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Assédio no carnaval: mulheres de Teresina compartilham experiências

Para discorrer um pouco sobre o tema, de modo a sensibilizar mulheres e homens, o GP1 entrevistou três mulheres que falaram a partir de suas vivências e lugares que ocupam.

Sendo o assédio sexual uma das formas de violência contra a mulher mais recorrentes, no período de carnaval a ocorrência de tal prática tende a aumentar. Para discorrer um pouco sobre o tema, de modo a sensibilizar mulheres e homens, o GP1 entrevistou três mulheres que falaram a partir de suas vivências e lugares que ocupam: a pesquisadora Clarissa Carvalho, a jornalista e produtora cultural Renata Fortes e a secretária Municipal de Mulheres de Teresina, Macilane Gomes.

  • Foto: Marcelo Cardoso/GP1Casos de assédio tendem a aumentar no período carnavalescoCasos de assédio tendem a aumentar no período carnavalesco

Para Clarissa Carvalho, que pesquisa feminismo, gênero, parto e maternidade, os assédios tendem a crescer no período carnavalesco por conta de uma suposta suspensão de regras. “O carnaval é um momento de “suspensão de regras”, do ponto de vista antropológico. Por exemplo, homens se vestem de mulheres, mulheres se vestem de homens, pessoas se fantasiam, etc. A questão é: que regras são suspensas? Que regras podemos permitir que sejam suspensas? A raiz do assédio está no entendimento de que se pode suspender a regra do direito ao próprio corpo, que é um direito inalienável”, afirma.


Renata Fortes avalia que essa “quebra de regras” se aplica principalmente em relação à mulher. “Culturalmente se construiu no carnaval a máxima de que é permitido quebrar todas as regras e isso passa pelo corpo, principalmente o feminino, que é tão objetificado. Então, há um clima socialmente ainda mais propício para que o abuso acabe se tornando algo ainda mais comum e justificável, até mesmo por algumas válvulas, como o uso de bebida alcoólica, o que é absurdo. Já vivi situações bem chatas onde eu era a vítima e também presenciei por vezes incontáveis situações onde as vítimas eram outras mulheres, tendo em uma delas, inclusive, corrido o risco de sofrer agressão física por reação do assediador, quando ele foi questionado sobre sua postura”, colocou.

  • Foto: Facebook/Renata FortesRenata FortesRenata Fortes, jornalista e produtora cultural

Segundo Macilane Gomes, o carnaval é o período em que o Ligue 180, criado pela Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, mais recebe denúncias. “Pelo contexto de exacerbação, acaba que esse comportamento é potencializado. Segundo dados do 180, é o período onde mais se têm denúncias de mulheres”, informou.

  • Foto: Lucas Dias/GP1Marcilane GomesMarcilane Gomes

De acordo com essas mulheres, o feminismo tem sido um aliado no combate ao assédio e qualquer outro tipo de violência. “A importância do feminismo para o combate ao assédio é justamente nos forçar (homens e mulheres) a refletirmos sobre o direito ao próprio corpo. Não só no carnaval, mas em qualquer outro contexto, o corpo é propriedade privada de cada indivíduo e esse direito não pode ser tomado em nenhuma circunstância: nem porque a roupa é curta ou decotada, nem porque é carnaval, nem porque uma mulher tenha bebido demais”, argumenta Clarissa Carvalho.

Renata destaca a importância de as mulheres cuidarem umas das outras “O feminismo tem um papel determinante no combate ao assédio sexual, porque tem promovido, antes de tudo, uma reeducação naquelas que são as principais vítimas: nós, mulheres. Passamos a conversar mais entre nós, compartilhar experiências, nos apoiar e mesmo proteger, ou seja, finalmente indo na contramão do que o patriarcado implantou e fez vigente durante tanto tempo. Descobrimos que esses comportamentos anteriormente normalizados, que são responsáveis por desencadear péssimos sentimentos (medo, vergonha, raiva) e problemas na vida pessoal, são, na verdade, comuns a todas nós, em diferentes graus”, pontua.

Campanhas

Macilane Gomes destaca a campanha “Marcas da Alegria”, cujo objetivo é conscientizar homens e mulheres no que diz respeito ao combate à violência. “É a quarta edição da campanha, onde fazemos várias atividades, que ocorrem tanto nas prévias como no carnaval, onde distribuímos um leque chamando a atenção com a frase ‘Que as únicas marcas nesse carnaval sejam de alegria’. É uma forma de estar mobilizando, sensibilizando os homens para não gerar esse comportamento e ao mesmo tempo as mulheres, para não admitirem esse comportamento e ficarem silenciadas”, explica.

  • Foto: DivulgaçãoCampanha Marcas da AlegriaCampanha Marcas da Alegria

Órgãos e entidades de defesa da mulher vão atuar no Corso do Zé Pereira de Teresina. “Estaremos em um caminhão com vários órgãos e um stand debaixo da Ponte Estaiada, e, em parceria com a Coordenadoria de Estado de Políticas para as Mulheres, instalaremos um ônibus, que é um espaço mais reservado para socorrer quem estiver em situação de violência, finaliza Macilane Gomes.

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