No dia 1º de março deste ano, o Atlas Mundial da Obesidade lançou um alerta alarmante para o Brasil. Os números revelados são preocupantes no país, onde a perspectiva para 2035 é que 127 milhões de adultos estejam com sobrepeso ou obesidade. A projeção ainda indica que desse total, 20 milhões serão crianças ou adolescentes.

Comemorado nesta segunda-feira, 4 de março, o Dia Mundial da Obesidade foi criado com o objetivo de disseminar conhecimentos e alertar para os riscos da doença. Sobre o tema, o GP1 conversou com a nutróloga Dra. Ana Tecla , que atua com ênfase na obesidade.

Foto: Alef Leão/GP1
Dra. Ana Tecla

Dra. Ana Tecla explicou quando uma pessoa é considerada obesa. “A OMS trabalha em cima do Índice de Massa Corporal (IMC), que é o peso dividido pela altura ao quadrado. Com base nesse resultado, tem-se que de 25 até 29,9 como classificação de sobrepeso. Acima de 30, a gente já considera obeso, que pode ser do tipo 1 e tipo 2, que é o acima de 40, quando se tem o sinal de alerta máximo, inclusive, é o ponto de corte quando se faz a estratégia cirúrgica, a bariátrica”, pontuou.

Mesmo sendo utilizado como uma medida padrão para classificar o peso de uma pessoa, o IMC por si só não fornece uma imagem precisa da composição corporal de um indivíduo, sendo necessária a bioimpedância.

“A OMS trabalha muito em cima de índice da massa corpórea, então todo paciente que venha a ser classificado acima de 25 e até 29,9 a gente tem que ligar o sinal de alerta, acima de 30 é sinal de alerta máximo e acima de 40 já é luz vermelha. Nós temos o exame chamado de bioimpedância, que vai dar tanto o índice de massa magra, como índice de percentual de gordura desse corpo, porque precisamos saber se aquele IMC é de gordura ou de músculo. Nós sabemos que uma pessoa pode ter o IMC acima de 25 ou de 30, mas pode estar constituído de músculo, então a gente não pode classificar somente pelo IMC, é necessária a bioimpedância”, ressaltou a nutróloga Ana Tecla.

Foto: Alef Leão/GP1
Dra. Ana Tecla

Doença crônica

Para a Dra. Ana Tecla, a obesidade é, atualmente, uma das doenças crônicas mais graves, porque dela surgem outras enfermidades. “A literatura mostra que a obesidade pode acarretar mais de 300 doenças e, dentre elas, mais de 13 tipos de neoplasias malignas, o câncer”, pontuou.

“A gente sabe que a perda de 5% do peso inicial de uma pessoa obesa já faz uma mudança incrível no combate a essas doenças que advêm da obesidade, então temos que dar início às medidas educativas nas escolas, na qualidade alimentar que estamos oferecendo a essas crianças, incentivo à atividade física tanto na escola como em casa. A obesidade é muito complexa porque temos fatores genéticos, ambientais, estilo de vida e emocionais”, declarou a nutróloga.

Anamnese na escolha do tratamento

Dra. Ana Tecla destacou a importância de uma anamnese bem feita por um profissional qualificado na escolha do tratamento ideal para o paciente. “Todos os meus pacientes passam pela anamnese e pela bioimpendância porque as estratégias serão baseadas nelas e nos exames complementares. Usamos várias estratégias desde a medicamentosa, e nesse ponto ressalto que não é para se ter preconceito no uso de medicamentos para tratamento da obesidade, porque eles são seguros, como os análogos de GLP-1, análogos da GIP e dentre muitas outras classes que podem ser de imunoterapia ou associadas, temos os bloqueadores da Lipase e muitos outros, antidepressivos, então, é uma gama de fármaco que podemos utilizar, mas para isso é preciso de uma anamnese bem feita por um profissional capacitado no tratamento da obesidade”, explanou.

“Quando vai ser feita a escolha do tratamento a gente tem que classificar o ato alimentar: é compulsivo? É o hiperfágico? É comedor noturno? Beliscador? Porque para cada classificação do padrão alimentar a gente tem um tratamento adequado, se é medicamentoso, se é necessária uma mudança de estratégia, redução de calorias. É um tabuleiro que a gente tem que mexer essas peças para que elas fiquem harmoniosas e que a gente consiga o equilíbrio”, completou Dra. Ana Tecla.

Uso de medicamentos sem orientação médica

É preciso também evitar o uso de remédios sem a devida orientação médica, como explicou a nutróloga. “Eu chamo atenção também para o uso indiscriminado da medicação sem orientação médica, que é muito comum, e a gente sabe que isso é mais deletério do que a própria obesidade. Perder peso é a nossa palavra-chave, mas sempre mantendo a composição corporal porque a gente sabe que o músculo é vida, não é apenas perder peso, é perder percentual de gordura preservando ao máximo essa massa muscular”, pontuou a Dra. Ana Tecla.

Prevenção da obesidade ainda na infância e adolescência

A nutróloga chamou atenção ainda para o cuidado com as crianças e adolescentes para evitar que se tornem adultos obesos. “Nós temos pediatras com subespecialização em nutrologia e é muito interessante porque o próprio pediatra faz o acompanhamento da criança e ver o percentual do peso daquela criança porque são dois fatores, quando está muito abaixo do peso e quando está acima, e todos são preocupantes”, comentou Dra. Ana Tecla.

“A probabilidade de crianças e adolescentes obesos se tornarem um adulto obeso é muito maior. Eu aconselho uma educação alimentar dentro do lar, vamos comer comida de verdade, em vez daquela caixinha de achocolatado, dos macarrões instantâneos, desses biscoitos recheados, vamos dar fruta, ovo, apesar da vida estar muito corrida”, analisou a nutróloga.

Segundo a Dra. Ana Tecla, os alimentos altamente processados são frequentemente mais acessíveis em termos financeiros e exigem menos tempo e esforço para preparar. No entanto, ela ressaltou que essa conveniência vem com um custo para a saúde das crianças, já que esses alimentos geralmente são ricos em açúcares adicionados, gorduras saturadas e aditivos prejudiciais.

“A gente sabe que os alimentos processados e ultra processados, pelo custo financeiro, estão mais acessíveis, porque é mais fácil ir até a prateleira, pegar o produto e jogar na lancheira do filho. É mais fácil pegar o suco de caixa que nada mais é do que água e açúcar puro do que você pegar uma fruta e transformar em um suco e fazer um lanche adequado. Eu sei que é muito corrido, mas a gente tem que pensar na saúde futura dessa criança, incentivar a atividade física, que é salutar em qualquer idade. Também quando coloca seu filho para fazer uma atividade física você tira o tempo de tela dele, que hoje é um dos fatores que acarretam a obesidade”, esclareceu a nutróloga.

Obesidade x saúde

A nutróloga Ana Tecla desmistificou ainda a ideia de que há obesos saudáveis. Para ela, pode haver obesos com ausência de doenças. “Por ‘n’ fatores que acontecem no corpo do obeso, ao meu ver, como nutróloga, eu diria que não existe obeso saudável, porque já tem o fator de desequilíbrio e a OMS classifica obeso como excesso de gordura corporal e que causa algum tipo de doença”, disse.

“A pessoa pode dizer, ‘eu não tenho diabetes’, ‘não tenho dislipidemia’, mas quando você faz o mapeamento dos fatores inflamatórios, os exames de marcadores inflamatórios, com certeza você vai estar pontuado ali que no futuro terá algo, é só um passo, eu canso de dizer que a obesidade é o caminho mais curto para se chegar a doenças, a gente falar em obeso saudável é meio contraditório, porque obesidade já é considerada uma doença crônica, então não posso dizer que o paciente que é obeso ele tenha saúde, ele pode ter ausência de doença, mas não saúde”, afirmou Dra. Ana Tecla.

Trabalhar para evitar que esses números se tornem realidade

“Vamos pegar esses números como alerta para que a gente possa impedir que se eles tornem realidade, vamos cuidar das nossas crianças dos nossos adolescentes, vamos criar medidas de combate não somente dentro de casa, mas também pelos órgãos públicos”, declarou Dra. Ana Tecla.

“Precisamos de medidas educativas para fazer com que as pessoas entendam que pequenas mudanças causam grandes transformações, como atividade física diária, mudança na qualidade nutricional, menos código de barras e comida mais natural, a comida que nossos avós comiam, arroz, feijão, carne, quanto menos desembrulhar melhor, quanto mais descascar melhor”, concluiu a nutróloga.