A aposentada Maria Nerci dos Santos Mourão, condenada a 19 anos e 06 meses de prisão por assassinar a própria filha, a advogada Izadora Santos Mourão, crime ocorrido em 13 de fevereiro de 2021, ingressou nessa segunda-feira (21) com Recurso de Apelação contra a sentença condenatória proferida pelo Tribunal Popular do Júri.
A petição recursal pede o recebimento, autuação e remessa dos autos ao Tribunal de Justiça do Piauí para que a defesa possa apresentar as razões da apelação.
O Ministério Público também interpôs recurso de apelação contra a absolvição de João Paulo, pedindo sua condenação.
A sessão de julgamento foi finalizada na última quarta-feira (16), na Vara Criminal de Pedro II, e foi presidida pelo juiz Diego Ricardo Melo de Almeida, que manteve a prisão domiciliar de Maria Nerci.
Entenda o caso
Durante a sessão, ambos os réus deram suas versões do crime, porém, não condizem com a investigação realizada pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Em seu depoimento no fórum, a idosa alegou que tinha uma relação turbulenta com a filha e que naquele dia 13 de fevereiro Izadora Mourão havia ameaçado ir ao banco para cancelar sua aposentadoria.
“Ela chegou na nossa casa e me disse: ‘eu estou precisando de um dinheiro. Eu disse: ‘dinheiro pra quê?’, e ela disse que era para pagar umas prestações de um guarda-roupa ou um sofá, e eu disse: ‘não tenho dinheiro, porque o dinheiro que eu ganho tu sabe quanto é, a aposentadoria’. Aí ela disse, ela não me chamava de mãe, ela disse: ‘você é uma velha miserável, cardíaca, 70 anos, já tá bom de viajar’. Disse que dia 15 ia começar a tomar as providências dela, ia pegar a carteira dela da OAB, e ia lá no Bradesco cancelar minha aposentadoria. Eu disse ‘não faz isso não, de que é que eu vou viver?’, e ela disse: ‘não sei’”, afirmou Maria Nerci.
A idosa conta que depois do suposto desentendimento a advogada entrou no quarto de João Paulo Morão, para descansar. Nesse momento, Maria Nerci sustenta ter imaginado que Izadora Mourão poderia lhe fazer algum mal, e por isso ela decidiu matar a filha antes.
“Eu me lembrei: ‘como ela disse que vai me matar e vai judiar com todo mundo aqui, eu vou lá ver se ela tá se mexendo ou tá dormindo’. Ela estava dormindo, pesado. Eu tinha levado a faca, eu disse: ‘é hoje ou nunca, porque ela me mata primeiro’. Aí eu peguei e dei o primeiro golpe, foi muito forte, parece que eu acertei na veia que mata mesmo, aí ela pegou no meu braço esquerdo e se virou, ela queria se levantar para tomar a faca. Ela pegou no meu braço e sustentou. Eu fiquei golpeando, eu disse: ‘ela vai tomar essa faca e vai matar todo mundo’. Aí ela ficou lá, emborcada”, colocou.
Versão de João Paulo
Já o jornalista João Paulo Santos Mourão, durante seu depoimento, alegou que no dia do crime soube somente da morte de sua irmã quando sua mãe, Maria Nerci, o acordou, por volta de 9h, dizendo que Izadora estava morta.
“Nesse sábado eu fui deitar no quarto da minha mãe e por volta de 9h, fui acordado pela minha mãe e pela diarista, ambas estavam chorando e disseram que minha irmã estava morta, eu não entendi, pois estava meio sonolento e eu disse que era melhor chamar o SAMU e disseram para eu ir ver que ela estava morta, Me conduziram até a porta do meu quarto e eu vi aquela cena, que foi mostrada nos registros dos autos e eu fiquei em estado de choque, paralisado e sem saber o que fazer, sem saber como reagir para uma situação daquela. Fechei e abri meus olhos para ver se aquilo era realidade, se eu não estava tendo um pesadelo, mas infelizmente era realidade, era minha irmã que estava ali, com marcas de sangue no tórax e aparentemente já sem vida”, relatou.
Além disso, João Paulo alegou que não tinha conhecimento de que o crime foi realizado por sua mãe e, afirmou que somente soube que a investigação apontou Maria Nerci quando estava já estava preso na Cadeia Pública de Altos.
“No momento que eu estava na Cadeia Pública de Altos, chegou a mim um relatório do DHPP afirmando que minha mãe é ré nesse processo e depois recebi a confirmação pelo advogado. Fico muito triste pelo o que minha mãe fez me prejudicou e causou revolta, revolta nos filhos da minha irmã, filhos das minhas tias, em meus familiares. Eu fico muito triste com o que aconteceu, porque eu sempre acreditei no que ela me falou e eu não tinha o que duvidar dela, mas a versão dela deixou brechas sem o entendimento que pudesse confirmar o que ela estava dizendo”, disse João Paulo.
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