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Teresina - Piauí

Em live com Firmino, especialista diz que não é hora de suspender isolamento

O prefeito realizou neste sábado (28), por meio de seu perfil no Instagram, uma transmissão ao vivo com a participação do médico cardiologista e intensivista Marcelo Martins.

O prefeito Firmino Filho realizou neste sábado (28), por meio de seu perfil no Instagram, uma transmissão ao vivo com a participação do médico cardiologista e intensivista Marcelo Martins, atual diretor de práticas médicas do Hospital São Marcos, com especialização pelo Instituto do Coração da Universidade de São Paulo (USP). Juntos, eles trataram de estratégias para combater o coronavírus (covid-19).

Em uma entrevista conduzida pelo prefeito por cerca de duas horas, Marcelo Martins apresentou números e exemplos de outros países para falar sobre diversos pontos que dizem respeito à pandemia. Dentre os assuntos tratados, foi falado sobre as medidas restritivas impostas pelos governos municipais e estaduais. Na opinião do médico, a quarentena é um método eficaz que precisa ser mantido.


Antes de passar a palavra para o especialista, Firmino Filho explicou que essa é a primeira de uma série de conversas com profissionais da área, que serão transmitidas pela internet. “O objetivo dessa série de entrevistas é conversar com médicos, estamos reunidos com vários médicos, profissionais que têm o respeito da cidade, para que a gente possa ouvir deles, não dos jornalistas, dos políticos, dos gestores, de terceiros, mas ouvir dos médicos a realidade sobre o coronavírus”, colocou, seguindo para as perguntas.

  • Foto: Marcelo Cardoso/GP1Firmino FilhoFirmino Filho

Sintomas

O primeiro ponto abordado foi a questão dos sintomas da covid-19. Segundo o intensivista, os sintomas podem não ser absolutamente específicos, mas a medicina foca em alguns. “Uma sintomatologia muito parecida com uma gripe comum em um primeiro momento, coriza, tosse, mal estar, dores no corpo e dor de cabeça, no início do quadro. Posteriormente, podem aparecer outros sintomas que vão sugerir outros níveis de gravidade. Quando aparecerem esses sintomas é preciso manter uma alimentação adequada, se manter hidratado e em repouso e ficar se auto observando. Febre persistente e falta de ar ligam sinais de alerta e sinalizam formas mais graves da doença, e aí deve se procurar o sistema de saúde”.

Sobre os casos mais leves da doença, o médico alertou que devem ser tomadas as mesmas precauções, uma vez que um caso mais brando não deixa de transmitir o vírus. “A estatística atual [mundial] é de que mais ou menos 80% vão apresentar formas leves da doença ou assintomáticas, é possível que muitos de nós já tenham tido contato com o vírus e já tenhamos a doença, mas isso não significa que não vamos transmitir o vírus”, colocou.

Grupos de risco

Marcelo Martins reforçou a necessidade de cuidados em relação aos grupos de risco. “A média de idade das pessoas que estão falecendo é uma faixa etária superior a 70 anos, então idade avançada é um fator de risco sim. Eles desenvolvem insuficiência respiratória facilmente, insuficiência renal facilmente. Hipertensos e diabéticos não controlados são grupos de riscos, pacientes com desnutrição, são vários grupos de risco”, elencou.

Sinal vermelho no Brasil

De acordo com o especialista, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outros institutos de saúde temem que a pandemia tenha desdobramentos mais graves no Brasil. “Existe um receio da OMS e de vários institutos nacionais, que o Brasil possa ter uma população um pouco mais jovem acometida de maneira mais grave, devido as condições sanitárias, dentre outros fatores”.

Quanto a um possível colapso no sistema público de saúde de Brasil, o médico trouxe números que apontam que a rede de atendimento não vai dar conta de tratar todos os casos. “O paciente ocupa um leito em média por 20 dias. O sistema de saúde não comporta, ficamos com os leitos ocupados e travados, os sistemas de saúde mundo afora tem sido incapazes de lidar com a pandemia”.

Questionado pelo prefeito sobre a quantidade de leitos de UTIs existente no país, o intensivista afirmou que os números são preocupantes. “A resposta me gera angústia. A estatística é que temos aproximadamente 50 mil leitos de UTI apenas, e se a demanda por infecções chegar aqui com a mesma velocidade e intensidade dos outros países, não teremos a menor chance de atender a essa demanda. No Nordeste a situação é ainda pior, pois a região tem 28% da população brasileira e conta com apenas 17% dos leitos de UTI”.

Exemplos de outros países

O especialista alertou que países que descumpriram as orientações de isolamento social tiveram consequências trágicas. “Seria burrice da nossa parte não aprender com a experiência desses outros países. O Brasil tem a sorte de não ter sido o primeiro país contaminado, tem a sorte de poder aprender com os outros países. A estratégia da China começou a fazer efeito após o isolamento da população. Em 27 de fevereiro a Itália tinha menos de mil casos de coronavírus, e o prefeito de Milão foi pedir o fim do isolamento. Hoje, no dia 28 de março, a Itália tem mais de 90 mil casos, só Milão tem 5 mil mortos, e ontem o prefeito de lá foi pedir desculpas a população”.

“Ontem o presidente dos Estados Unidos recebeu uma carta assinada por mais de 800 mil médicos pedindo mais rigor no isolamento. A Alemanha, mesmo com toda a estatura está fazendo um isolamento radical, porque viu as experiências e tomou uma decisão com base técnica”, destacou.

Achatamento da curva

“A gente tem que entender o que significa essa história de achatar a curva. A covid-19 não tem cura em prevenção farmacológica, não existe remédio que vá prevenir, nossa única estratégia de prevenção é diminuir o contágio. Estou falando de 80 milhões de Brasileiros infectados nas próximas quatro ou oito semanas. Estudos que estimam o número de mortos no Brasil são assustador. E como vamos impedir isso? Com isolamento social”, defendeu Marcelo Martins.

Situação no Piauí

Ao falar cobre a estrutura do estado do Piauí, o médico não foi otimista. “O número de leitos de UTI no Piauí é muito pequeno, o número de profissionais habilitados para lidar com esses pacientes é muito pequeno. Não temos estrutura de atendimento, vamos ter que lidar agora com nossa deficiência de saúde de anos. Seria uma irresponsabilidade da minha parte não aproveitar essa oportunidade para chamar atenção para isso, não temos estrutura para aguentar uma onda forte”.

Isolamento social

Por fim, Firmino Filho falou sobre o decreto municipal que determinou a suspensão de quase todas as atividades em Teresina. O chefe do executivo indagou se tais determinações são corretas e se devem ser mantidas. “Esse decreto está fazendo sete dias, o senhor acha prudente a prefeitura anular esse isolamento social?”, perguntou.

Em resposta, o médico intensivista ressaltou que todas as medidas de restrição precisam continuar em vigor. “Com base em tudo o que já falei, sem dúvidas o decreto é correto, tendo em vista que sistemas de saúde muito mais preparados que o nosso entraram em colapso. Essa medida é absolutamente correta e necessária, não está na hora de diminuir isolamento social, essa não é uma recomendação do Marcelo, mas sim das principais sociedades médicas do mundo”.

Firmino abordou a questão do impacto do isolamento social na economia. Para ele, exemplos de pandemias anteriores mostram que, cidades que adotaram corretamente as medidas restritivas se recuperarm com mais repidez. “A última grande pandemia foi a Gripe Espanhola. Naquela época, cidade s fizeram um isolamento mais rígido e outras não. As cidades que se isolaram mais precocemente tiveram menos impacto econômico, porque a desestruturação não aconteceu ao mesmo tempo”, argumentou.

Marcelo Martins também deu sua opinião, com base em leituras que tem feito de estudos sobre economia. ”Tenho ido a exaustão tentando me informar da melhor maneira possível, e estudos dizem que o isolamento social protege a economia sim. Todas elas [suspensão ou não das atividades] causam crise econômica, mas, na sequência, as economias que pararam organizadamente se recuperaram mais rapidamente”, concluiu.

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