O delegado Odilo Sena, titular do 6º DP da Polícia Civil do Piauí, deu detalhes da participação do presidente da Câmara Municipal de Nazária, vereador Cícero Rocha (MDB), no esquema criminoso que tinha como mote a utilização de documentos de pessoas desempregadas para a obtenção de financiamentos bancários. Além do parlamentar, que se utilizava da influência do cargo para atrair as vítimas, figuram também na associação criminosa os alvos Raimundo Lopes, o empresário Wanderson Fernandes e o falso corretor de veículos, identificado como Danilo Ferreira e Silva. Com exceção de Danilo, os demais foram presos preventivamente na Operação Vaga Fantasma, acusados de integrar grupo criminoso que aplicava golpes com a falsa promessa de emprego no Consórcio Teresina Ambiental (CTA).
Em entrevista à imprensa, o delegado Odilo Sena explicou que a associação criminosa se aproveitava de pessoas que estavam desempregadas ou na eminência de perder o emprego para orquestrar o crime, que lesava não somente as pessoas físicas, como também revendedoras de veículos e, ainda, as financeiras, que concediam os valores financiados sem saber que estavam caindo em um golpe. “Na verdade, existia um esquema que usava os dados de pessoas físicas, no caso, de pessoas que estavam desempregadas ou em vias de ser demitidas, existia a questão também das revendedoras de veículos e os bancos. Essas três pontas eram as vítimas desse golpe. Era um triplo golpe, em que as pessoas físicas ficavam com restrição, os donos das empresas perdiam os seus veículos e os bancos perdiam os valores emprestados e, por fim, os golpistas ainda ficavam com os veículos”, explicou o delegado Odilo Sena.
Vítimas eram atraídas sob a falsa promessa de emprego
“Essas pessoas desempregadas emprestavam seus dados na finalidade de conseguir o emprego. O ardil se baseava numa vaga de emprego e essas pessoas disponibilizavam os dados, CPF, RG, comprovante de residência, comprovante de rendimento, com a promessa de que esses dados fossem colocados numa empresa de limpeza privada, aqui da cidade de Teresina”, continuou o delegado Odilo.
Com os dados em mãos, a associação criminosa procurava revendedoras de veículos e bancos para obter as vantagens indevidas. “É nesse momento que entra a figura do Danilo. O Danilo pegava todas as informações e enganava as empresas de revenda de veículos, dizendo que essas pessoas queriam comprar veículos, mas, na verdade, não era. O Danilo é um corretor de veículos bastante conhecido aqui da área do Ilhotas, Monte Castelo, da Vermelha, enfim, ele é muito conhecido e pratica esse tipo de procedimento há quase 20 anos. Infelizmente, esse indivíduo está solto causando muito prejuízo”, declarou Odilo Sena.
Participação do vereador
Segundo a investigação delineada pela Polícia Civil, o papel do vereador era fundamental para garantir que a empreitada criminosa tivesse sucesso, sobretudo, atraindo um número substancial de vítimas que acreditavam na figura do parlamentar, pois ele se utilizava da imagem pública sob a alegação de que as pessoas teriam oportunidade de sair da condição de desempregadas.
"A organização utilizava da experiência dele de vereador de uma cidade metropolitana de Teresina e de empresário de sucesso lá de Nazária para aplicar os golpes. Ele [vereador] emprestava o seu nome, fazia essa ponte para que as pessoas vítimas se sentissem à vontade de entregar seus dados. As pessoas entregavam os seus dados e aí três, quatro meses depois descobriam que tinham empréstimo bancário de R$ 80, R$ 100 mil, R$ 120 mil. Ele é um indivíduo que tem vida regalada em uma cidade pequena, é um empresário com mercadinhos, área de lazer, sítios, casa muito boa. É o tipo de vida que realmente não condiz com a percepção mensal de um vereador de uma cidade daquele tamanho. Ele nega, mas as vítimas afirmam, confirmam e reconhecem ele como essa pessoa que participou”, ampliou o delegado Odilo Sena.
Quase 10 vítimas
Conforme o delegado, a investigação apontou cerca de nove vítimas, sendo que três delas possuem relação direta com o vereador Cícero Rocha. “Relativo ao vereador investigado, nós temos três contratos, que somam aproximadamente R$ 350 mil, mas em todo o inquérito, a gente percebe que houve oito ou nove, que no total pode chegar a R$ 800 mil, mas a gente não sabe se ele está envolvido diretamente em todos, só que em três deles está bastante configurada essa situação”, disse Odilo Sena.
Vereador negou as acusações
Após ser preso, o vereador Cícero Rocha disse estar surpreso com as acusações. Em entrevista ao GP1, o vereador negou a participação no golpe. “É uma surpresa para mim porque eu não participei e não conheço esse pessoal”, afirmou.
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