Inaugurado na terça-feira (18), foi aberto ao público nesta quarta-feira (19) o Museu da Natureza, localizado no Parque Nacional da Serra da Capivara, no meio do sertão piauiense. A área que abriga sítios pré-históricos foi declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1991 e voltou a ser destaque nacional por conta da inauguração do museu.
Uma figura conhecida no cenário cultural piauiense é a arqueóloga e presidente da Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham) Niède Guidon, que sempre esteve à frente das pesquisas e em busca de recursos para que o parque pudesse ir adiante. Para explanar melhor a história da criação do Museu da Natureza, o GP1 falou com o engenheiro Marcelo Andrade, responsável por colocar de pé o sonho de Niède.
“Óvni na caatinga”
Em reportagem da mídia nacional, o Museu da Natureza foi comparado a um óvni no meio da caatinga piauiense. O prédio, em formato espiral, chama bastante atenção em meio à vegetação da Serra da Capivara. Questionado sobre o formato do prédio, o engenheiro contou que a ideia foi de Elizabeth Buco, que desenhou o projeto à mão.
“A ideia do formato em espiral partiu dela. Ela fez um pré-projeto que ela desenhou a mão, inclusive está exposto no Museu do Homem Americano e a partir disso eles encaminharam pra um escritório de arquitetura em São Paulo e eles desenvolveram o projeto. Ele representa a evolução da natureza, que pra ela é em espiral”, afirmou Marcelo.
Projeto singular
A evolução da natureza, desde a criação da matéria, é mostrada no museu. A estrutura do prédio, em espiral, faz com que os turistas tenham suas próprias percepções sobre as mudanças climáticas que mudaram o planeta durante a subida de uma rampa.
“É um projeto singular que desconheço outro no Brasil e talvez no mundo, pelo formato em espiral. Toda área de exposição, 1700 metros quadrados, tem um vão de dez metros e é totalmente inclinado, sai do nível do solo e chega no nível de 8 metros quadrados e depois desce em outra rampa interna também em espiral”, explicou Marcelo Andrade.
Com um estacionamento com capacidade para seis ônibus e cerca de 300 carros, o Museu da Natureza promete impulsionar a economia da região. Para enaltecer o trabalho das pessoas que fazem a Serra da Capivara, nos banheiros do prédio foram colocadas cerâmicas produzidas no Albergue Cerâmica da Capivara.
“Sempre favoreci, sempre valorizei muito a cerâmica da região. Todo o banheiro tem uma faixa de detalhe que foi fabricado aqui na Serra da Capivara mesmo, no Albergue, mostrando todos os desenhos da Serra, as gravuras rupestres”, contou.
Atualmente o albergue produz uma linha exclusiva de cerâmicas para uma empresa de móveis de decorações que possui filial no Piauí. Para chegar na loja de Teresina, a cerâmica da Serra da Capivara vai antes para São Paulo e só então é encaminhada para a capital.
Homenagem aos trabalhadores
Niède Guidon inaugurou o museu sem a presença do governador Wellington Dias, que se atrasou para o evento. Quando o chefe do executivo chegou no complexo, a arqueóloga estava na sala de homenagem aos exploradores locais, que emocionaram Niède com seus discursos. Cerca de 60 operários trabalharam diariamente para que o museu fosse entregue dentro do prazo.
“Niede entregou diploma para cada um que trabalhou com ela e eles discursaram. Ela chorou quando eles falaram. Temos que valorizar os bravos, os que trabalham. Só sou engenheiro porque eles existem”, continuou o engenheiro.
Marcelo contou que ao chegar em Coronel José Dias, onde está instalado o museu, houve uma certa insegurança a respeito dos profissionais que seriam contratados para a execução da obra. Assim que iniciaram-se as obras, o engenheiro percebeu muitas pessoas experientes e os locais que se interessavam pela área da construção civil, eram treinados e qualificados pela equipe.
A Fumdham recebeu anteriormente a doação de placas solares que vão encaminhar energia para o Museu da Natureza, o que vai proporcionar uma economia de energia. “Toda a energia que é gerada lá e jogada para na rede elétrica, com células fotovoltaicas e essa energia vai ser consumida pelo Museu da Natureza”, explicou Marcelo.
De onde veio o dinheiro?
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) concedeu apoio financeiro de R$ 13,7 milhões para a construção do Museu da Natureza. A operação aconteceu em 2013 pelo projeto de Desenvolvimento da Economia da Cultura (BNDES Procult). O orçamento da obra teve de ser adequado à realidade dos preços de 2018.
“Nós tivemos que adequar a um orçamento real porque o orçamento foi elaborado em 2015, então a verba que foi destinada para ser executada nesse período agora se tornou obsoleto, então vai readequar e reformular todo o projeto. A maquete é totalmente diferente do que foi executado”, explicou o engenheiro.
Apesar da demora desde que o orçamento foi aprovado e a inauguração, o prazo inicial para a conclusão da obra foi de 540 dias e o museu foi entregue antes que o prazo finalizasse.
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