que as pessoas teriam oportunidade de sair da condição de desempregadas.
"A organização utilizava da experiência dele de vereador de uma cidade metropolitana de Teresina e de empresário de sucesso lá de Nazária para aplicar os golpes. Ele [vereador] emprestava o seu nome, fazia essa ponte para que as pessoas vítimas se sentissem à vontade de entregar seus dados. As pessoas entregavam os seus dados e aí três, quatro meses depois descobriam que tinham empréstimo bancário de R$ 80, R$ 100 mil, R$ 120 mil. Ele é um indivíduo que tem vida regalada em uma cidade pequena, é um empresário com mercadinhos, área de lazer, sítios, casa muito boa. É o tipo de vida que realmente não condiz com a percepção mensal de um vereador de uma cidade daquele tamanho. Ele nega, mas as vítimas afirmam, confirmam e reconhecem ele como essa pessoa que participou”, ampliou o delegado Odilo Sena.
Vereador negou as acusações
Após ser preso, o vereador Cícero Rocha disse estar surpreso com as acusações. Em entrevista ao GP1, o vereador negou a participação no golpe. “É uma surpresa para mim porque eu não participei e não conheço esse pessoal”, afirmou.
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