A Rússia anunciou nesta terça-feira (19) que a Ucrânia disparou pela primeira vez mísseis de longo alcance ATACMS, fornecidos pelos Estados Unidos, contra o território russo. O ataque, ocorrido na região fronteiriça de Bryansk, teria atingido uma instalação militar, segundo a imprensa estatal russa. Fragmentos de um míssil danificado causaram um incêndio no local, mas o fogo foi rapidamente controlado e não resultou em vítimas nem danos significativos.
A utilização dos mísseis foi confirmada por um alto funcionário ucraniano à agência de notícias AFP. Embora a autorização para o envio dos ATACMS pelos EUA tenha sido anunciada há apenas dois dias, uma declaração oficial do governo ucraniano ainda não foi feita. A Rússia, por sua vez, classificou o ataque como uma "nova fase" da guerra e prometeu uma resposta "adequada".
De acordo com agências de notícias russas, o ataque ocorreu às 3h25 (horário local) e envolveu seis mísseis balísticos. A Rússia informou que cinco deles foram abatidos pelas forças de defesa, enquanto um conseguiu atingir a área alvo. O Ministério da Defesa russo confirmou que os mísseis utilizados eram os ATACMS, fabricados nos Estados Unidos.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, optou por não comentar o incidente em uma coletiva de imprensa em Kiev. No entanto, fontes militares ucranianas confirmaram à imprensa local que os mísseis usados eram, de fato, os ATACMS. Relatórios oficiais da Ucrânia indicam que o ataque causou 12 explosões secundárias em um depósito de munição localizado em Bryansk.
Lavrov acusa Ucrânia e Ocidente de escalar o conflito
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, acusou a Ucrânia e os países ocidentais de tentarem provocar uma escalada do conflito. Em visita ao Brasil para a Cúpula de Líderes do G20, Lavrov afirmou que o ataque marca uma "fase qualitativamente nova" da guerra e que a Rússia responderia "de acordo". Ele também acusou os Estados Unidos de estarem diretamente envolvidos, afirmando que os mísseis de longo alcance só poderiam ter sido operados por militares americanos.
O Kremlin já havia alertado, na segunda-feira, que a autorização do governo dos EUA para o envio dos mísseis ATACMS poderia "acirrar ainda mais a situação" e prometeu uma "resposta apropriada" caso os mísseis fossem usados contra alvos russos. O governo russo também advertiu que o uso dessas armas "significaria a implicação direta dos Estados Unidos e seus aliados nas hostilidades contra a Rússia".
Doutrina nuclear revisada e repercussões internacionais
Em meio a esse aumento da tensão, o presidente russo, Vladimir Putin, assinou um decreto ratificando a doutrina nuclear revisada da Rússia. O novo documento estabelece que um ataque contra um estado não nuclear, mas apoiado por uma potência nuclear, será tratado como um ataque conjunto. O Kremlin justificou a revisão da doutrina como necessária para adaptar os princípios de defesa nacional à situação atual.
A entrega dos mísseis ATACMS à Ucrânia foi uma demanda antiga do governo ucraniano. No entanto, os Estados Unidos haviam hesitado em fornecê-los devido ao receio de que isso pudesse ampliar o alcance do conflito e esgotar os estoques de armamentos. Quando os primeiros ATACMS foram enviados em 2023, eles tinham um alcance limitado de 160 km, e uma das condições estabelecidas pelos EUA era que os mísseis não fossem usados para atacar o território russo.
UE e OTAN reagem à escalada
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, pediu aos países do bloco que seguissem a decisão dos Estados Unidos e permitissem o uso dos mísseis para atacar alvos dentro da Rússia. "A guerra contra a Ucrânia afeta diretamente nossos valores e princípios", afirmou Borrell, destacando que "o destino dos ucranianos determinará o destino da União Europeia".
Borrell também condenou a ameaça russa de uma possível escalada nuclear, classificando-a como "irresponsável", e reafirmou a posição da UE de que uma guerra nuclear não pode ser vencida e, portanto, nunca deve ser travada.
Por sua vez, o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, também presente em uma reunião da aliança em Bruxelas, afirmou que é "crucial que Putin não consiga o que quer", pois isso fortaleceria a Rússia nas fronteiras da Europa. "Estamos prontos para fornecer o que for necessário à Ucrânia", disse Stoltenberg, reforçando que a Rússia representa uma "ameaça direta para todos nós no Ocidente".
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