O Núcleo de Promotorias de Justiça de Defesa da Mulher Vítima de Violência Doméstica e Familiar (NUPEVID), do Ministério Público do Piauí (MP-PI), divulgou nota pública de repúdio nesta sexta-feira (25) sobre o artigo com o título “O Pudor atrai o respeito do homem”, publicado também nesta sexta, em um jornal impresso local, de autoria do cronista José Maria Vasconcelos, professor aposentado do Instituto Federal do Piauí (IFPI).
A promotora de Justiça Amparo Paz, titular da 10ª Promotoria de Justiça e coordenadora do Nupevid, lamentou o fato, por meio da nota, e registrou sua preocupação, afirmando ser um desrespeito aos Direitos Humanos das Mulheres.
- Foto: Marcelo Cardoso/GP1 Promotora Amparo Paz
“Pudor se resume ao respeito entre ambos os sexos, que homens não devem em possibilidade alguma “avançar” em mulher nenhuma e sim tratar todas com respeito e respeitando seus direitos e escolhas”, diz a promotora em trecho da nota.
Confira a nota pública de repúdio na íntegra
"Em nome do Núcleo de Promotorias de Justiça de Defesa da Mulher Vítima de Violência Doméstica e Familiar (NUPEVID), do Ministério Público do Piauí (MP-PI), venho a público REPUDIAR de forma veemente o Artigo com o título “O Pudor atrai o respeito do homem”, publicado, nesta sexta-feira (25), no Jornal Diário do Povo, de autoria do Sr. José Maria Vasconcelos.
Nós lamentamos este fato e registramos nossa preocupação com o reiterado desrespeito aos Direitos Humanos das Mulheres, principalmente, quando vem ao caso de expor a nós, mulheres, fatores de culpabilização por causa de sua vestimenta, por meio de atos desrespeitosos, violentos e injustificáveis, diante dos inúmeros preconceitos que a cultura machista e a cultura do estupro impõe à imagem feminina, e, pior, pensamentos que podem levar aos atos de violência e assédio sexual ocorridos contra milhares de mulheres.
Esse conceito de culpar a mulher é cultural e lamentável. Tabu totalmente errôneo de que roupas e mulheres são culpadas pelos assédios que sofrem diariamente ou até mesmo pela falta de interesse de um homem por uma mulher "sem pudor". Da mesma forma que alertamos sempre para o fato de que o estupro também está atrelado à cultura não significa diminuir a culpa dos estupradores para saírem impunes. Pois, mulheres são estupradas independente de vestimentas. Roupas não podem interferir em nada na liberdade feminina, muito menos impor sentimento de culpa na vítima. A culpa é sempre do agressor!
Encerramos nosso repúdio a esse artigo, dizendo que PUDOR se resume ao respeito entre ambos os sexos, que homens não devem em possibilidade alguma “avançar” em mulher nenhuma e sim tratar TODAS com respeito e respeitando seus direitos e escolhas. A vida ou roupa de uma mulher não se resumem à intenção de conquistar ou exibir-se para um homem. Devemos entender que a mulher usa a roupa que ela quiser! Isso não define seu caráter e muito menos ela está pedindo para ser abusada ou assediada por ninguém!
Amparo Paz – titular da 10ª Promotoria de Justiça e Coordenadora do NUPEVID"
Autor e jornal se manifestam
O professor José Maria Vasconcelos utilizou o Facebook para se manifestar sobre a repercussão negativa que o texto teve. “Amigos, comunico-lhes que, diante da repercussão negativa alcançada pela minha crônica de hoje, resolvi retirá-la da página. Não tive a mínima intenção de agredir as mulheres, especialmente aquelas que se vestem, digamos, excedendo-se na falta de pudor. Também não tive propósito de desrespeitar instituições em defesa da mulher, especialmente as que sofrem agressões do homem. Perdoem-me se me excedi nos julgamentos”, escreveu José Maria.
O dono do jornal onde a crônica foi publicada, o ex-candidato ao Governo do Estado do Piauí, Fábio Sérvio, também utilizou o Facebook para dar o posicionamento do jornal acerca das críticas ao texto.
“Essa é a opinião do Diário do Povo: o artigo publicado hoje é um absurdo. Mas censura prévia também. Entretanto, o tema foi levantado. As pessoas não ficaram caladas diante do artigo. É o debate e enfrentamento que transforma, não o silêncio. Se esse cidadão não tivesse escrito essa asneira, não teria se criado esse movimento. O errado não é o professor ter escrito o artigo - é opinião dele. Errado seria o silêncio diante do que ele escreveu", escreveu Fábio Sérvio.
- Foto: Lucas Dias/GP1Fábio Sérvio
"Só discutimos porque essas ideias ainda existem na cabeça de algumas pessoas. A maioria guardada, intocada, o que acaba virando violência. Quando essas pessoas externam, temos a oportunidade de combater, de contrariar. E isso, além de conseguir mudar o pensamento de outras, também muda a atitude de outras tantas. O Jornal vai se pronunciar como sempre fez”, completou.
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