A exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, determinada pelo presidente Jair Bolsonaro, foi oficialmente publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta sexta-feira, 24.
De acordo com a publicação, assinada também pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, a exoneração foi “a pedido”. Apesar de haver especulações sobre o atual diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, como substituto de Valeixo, o documento não aponta um novo nome. Tradicionalmente, a escolha é feita pelo ministro da Justiça.
- Foto: Denis Ferreira Netto/Estadão ConteúdoMaurício Valeixo
A especulação sobre a demissão de Valeixo movimentou o Planalto nessa quinta-feira, 23. Em uma reunião pela manhã, o presidente avisou a Moro que a mudança no comando da PF já estava definida. O ministro da Justiça, por sua vez, ameaçou deixar o governo se a ordem para a troca viesse “de cima para baixo”. Segundo interlocutores do ministro ouvidos pelo Estado, ele entregará o cargo se não tiver carta-branca para a troca no comando da PF.
Nos bastidores do governo, a ameaça de Moro é foi encarada mais como uma pressão. Mesmo assim, a ala militar do governo entrou em ação para tentar contornar o novo desgaste entre o presidente e Moro. Os ministros-generais Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) conversaram com o ministro da Justiça e Segurança pública e atuaram como bombeiros na crise.
Contexto da demissão
Na prática, Valeixo já havia tratado com Moro, no início do ano, de sua saída do cargo de diretor-geral da corporação. Homem da confiança do ex-juiz da Lava Jato, o delegado demonstrou exaustão no cargo, reportando-se a um 2019 tenso no comando da PF. O ministro tentava, porém, encontrar um nome de sua confiança para o posto, quando foi surpreendido pelo comunicado de Bolsonaro de que mudanças na corporação ocorreriam nos próximos dias.
A decisão do presidente de mudar o comando da PF ocorre dias depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar a abertura de inquérito para investigar quem organizou e financiou manifestações em defesa da ditadura, no domingo. Bolsonaro participou de um ato com esse teor diante do QG do Exército, em Brasília. Ficou irritado depois que alguns de seus aliados entraram na mira da Polícia Federal.
Moro desgastado
Há no Planalto o sentimento de que a relação entre Moro e Bolsonaro vem se deteriorando com rapidez. Desde que entrou no governo, o ex-juiz tem sofrido derrotas, como o pacote anticrime travado Congresso.
Recentemente, Bolsonaro tentou dividir o Ministério da Justiça em dois, tirando de Moro a Segurança Pública. Além disso, o presidente não planeja mais, ao menos por enquanto, indicar Moro para uma vaga no Supremo.
No auge da crise do coronavírus, Bolsonaro chegou a dizer, em conversas reservadas, que o ministro da Justiça era “egoísta” e só pensava em si próprio. Em outra ocasião declarou que usaria sua caneta contra pessoas do governo que “viraram estrelas”. Para interlocutores do presidente, o recado mirava não apenas o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, demitido do cargo, mas também Moro.
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