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Baixa Grande do Ribeiro - Piauí

Veja diálogos que levaram ao pedido de prisão do prefeito de Baixa Grande do Ribeiro

O prefeito Zé Luís foi denunciado pelo Gaeco, sob acusação de operar um esquema de desvio de recursos.

O GP1 obteve acesso, com exclusividade, a prints de trocas de mensagens que revelam o motivo do pedido de prisão do prefeito de Baixa Grande do Ribeiro, José Luís Sousa, mais conhecido como Zé Luís. O gestor – que chegou a ser preso em julho de 2022, junto com o ex-prefeito Ozires Castro – é acusado de operar um esquema de desvio de recurso públicos, em denúncia ajuizada no dia 2 de junho pelo Ministério Público do Estado do Piauí, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

As mensagens às quais nossa reportagem teve acesso em sua maioria foram trocadas pelo prefeito Zé Luís e seu filho Thiago Palhano, que aparece nos prints como “Dr. Thiago Luís”. Outras conversas são atribuídas ao contador Wilver Ferreira Camelo e ao empresário Solanjo Bispo de Sousa, apontados pelo Gaeco como figuras centrais da organização criminosa supostamente comandada pelo prefeito de Baixa Grande do Ribeiro.


Foto: Reprodução/InstagramDr. José Luís
Zé Luís

Confira abaixo os principais trechos das conversas.

Insatisfação do filho

Em uma troca de mensagens atribuídas ao prefeito Zé Luís, o gestor pede que seu filho, Thiago Palhano, tenha paciência até que ele de fato inicie essa gestão. Segundo o Gaeco, Thiago estava incomodado com o fato de, no início da gestão de Zé Luís, em 2021, quem ainda dava as cartas era o ex-prefeito Ozires Castro.

Foto: ReproduçãoConversas do dia 21/01/21
Conversas do dia 21/01/21

“Todos os planos que fizemos antes de chegar nessa prefeitura estão vivos. Não é assim não. Eu não posso chegar chutando o balde rápido, fazendo besteira não. Tenha um pouco de paciência”, diz trecho da mensagem que teria sido enviada pelo prefeito Zé Luís, em 26 de janeiro de 2021.

Em resposta, o filho do prefeito menciona o contador Wilver Camelo. “Se o senhor está pensando que o [Wilver] Camelo botou algo na minha cabeça. Não, eu que chamei ele pra participar das licitações. Eu que encabecei tudo isso. Ele não tem nada a ver com isso. Eu que fui atrás do pessoal pra resolver as coisas”, consta na mensagem.

Filho comemora primeira vitória em licitação

Em outro print, datado do dia 18 de fevereiro de 2021, o filho do prefeito comemora a primeira licitação vencida por uma empresa que, segundo o Gaeco, fazia parte do esquema criminoso. “Ganhamos a primeira. Primeira batalha. Se prepara para botar os seus”, diz um trecho.

Foto: ReproduçãoConversas do dia 18/02/21
Conversas do dia 18/02/21

A empresa que venceu a licitação foi a CBS Construtora, de propriedade do empresário Cleiton Barroso. O Gaeco aponta que a construtora era uma das empresas utilizadas para desviar recursos.

Foto: ReproduçãoTroca de mensagens de 19/02/21
Troca de mensagens de 19/02/21

No dia 19 de fevereiro de 2021, Thiago Palhano ressalta que o controle das licitações será dele e do pai. “O controle vai ser nosso. Todo o controle. Tudo vai ser controlado pela gente”, consta na mensagem.

Thiago Palhano volta a reclamar de Ozires Castro

Em outro diálogo, datado do dia 5 de março de 2021, Thiago Palhano reforça sua indignação com a influência de Ozires Castro nas licitações do Município. Ele enviou uma carta convite de uma proposta em um processo licitatório, onde provavelmente o ex-prefeito teve participação.

Foto: ReproduçãoMensagens de 05/03/21
Mensagens de 05/03/21

“Das vias públicas. De tudo. De tudo que dá dinheiro. Ozires fez mais uma Carta Convite, pai, você tá é de brincadeira, pai”, diz a mensagem.

Ex-prefeito é chamado de “pilantra”

Em outras mensagens, enviadas em 11 de março de 2021, Thiago Palhano afirma que vai tentar “diminuir as forças desse pilantra”, se referindo ao ex-prefeito Ozires Castro.

Foto: ReproduçãoDiálogo do dia 11/03/21
Diálogo do dia 11/03/21

O Gaeco sustenta que o prefeito Zé Luís foi eleito com o compromisso de dar continuidade às práticas fraudulentas e desvios que ocorriam durante a gestão do ex-prefeito Ozires Castro.

“Cinquenta por cento pra vocês e cinquenta por cento pra mim”

No dia 20 de maio de 2021 o prefeito Zé Luís enviou uma mensagem ao filho, Thiago Palhano, pedindo sua parte de um dinheiro, que, conforme o Gaeco, seria oriundo do desvio de recursos.

Foto: ReproduçãoConversa do dia 20/05/21
Conversa do dia 20/05/21

“Quando eu chegar você fala com o (Wilver) Camelo pra ir pegar a metade do dinheiro. Que é pra me dar logo a minha parte da metade, meu amigo. É pagando a metade e eu recebendo a minha metade. Cinquenta por cento logo. É cinquenta por cento pra vocês e cinquenta por cento pra mim”, diz a mensagem atribuída ao prefeito.

Pagamentos a empresa da cunhada de Ozires Castro

O empresário Solanjo Bispo, também denunciado pelo Gaeco, é apontado como operador do esquema. Em prints de mensagens atribuídas ao empresário, ele envia comprovantes de transferências bancárias a Alaíde Miguel dos Reis e Silva, esposa de Eden Orizon Castro Silva, irmão do ex-prefeito Ozires Castro.

Foto: ReproduçãoComprovantes de transferência
Comprovantes de transferência

“Fica evidente que o prefeito José Luís Sousa, mesmo após a deflagração da Operação Primus, deu continuidade ao seu esquema de desvio de recursos públicos, vez que em agosto/2022 contratou a empresa Alaíde Miguel Dos Reis e Silva-ME (Posto Tabor) para o fornecimento de combustível, empresa esta que já vinha sendo utilizada pelo empresário Edem Orizon Castro Silva (irmão do ex-prefeito Ozires Castro Silva) para receber de maneira dissimulada (lavagem de dinheiro) recursos públicos municipais desviados (peculato-desvio)”, revelou o Gaeco.

Denúncia do Gaeco

No dia 2 de junho o Gaeco apresentou robusta denúncia contra o prefeito Zé Luís, afirmando que o gestor estava se utilizando do cargo de prefeito para enriquecer ilicitamente e viabilizando, por meio de seus atos e comandos administrativos, o enriquecimento dos demais integrantes de uma organização criminosa especializada em desviar recursos públicos. Também foram denunciados pelo Gaeco o filho do prefeito Zé Luís, Thiago Palhano; o ex-prefeito Ozires Castro; o contador Wilver Ferreira Camelo; José Nilson de Sousa Rocha; Reinaldo Bozon Pinheiro; Cleiton Barroso de Sousa; Tiago dos Santos Azevedo; Júlio César Mota Negreiros; Estefane Oliveira Nunes; e os empresários Edem Orizon Castro Silva, Alaíde Miguel dos Reis e Silva e Solanjo Bispo de Sousa.

A denúncia é assinada pelo procurador-geral de Justiça do Piauí, Cleandro Moura, o coordenador do Gaeco, promotor Cláudio Soeiro, e os promotores Glécio Setúbal e Leonardo Fonseca. Eles sustentam que a organização criminosa da qual o prefeito seria integrante causou um vasto prejuízo material e moral ao Município e à sociedade de Baixa Grande do Ribeiro.

“Verifica-se que o atual Prefeito de Baixa Grande do Ribeiro-PI integrou uma organização criminosa especializada na fraude de procedimentos licitatórios, no desvio de recursos públicos e na lavagem de dinheiro, com estrutura consolidada e ações orquestradas, pelo menos, desde o início do ano de 2021”, consta na denúncia.

Ainda conforme o Gaeco, há evidências de que o prefeito Zé Luís foi eleito com a missão de dar seguimento ao esquema criminoso. “A investigação deixou claro que o prefeito José Luís Sousa foi eleito com o compromisso de dar continuidade ao esquema de fraude licitatória, desvios de recursos públicos e lavagem de dinheiro já existente na gestão do ex-prefeito Ozires Castro Silva”, diz outro trecho da denúncia.

Pedido de prisão

Após formular a denúncia, no dia 16 de junho o Gaeco, concluiu que as medidas restritivas que foram impostas ao prefeito Zé Luís em substituição à prisão preventiva não se mostraram suficientes para impedir a reiteração delituosa do gestor. O prefeito foi preso em julho de 2022, mas foi colocado em liberdade sob a condição de cumprir medidas cautelares.

Assim, o Gaeco pediu que a Justiça volte a decretar a prisão preventiva do prefeito, ou a imposição de medidas mais severas, no caso, a suspensão do exercício da função pública (afastamento cautelar do cargo).

Outro lado

O prefeito Zé Luís não foi localizado pelo GP1. O espaço está aberto para esclarecimentos.

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