O último relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) apontou que Israel realizou centenas de ataques a hospitais e ambulâncias em Gaza, resultando em mortes de civis, destruição de instalações e interrupção dos serviços médicos, precarizando ainda mais o acesso a saúde das vítimas de guerra no território. O levantamento examinou ações das forças de segurança de Israel e grupos armados palestinos e o relatório divulgado pela Comissão Internacional Independente de Investigação sobre o Território Palestino Ocupado, incluindo Jerusalém Oriental e Israel, nessa quinta-feira (10) detalha os horrores da guerra incluído os ataques contra instalações médicas e a situação de detidos e reféns passando por tratamentos no período de 7 de outubro de 2023 até agosto de 2024.
A justificativa das forças de segurança israelenses para os ataques foi a de que o Hamas estava utilizando hospitais para fins militares, incluindo-os como centros de comando e controle. O relatório também aponta que Israel não respondeu às solicitações de informação de Genebra que considerou ilegal a ocupação do país em Gaza através de um processo feito pelo Tribunal Internacional de Justiça e reafirmou sua posição após as últimas constatações de sua investigação sugerindo que esses ataques podem violar o direito humanitário internacional. No documento a organização internacional afirma:
“De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 7 de outubro de 2023 e 30 de julho de 2024, Israel realizou 498 ataques a instalações de saúde na Faixa de Gaza. Um total de 747 pessoas foram mortas diretamente nesses ataques e outras 969 ficaram feridas, e 110 instalações foram afetadas. A OMS relatou que 78% dos ataques entre 7 de outubro de 2023 e 12 de fevereiro de 2024 foram realizados por meio de força militar, enquanto 35% envolveram obstrução de acesso e 9% envolveram operações militarizadas de busca e detenção. Os ataques foram generalizados e sistemáticos, começando no norte da Faixa de Gaza (de outubro a dezembro de 2023) e depois ocorrendo no centro (de dezembro de 2023 a janeiro de 2024), no Sul (de janeiro a março de 2024) e em outras áreas (de abril a junho de 2024)”.
O relatório também aponta que, devido aos ataques a hospitais, como o Hospital Turco em Gaza, vários pacientes morreram por falta de oxigênio. O governo da Turquia, que financiava o hospital, condenou os ataques, alegando que as coordenadas da instalação haviam sido compartilhadas previamente com as forças de segurança israelenses. A partir de novembro, as forças de segurança de Israel ocuparam o hospital e o utilizaram como base para operações militares. Imagens de satélite mostraram a construção de barricadas e danos graduais ao hospital causados por equipamentos militares. A ocupação e a destruição dessas instalações afetaram gravemente o acesso a tratamentos médicos, especialmente para cerca de 10.000 pacientes com câncer, que ficaram sem atendimento após o fechamento do hospital.
Além disso, o relatório também destacou os ataques ao Hospital Awdah, o principal provedor de saúde reprodutiva no norte de Gaza, que foi repetidamente alvo das forças israelenses, mesmo após o compartilhamento de suas coordenadas por organizações humanitárias. Durante os cercos e ataques, houve escassez de alimentos, água e medicamentos, e mortes de médicos, funcionários e civis foram registradas.
Também foi denunciada no documento a tortura de reféns israelenses pelo Hamas e outros grupos armados palestinos. Os agentes da ONU observaram o uso de táticas de guerra psicológica, onde os reféns, sofreram isolamento forçado e falta de acesso a cuidados médicos, água e alimentos. Israelenses, incluindo crianças e idosos foram mantidos em condições precárias, alguns foram confinados em túneis ou outros espaços superlotados. Relatos de abuso sexual e outras formas de violência também foram mencionados no registro.
A ONU destaca a necessidade de responsabilização e melhores condições de tratamento para os prisioneiros e cativos de ambos os lados. A Comissão também identificou sinais de abuso físico nos corpos de três homens que segundo o Hamas morreram durante um bombardeio das forças de segurança israelenses, entre esses homens estava Sahar Baruch (25 anos) e Itay Svirsky (38 anos) que foram encontrados apresentando sinais de possíveis marcas de estrangulamento e lacerações no rosto e nos braços confirmados por um patologista forense independente.
O relatório aborda diversas mortes de reféns em cativeiro de ambos os lados, confirmando que, até setembro de 2024, pelo menos 70 reféns já não estavam vivos. O Hamas também declarou que a maioria dos refens morreu durante operações militares israelenses e a Comissão confirmou que alguns reféns realmente foram mortos pelas forças israelenses ao tentarem se render. Além disso, investigações sobre outros casos de reféns mortos indicaram a presença de ferimentos por armas de fogo, com as circunstâncias da morte ainda sob investigação.
O relatório conclui com uma análise dos ataques às infraestruturas de saúde na Faixa de Gaza, destacando que as forças israelenses destruíram hospitais e mataram profissionais de saúde, além de restringir o acesso a suprimentos médicos. Essas ações são classificadas como violações do direito humanitário internacional e do direito à autodeterminação do povo palestinos, já que os ataques tiveram impactos devastadores na saúde da população civil, exacerbando uma já precária situação de cuidados médicos na região.
Algumas das recomendações da ONU tanto para Israel quanto para Hamas incluem:
1. Implementar medidas para garantir que todas as partes envolvidas respeitem o direito internacional humanitário e os direitos humanos, cessando o apoio a violações, e pede que as nações e organizações envolvidas no conflito explorem medidas de responsabilização contra os perpetradores de crimes internacionais e graves violações de direitos humanos nos territórios ocupados;
2. Colaborar com a investigação do Tribunal Penal Internacional para assegurar que as violações cometidas sejam devidamente investigadas e que os responsáveis sejam julgados de acordo com os padrões internacionais;
3. Apoiar esforços para a paz e a justiça na região, promovendo soluções que respeitem os direitos dos povos palestinos e israelenses, visando à construção de uma coexistência pacífica baseada no respeito mútuo e no cumprimento das normas internacionais.
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