O GP1 obteve acesso, com exclusividade, à integra do depoimento de Denilson Weviton Santos Nicolau, vulgo "Ceará", um dos três acusados de matar a estudante de medicina Flávia Cristina Wanzeler Sampaio, de 22 anos, no dia 12 de fevereiro, na zona leste de Teresina.
Durante o interrogatório no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Ceará narrou como os comparsas se articularam para roubar um carro com objetivo de receber a recompensa de R$ 10 mil. Ele afirmou que a escolha das vítimas ocorreu de modo aleatório e ainda apontou o criminoso conhecido pela alcunha de "Biel" como sendo o autor do disparo que ceifou a vida da estudante de medicina.
Como tudo começou
De início, Ceará relatou que na manhã do último domingo, dia 12 de fevereiro, entrou em contato com Biel para pegar maconha, porém, recebeu o convite para participar do roubo de um veículo e aceitou o convite, segundo ele, por estar desempregado e porque queria comprar um presente para sua esposa devido ao aniversário dela. Ele ainda afirmou que a recompensa pelo roubo seria de R$ 10 mil e que quatro participantes repartiriam o valor entre si.
“Foi assim: na manhã de domingo mandei mensagem para o Biel para pegar uma maconha com ele. Aí ele já mandou assim: ‘chega aí, tem um corre [roubo] aí e tal’. Aí quando cheguei ele falou se eu queria ganhar um dinheiro. Eu falei que sim porque estou desempregado, o aniversário da minha esposa é próximo mês e eu queria dar alguma coisa para ela. Aí ele [Biel] falou: ‘olha pois nós vamos pegar um carro e tal, aí esse dinheiro que vai ser pago, esses dez mil a gente divide’. Aí bora andando que o carro vai vir pegar nós, no caminho o carro veio e pegou nós. Quando a gente entra, já tinha um cara encapuzado que usava uma blusa na cabeça e o piloto eu não conheço o piloto não. Ele [piloto] tinha uma barba falhada, o cabelo é meio calvo e era liso. Não sei o nome dele porque não chamaram o nome dele não. O cara vinha trocando mensagens com ele [Biel] pelo celular e eles vieram e pegaram nós. Pegaram a gente descendo ali a rua do Carvalho, o Carvalho perto de onde tem umas arenas de flores. Foi em um Gol que eles chegaram, um Gol roxo, que pegou eu e o Biel. Aí já estava dentro o piloto e o cara que estava com a blusa cobrindo o rosto. Aí a gente foi até o carro [Renault Kwid] azul e entramos, aí a chave já estava no contato, aí o piloto entrou e nós também. Era lá na zona norte [onde adentraram no Kwid]. O carro estava na parado no meio da rua, em frente a um portão preto. Aí nós deixamos o Gol lá e entramos no carro azul. Ficamos na mesma posição, eu e o Biel atrás, e o outro cara e o piloto na frente. Aí a gente foi", começou o acusado identificado pelo vulgo "Ceará".
Abordagem ao carro ocupado por Flávia Wanzeler e o namorado
Na sequência, Denilson Weviton Santos Nicolau detalhou o momento da abordagem ao carro Nissan Kicks, ocupado pela estudante Flávia Wanzeler e pelo seu namorado, Pedro Henrique. Ele negou que estivesse armado e apontou que somente Biel e o terceiro acusado, o criminoso Antônio Cleison Barbosa Silva, de vulgo "Macapá", são os que estavam portando armas de fogo durante o crime.
"A gente seguiu e disseram que esse carro já era a parada que a gente ia roubar, aí lá na frente já falaram que vamos pegar um carro para poder fechar o carro andando, aí já mudou a história. Eles tinham falado que o carro estava parado para a gente pegar, pegar o carro e pegar o dinheiro. Aí a gente avistou o Nissan Kicks branco, que estava cruzando a rua, aí nós fomos passamos pela frente dele [do Nissan Kicks] e ‘brecou’ na frente dele. Aí tentei sair pela porta do Biel mas não consegui porque estava emperrada, aí eu saí pela minha. Saiu eu por esse lado e o Biel saiu mais eu. Aí quando o cara [motorista do carro dos criminosos] percebe que ele [Pedro Henrique, namorado de Flávia Wanzeler] ia estar saindo, o cara breca e ele [vítima] dá a ré. Quando dá a ré, eu vou para frente e volto, aí o Biel: ‘vai, vai, vai’. Aí quando eu vou o Biel atira e eu volto para dentro do carro [Renault Kwid de cor azul] e o Biel depois entrou no carro também. Era o Biel que estava armado. O Macapá se tivesse armado era só com um simulacro, porque nem dentro do carro ele não mostrou a arma para nós não. Ele [Macapá] já saiu apontando a arma. O motorista não desceu, ficou no carro, aí nós três desceu. Eu estava de blusa verde, calça jeans, o Biel estava de calça jeans e blusa de manga longa preta com capuz por cima e o Macapá estava com blusa vermelha na cara e vestindo outra blusa cinza ou era azul, não lembro”, detalhou Denilson Weviton Santos Nicolau.
“Quem atirou foi o Biel", acusou o comparsa Ceará
Em seguida, Ceará acusou o Biel com veemência de ser autor do disparo que matou Flávia Wanzeler e relatou que, após o crime, o motorista deixou ele e Biel em pontos diferentes da zona leste de Teresina e depois, deixou Macapá em sua casa.
“Quem atirou foi o Biel, só um disparo do lado do motorista. Lá a gente não sabia que tinha atingido mas eu deduzi na hora porque o disparo foi no lado do motorista e se não pega em um, pega no outro, logo que ele [Biel] atirou de cima para baixo. Depois do crime, ele me deixou na rua, lá perto de onde tinham me pegado e o Biel ficou mais lá pela frente. Depois deixaram o Macapá em casa. Eles me chamavam direto [para cometer crimes], mas eu não participava. Aí dessa vez eles me chamaram e eu fui, porque queria comprar um presente pra minha esposa”, manifestou o acusado de vulgo Ceará.
Biel é integrante do PCC
Ceará ainda explicou que não é pertencente a nenhuma facção criminosa, mas afirmou que além de Biel ser o autor intelectual do crime, ele é integrante do PCC. “Eu mesmo não sou faccionado, mas como o Biel é do PCC, automaticamente penso que os outros eram também. Não sei informar o nome do quarto [comparsa]. O Biel que conhecia o Macapá. Foi o Biel que chamou eu e o Macapá. Nunca fui preso, nunca respondi por nenhum crime não”, negou o acusado Ceará.
Descarte das munições da arma usada no crime
Denilson Weviton Santos Nicolau, vulgo "Ceará, contou ainda quando Biel se desvencilhou das munições da arma de fogo calibre 38 usada para matar Flávia Wanzeler. "Na hora que ele [Biel] entrou no carro, ele só derrubou o tambor e tirou a munição que tinha atirado. Não sei o nome desse cara que estava dirigindo. Ele tem pele clara um pouco mais do que a minha. Maior que eu um pouco. Gordo. Tinha tatuagem nas costas. Cabelo preto um pouco calvo e liso”, esclareceu.
“A gente escolheu a vítima aleatório", afirmou Ceará
Na parte final do interrogatório no DHPP, o acusado afirmou que a escolha das vítimas da ação criminosa foi aleatória e reiterou que não foi ele quem atirou. “A gente escolheu a vítima aleatório. Certeza absoluta que não foi eu que atirei não senhor. Foi o Biel. Eu saí desarmado e entrei desarmado no carro, encontrei com eles desarmado, fui desarmado, só tinha ido [de encontro ao Biel] para comprar uma maconha, na hora que ele ofereceu o dinheiro. Ele [Biel] disse que a assim que a gente pegasse o caro, um cara fazia o pix”, finalizou Ceará.
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