O Dia Nacional da Consciência Negra (20 de novembro) começou a ser celebrado no Brasil em 2003, a princípio em âmbito escolar, até ser instaurado em âmbito nacional em 2011, através da Lei Nº 12.519, que instituiu o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A data remete ao dia do falecimento de Zumbi, que liderou o Quilombo dos Palmares.
- Foto: Marcelo Cardoso/GP1 Brasil
A data tem sua importância principalmente para o povo negro, que luta historicamente por reconhecimento, respeito e pelo fim da discriminação racial, e também serve de reflexão para toda a sociedade.
Neste dia, o GP1 conversou com mulheres e homens negras(os) do Piauí sobre esta data, e essas pessoas responderam à pergunta: o que é a Consciência Negra?
Assunção Aguiar – Militante do Grupo Afro Cultural Coisa de Nêgo
- Foto: Facebook/Assunção AguiarAssunção Aguiar
“Para mim a consciência negra é uma continuidade da busca por dignidade. O dia 20 de novembro para nós representa toda uma luta pela cidadania do povo negro, que começou com nosso grande líder, nosso herói, Zumbi. A consciência negra para mim é ver mulheres e homens negros vivendo com dignidade, é não ver o povo negro sendo assassinado, fora do mercado de trabalho, fora da escola. Para mim, ter consciência negra é ver esse povo todo inserido nas políticas públicas, lutar por isso é a consciência negra”.
Brenda Mendes – Estudante e militante do Coletivo Atitude Preta
- Foto: Facebook/Brenda MendesBrenda Mendes
“O Dia da Consciência Negra é oportuno, pois podemos mostrar o quanto nossa população foi e é explorada cotidianamente em todos os espaços que ocupa e como o racismo, desde o início da nossa colonização, nos trouxe heranças. Também é importante a gente pautar o feminicidio da mulher negra, porque vimos, como saiu no Mapa da Violência 2016: enquanto a violência contra as mulheres brancas diminuiu, contra as negras aumentou. Que neste dia possamos dar a importância que as mulheres negras merecem, pelo fato de elas estarem na base de nossa pirâmide social, desde quando eram escravizadas e violentadas, pois sabemos que essa miscigenação no país foi à base de muito estupro. Portanto, não é só hoje o dia para se lembrar, porque só quem sofre na pele ou no cabelo esse racismo institucionalizado sabe a importância de se lutar contra isso”.
Joaquim Monteiro – Cartunista e diretor do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (SINDSERM) de Teresina
- Foto: Brunno Suênio/GP1Joaquim Monteiro
“Ter a consciência e se assumir como negro é de uma importância política histórica. Em uma sociedade baseada no racismo, se orgulhar que é negro, falar pelos quatro cantos, abraçar sua cultura que é remanescente dos nossos ancestrais africanos, vestir a camisa, a indumentária característica da negritude, é um ato revolucionário. Hoje a sociedade capitalista e branca, para deslegitimar a luta negra, fala que não precisamos de uma consciência negra, mas uma consciência humana, mas, na sociedade capitalista o negro não é considerado como humano, então não vamos admitir que se esqueça todo um histórico de sangue derramado, de lutas”.
Macilane Gomes – Secretária municipal de Políticas Públicas para as Mulheres
- Foto: Marcelo Cardoso/GP1Macilane Gomes
“Essa consciência reflete a importância política e cultural do papel do negro na construção da sociedade brasileira, o papel histórico do negro, que foi marcado por escravidão, violência e preconceito. Ainda hoje refletimos a representação do negro enquanto escravo, enquanto produto, enquanto um sujeito à margem na escala de reconhecimento. É importante existir o dia Consciência Negra, trazer a importância do negro enquanto pessoa, que tem a cor e uma identidade cultural. Que busquemos a igualdade enquanto seres humanos. Buscamos o reconhecimento do negro e principalmente das mulheres negras”.
Maria Laura dos Reis - Presidente do Grupo Piauiense de Transexuais e Travestis (GPTRANS)
- Foto: Lucas Dias/GP1Maria Laura
“Esse é um dia de resistência no enfrentamento ao racismo ainda tão presente nos dias atuais. Embora a população negra não seja mais escravizada, tem dificuldade de acesso as políticas públicas e mercado de trabalho formal, com diretos resguardados. Esse é um dia para enaltecer as lutas por promoção da igualdade racial”.
Maria Sueli Rodrigues - Professora da Universidade Federal do Piauí e presidente da Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, da OAB-PI
- Foto: Facebook/Sueli RodriguesMaria Sueli Rodrigues
“Consciência Negra para mim envolve uma espécie de pacto para um projeto de nação democrática, constitucionalista. Que a sociedade entenda e se conscientize da tragédia que foi a escravização das pessoas africanas no Brasil. Outro aspecto, é que a próprias pessoas negras precisam se conscientizar que são negras e que sofrem racismo. Se assumindo e assumindo suas identidades negras, elas fortalecem a luta contra o racismo”.
Nêgo Doka - Integrante do grupo de rap teresinense Reação do Gueto
- Foto: Facebook/Dornele FrançaNêgo Doka
“Esse é um dia de reflexão e de luta, por sabermos que há muito anos nosso símbolo maior de luta foi assassinado covardemente. Hoje nós, negros, temos a missão de levar para frente essa luta, que é contra o preconceito. Apesar de sermos invisibilizados e cooptados por um sistema capitalista, temos um aviso: os negros e negras estão se organizando de forma coerente e ativa para combater essa escória que é a sociedade capitalista, racista, homofóbica, machista e elitizada”.
Preto Kedé – Rapper teresinense
- Foto: Facebook/Preto KedéPreto Kedé
“Uma coisa que a gente não pode viver é de mentiras, sabe, então se você é negro ou negra você tem que assumir e se orgulhar, ou seja: reconhecer que sua raça é linda e maravilhosa. Eu amo a minha raça”.
Regina Sousa – Senadora da República
- Foto: Lucas Dias/GP1Regina Sousa
“Consciência Negra é o reconhecimento da negritude do cidadão e sua disposição em lutar contra os preconceitos. O Brasil tem uma memória escravista e isso se manifesta em atitudes racistas cada vez mais frequentes”.
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