O vice-presidente Hamilton Mourão disse nesta sexta-feira, 13, aguardar o "momento exato" de definir se será candidato em 2022, quando o presidente Jair Bolsonaro deverá tentar reeleição. A aliados, Bolsonaro já deu sinais de que não pretende manter o general como vice em uma eventual chapa daqui dois anos. "Quando chegar a hora certa tomamos a decisão que for melhor, não só para o País, mas pra mim e minha família", afirmou Mourão em entrevista à Rádio Gaúcha.
A relação entre presidente e vice enfrenta mais um desgaste. Para interlocutores da Presidência, Mourão passou a se posicionar no jogo eleitoral quando percebeu que ficaria fora da chapa. O vice já chegou a admitir, em algumas ocasiões, que pode se candidatar a senador, daqui a dois anos. "Hoje não estou pensando nisso", disse nesta sexta-feira. "Estou hoje extremamente focado na tarefa que temos pela frente nos próximos dois anos."
O mal-estar entre os dois aumentou após o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro citar o general como uma opção de candidatura de centro nas próximas eleições ao Planalto. A declaração, feita em entrevista ao jornal O Globo, foi vista por integrantes do governo como uma evidência de que o vice e o ex-ministro continuam se falando.
A tensão nos bastidores do governo ficou explícita ao longo desta semana. Nesta quinta-feira, 12, Bolsonaro chamou de "delírio" a existência de um plano, por parte do governo, para criar mecanismos de expropriação de propriedades, no campo e nas cidades, com registros de queimadas e desmatamentos ilegais.
A medida consta de documento do Conselho Nacional da Amazônia Legal, revelado pelo Estadão. O grupo é comandado por Mourão, que lamentou a divulgação do estudo após a bronca de Bolsonaro. "Eu me penitencio", disse ontem o vice logo após o pito.
Mourão voltou ao tema nesta sexta-feira e afirmou não ter falado a respeito do plano com o presidente. Segundo o vice-presidente, a conversa sobre o assunto ocorrerá "na hora que ele (Bolsonaro) desejar". O presidente chegou a ameaçar de demissão o responsável pela proposta, mas com uma ressalva: "a não ser que a pessoa seja indemissível". Por ter sido eleito em 2018 ao lado de Bolsonaro, Mourão não pode ser demitido do cargo.
O vice reiterou hoje o discurso de que a proposta sobre expropriação de propriedades consistia em um "mero estudo" que foi ventilado. "Estamos em fase de planejamento, foi uma ideia levantada", disse. Segundo ele, a medida ainda precisaria passar por uma análise da área jurídica e pelos Ministérios da Agricultura e Meio Ambiente para então ser levada ao presidente. "O conselho não é instância decisória", acrescentou.
Estados Unidos
Na segunda-feira, 11, Bolsonaro já tinha dado sinais de seu incômodo. Em declaração à CNN, desautorizou Mourão afirmando que não conversa com ele sobre Estados Unidos nem sobre qualquer outro assunto. O vice havia dito que "na hora certa" o presidente falaria sobre o resultado das eleições americanas. Bolsonaro ainda não se manifestou sobre a vitória de Joe Biden para a Casa Branca e segue na posição de aguardar o fim das ações judiciais movidas pelo presidente Donald Trump, seu aliado.
"O que ele (Hamilton Mourão) falou sobre os Estados Unidos é opinião dele. Eu nunca conversei com o Mourão sobre assuntos dos Estados Unidos, como não tenho falado sobre qualquer outro assunto com ele", disse o chefe do Executivo.
Na mesma entrevista em que comentou sobre 2022, Mourão voltou a contrariar o presidente e disse que, como indivíduo, reconhece que a vitória de Biden "está cada vez mais irreversível", mas que não fala pelo governo.
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