Coincide com a mudança de estação o aniversário de uma mente responsável por narrar e descrever as contradições de uma sociedade imbricada por debates num período onde corpos ainda eram atravessados por Oceanos, retirados de sua origem-Mãe.
Neste Brasil império, nascia Joaquim Maria Machado de Assis, em 21 de junho de 1839, no Rio de Janeiro, mais precisamente no Morro do Livramento. Testemunhou uma dita abolição da escravatura aos 49 anos de idade e, até os 69 anos, quando viveu, foi jornalista, escritor, contista, cronista, dramaturgo e poeta. Ao fazer das palavras instrumento de descrição, provocação de elites que não entendiam ironias sobre sua própria decadência, Machado de Assis foi responsável por colocar a Literatura Brasileira, como já foi dito, em outro patamar.
Ao longo de 182 anos, a imagem do criador da Academia Brasileira de Letras e patrono de sua Cadeira nº 1 já viu também sua imagem sofrer de opacidade. Na tentativa de reafirmar diagnósticos ditos em 1901, o Bruxo do Cosme Velho foi descolorido. Retiraram durante anos nos livros de história a proteína de sua tez, responsável por seu brilho. Falharam.
Primeiro contato
Mariana Barros teve seu primeiro contato com o autor durante o ensino médio, na disciplina de Literatura, durante uma aula de romantismo. À turma, foi repassada a tarefa de reler obras do período.
“Foi na escola, a partir de Dom Casmurro, quando eu fiquei interessada pela história de Capitu e Bentinho. Nesse projeto, da construção dessa peça, quando tivemos acesso a todas essa obras, foi o primeiro contato”, disse a estudante.
Formada em Artes e agora discente de Letras Vernáculas pela Universidade Federal da Bahia, Mariana descreve o autor enquanto um ser genial, irônico, de diálogos diretos com o leitor.
“Ele é um dos maiores escritores que tivemos aqui. São obras guardadas pela eternidade, mesmo com tanto tempo dos escritos, as pessoas continuam a estudar Machado de Assis. Comparar os livros com sua contemporaneidade, com as questões postas no período em que ele escrevia é o que o faz ser perpetuado, relata Mariana. “Além disso, tem toda essa crítica e forma de escrita irônica, ele era muito diferente dos qualquer escritor daquele período”, conclui.
"Ao vencedor, as batatas"
Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas. (Machado de Assis, Quincas Borba).
Machado: mais vivo que nunca
Responsável por introduzir a escola literária do Realismo no Brasil com o livro Memória Póstumas de Braz Cubas, em sequência, com Dom Casmurro, Machado de Assis é considerado um autor que trata sobre acontecimentos com uma capilaridade mais ampla.
Ao tratar sobre sentimentos como a inveja, a ganância, a competição, o autor consegue caminhar entre as críticas sociais e os fatos cotidianos que ocorriam. A professora de Licenciatura Plena em Letras na Uespi, Dr. Algemira Mendes descreve a importância das obras para os estudos da Cultura.
“São obras que precisam ser lidas por todos, do Ensino Básico ao Superior. Com o autor nós aprendemos, em cada conto, cada romance, ampliamos nossos horizontes de expectativa a partir do contato com temas extremamente atuais. Machado de Assis e sua obra estão mais vivos do que nunca”, disse a professora Algemira.
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