Ex-presidente Lula mandou matar Celso Daniel, diz Marcos Valério

O empresário Marcos Valério disse em depoimento ao Ministério Público de São Paulo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria um dos mandantes da morte do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, em 2002. As informações foram publicadas em reportagem da revista Veja, que teve acesso ao depoimento.

Marcos Valério Fernandes de Sousa é um empresário e publicitário dono de duas agências publicitárias de Minas Gerais que prestou serviços a campanhas eleitorais de diversos partidos. O empresário foi condenado a 37 anos de prisão no caso do Mensalão do PT pelos crimes de corrupção ativa, peculato, vasão de divisas e lavagem de dinheiro. A pena está sendo cumprida desde 2013.

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A chantagem

No depoimento, Marcos Valério disse que o empresário Ronan Maria Pinto, que participava de um esquema de cobrança de corrupção na prefeitura de Santo André, ameaçou envolver o presidente Lula na morte do ex-prefeito.

• Foto: Sérgio Castro/Estadão ConteúdoEx-presidente Lula

“Marcos, nós estamos com um problema. O Ronan está nos chantageando, a mim, ao presidente Lula e ao ministro José Dirceu e preciso que você resolva”, teria dito o então chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. Zé Dirceu, ao tomar conhecimento dos fatos, teria dito para Marcos Valério: “vá e resolva”.

Compra do silêncio

Em uma reunião em um hotel de São Paulo, segundo Marcos Valério, Ronan teria dito que não iria "pagar o preço sozinho”. “Eu já avisei a quem eu devia avisar, Marcos, eu não vou pagar o preço sozinho”, ameaçou.

Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT (preso pela Lava Jato) teria dito que sentiu que Ronan iria “explodir o presidente, o Gilberto e o José Dirceu”. Foi aí que o então presidente do Banco Popular do Brasil, Ivan Guimarães, lembrou que fundos de pensão mantinham aplicações milionárias no Banco Schahin, que fez um “empréstimo” de R$ 12 milhões em troca de um contrato com a Petrobras de R$ 1,6 bilhão.

Resolvido, graças a Deus

No depoimento Marcos Valério citou o momento que contou ao ex-presidente Lula que havia resolvido o problema. “Eu virei para o presidente e falei assim: ‘Resolvi, presidente’. Ele falou assim: ‘Ótimo, graças a Deus’”.

Cabeça do crime

Ainda de acordo com o depoimento de Valério, quando Ronan Maria Pinto pediu dinheiro para permanecer calado, o empresário disse que iria acusar Lula como “mandante da morte” do prefeito. Segundo Marcos Valério, Ronan ia “apontá-lo como cabeça na morte de Celso Daniel”.

Morte de Celso Daniel

Celso Daniel foi sequestrado no dia 18 de janeiro de 2002 na saída de um restaurante em São Paulo. Na ocasião ele estava na companhia do empresário Sérgio Gomes da Silva. O corpo do ex-prefeito foi achado dois dias depois, com 11 tiros.

A Polícia Civil concluiu que o crime não aconteceu por motivação política, mas o Ministério Público sustentou que o crime aconteceu porque Celso Daniel queria acabar com o esquema de propina no transporte, que tinha como objetivo abastecer o caixa dois do PT. Na época a sigla negou as acusações.