O juiz Raimundo Holland Moura de Queiroz, da 5ª Vara Criminal da Comarca de Teresina, recebeu denúncia do Ministério Público do Estado do Piauí contra organização criminosa composta por 31 pessoas, acusadas de aplicarem golpe milionário no banco Santander. Elas são acusadas dos crimes de estelionato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
A denúncia foi assinada pela promotora de Justiça Francineide da Silva Sousa, no dia 9 de outubro. A quadrilha é suspeita de causar um prejuízo de R$ 5 milhões em agências do banco no Piauí. Ao todo, o esquema de fraude bancária causou um rombo de R$ 19 milhões em agências espalhadas pelo Brasil.
Na decisão desta quarta-feira (25), o magistrado destacou que constatou que há justa causa para a deflagração da ação penal por haver indícios suficientes de autoria e de materialidade dos crimes constantes na denúncia.
O juiz então recebeu a denúncia e determinou a citação dos réus para que, em 10 dias, constituam advogado e respondam à acusação, por escrito, nos autos da ação penal em epígrafe, especificando as provas pretendidas e arrolando testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário.
Viraram réus: Anderson Ranchel Dias de Sousa, Ângela Marques de Almeida Terto, Ariosvan Lopes Pereira, Diana Mayara da Costa Reis, Dimona Cibele de Andrade Miranda, Eristay Cantuario Oliveira, Erisvelton Felipe Oliveira Santos, Handson Ferreira Barbosa, Ilgner de Oliveira Bueno Lima, João Gabriel Vieira Leal dos Santos, José Iann da Penha Passos, Juliana Maciel Aires, Kamila Thayline de Oliveira Gomes, Liedson Ribeiro da Costa, Louise Raquel Cardoso de Sousa, Marcelo Cristian Gomes Silva, Marcelo de Sousa Almeida, Maria Aparecida da Costa Morais, Rafael Soares de Oliveira, Raimundo Isaias Lima, Ramon Vitor Lopes Gomes, Rennan Erick de Oliveira Sousa, Sávio Máximo de Sousa Andrade, Simplício da Silva Santos, Tairo Nunes da Silva, Taise Nunes da Silva, Tiago de Carvalho Santos, Vinícius de Morais Sousa, Vitoria Ferreira do Nascimento, Wanderson Santos Queiroz e Washington Silva de Santana.
Operação Prodígio
A Superintendência de Operações Integradas - SOI, em conjunto com as Diretorias de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública e a Polícia Civil do Piauí, deflagrou no dia 5 de setembro deste ano a “Operação Prodígio” para dar cumprimento a 25 mandados de busca e apreensão e 30 mandados de prisão temporária nas cidades de Teresina, Floriano, Amarante e Nazaré do Piauí, contra um grupo acusado de atuar em um esquema de fraude bancária que causou prejuízo de R$ 19 milhões a uma instituição financeira.
Conforme as investigações, desse valor, R$ 5 milhões são relacionados a fraudes praticadas em contas bancárias de agências localizadas no Piauí. A fraude consistia na cooptação de pessoas para abrir contas bancárias com dados falsos que levassem o banco a aumentar o limite de crédito desse cliente. Uma vez aberta a conta, a associação criminosa simulava uma série de transações bancárias para “esquentar” a conta, de forma que o banco entendesse que aquela renda declarada era legítima.
Como funcionava o esquema
De acordo com o delegado Anchieta Nery, entre os “clientes” estavam pessoas jovens que faziam cadastro dizendo ser médicas, mesmo com pouca idade. “Meninas de 19 anos faziam cadastro dizendo que eram médicas obstetras, por isso o nome da operação é prodígio. Apresentavam renda mensal de R$ 30 mil, aí faziam movimentação nessas contas para o motor de crédito do banco acreditar que recebiam R$ 30 mil, e essa pessoa, por exemplo, adquiria crédito, pedia crédito pessoal de R$ 60 mil e pagava, então, o limite subia para R$ 90 mil, até que a organização criminosa acreditava que tinha chegado no máximo de score que o banco podia dar e fazia o chamado tombamento, pegava o máximo de crédito, tirava da conta usando empresas fantasmas que foram abertas com essa finalidade e, por fim, não pagava mais", explicou.
"A organização então movimentava o dinheiro pelas empresas fantasmas que na frente saia rateado, parte para os líderes, parte, talvez, para alguém da instituição financeira com envolvimento e parte para os clientes que quiseram participar do esquema", afirmou Anchieta Nery.
Criação de empresas fantasmas
O delegado Anchieta Nery revelou que o empresário Ilgner Bueno e o pai dele, Raimundo Isaías Lima, criaram empresas fantasmas para movimentar o dinheiro oriundo das fraudes cometidas pela organização criminosa. “Ele criou empresas fantasmas, algumas no nome do pai para movimentar o dinheiro dessa organização criminosa, desse esquema, inclusive, uma dessas empresas chegou a receber até meio milhão de reais no período da investigação”, pontuou o delegado Anchieta Nery.
Ainda conforme o delegado, Ilgner se apresentava como pré-candidato a vereador de Amarante. “Ele morava em Teresina, mas estava se apresentando em Amarante como pretenso candidato a vereador. Ele é um cara que desde cedo se associou ao líder da associação criminosa e que tem raízes familiares em Amarante, inclusive, o pai dele foi preso nessa operação policial. Ele é um cidadão bastante conhecido na cidade”, afirmou Anchieta Nery.
“O pai foi preso porque abriu empresas fantasmas para movimentar dinheiro do crime, foram apreendidos veículos comprados com dinheiro do crime, documentos relacionados a investigação ele colaborou integralmente com a investigação”, explicou o delegado.
Esposa foi "cobaia"
O delegado Anchieta Nery disse ainda que o líder do grupo, Anderson Ranchel, iniciou o golpe usando a esposa [Ângela Terto] e que após obter êxito deu continuidade arregimentando mais pessoas. "Anderson Ranchel era líder do esquema criminoso, ele se apresentava em Teresina como vendedor de iPhone importado, praticando o descaminho. Ele fez empréstimos fraudulentos primeiro para a esposa, deu certo, aí ele passou a arregimentar muita gente, na zona sul, no Lourival Parente, Parque Piauí, Vila Irmã Dulce, na cidade de Amarante, Floriano e região, como em Barão de Grajaú, no Maranhão", expôs.
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