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Sanções econômicas vão frear Putin, diz embaixador da União Europeia

Em entrevista, Ignácio Ybañez afirmou que guerra na Ucrânia não demandará uma intervenção militar formal.

A imposição de sanções econômicas sobre a Rússia será capaz de frear o presidente Vladimir Putin com o passar do tempo e, assim, a guerra na Ucrânia não demandará uma intervenção militar formal dos países da Otan, segundo avaliação é do embaixador da União Europeia no Brasil, Ignácio Ybañez.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o embaixador minimiza a postura de suposta neutralidade no conflito adotada pelo presidente Jair Bolsonaro e prefere focar nos votos do Brasil contrários à Rússia nas instâncias da ONU. Ainda assim, ressalta Ybañez, é preciso ampliar o diálogo com o País sobre a guerra. “Vamos tentar ajudar o Brasil a ter uma compreensão melhor da situação”, diz.


Leia a entrevista:

As sanções anunciadas pelos EUA e pela União Europeia contra a Rússia ainda não foram capazes de parar a guerra. Putin será mesmo freado pelo lado da economia ou o Ocidente terá de entrar com armas no conflito - o que, em última instância, poderia levar a uma guerra mundial?

Estamos convencidos de que as sanções terão efeito muito forte sobre a economia russa. Claro que não são coisas imediatas. Mas já temos resultados e a prova é a reação dos próprios russos. O Irã teve sanções fortes, tomou certo tempo para reagir, mas se sentou à mesa da negociação em 2015 graças às sanções. Quando você vê o desastre da guerra, as pessoas morrendo e fala depois de decisão sobre o Swift, pode parecer que não são coisas no mesmo patamar. E não são, porque a vida humana é o maior valor. São patamares diferentes, mas são medidas que têm efeitos. Queremos evitar uma extensão da guerra, como seria o confronto de qualquer país membro da Otan contra a Rússia. Se um dos países da Otan é atacado, todos se consideram atacados e têm que reagir. É um cenário que queremos evitar.

O presidente Jair Bolsonaro não condenou veementemente a invasão da Ucrânia. Como a União Europeia avalia essa postura?

Nós valorizamos os votos do Brasil [contrários à Rússia] no Conselho de Segurança e na Assembleia-geral das Nações Unidas. Isso foi muito positivo. Podemos compreender as preocupações do presidente Bolsonaro sobre como responder aos desafios que essa situação vai gerar para o Brasil. Os efeitos sobre os fertilizantes são uma preocupação legítima. Vamos continuar conversando com o governo brasileiro sobre a nossa posição [na guerra] e sobre a importância dessa reação unânime, unida e forte da comunidade internacional. Vamos tentar ajudar o Brasil a ter uma compreensão melhor da situação, mas insisto que o que temos que valorizar são os votos e o Brasil.

A União Europeia corre o risco de perder o fornecimento de gás russo e ainda assim se posiciona com vigor contra Putin. Não falta um posicionamento mais firme do presidente Bolsonaro, que está pensando mais nas consequências do que na origem do problema?

Nós somos vizinhos da Rússia, estamos vendo essa ameaça de uma forma mais direta. A verdade é que pode ser ver as coisas de forma diferente à distância. É importante cada um ter uma responsabilidade. Vamos tentar entender a posição do Brasil e estou seguro de que o Brasil tenta compreender a posição da União Europeia. É um diálogo com total respeito às autonomias das partes. O Brasil tem mostrado que tem capacidade de ser autônomo na comunidade internacional. Estamos satisfeitos com o Brasil, mas ainda buscamos nos compreender melhor e nos ajudar mais.

A postura de Bolsonaro pode dificultar de alguma forma a tramitação do acordo União Europeia-Mercosul. que está travado?

Ao contrário. Tanto a covid-19 quanto a crise da Ucrânia nos reitera a necessidade de procurar parceiros comerciais. Para os dois blocos, o acordo é ainda mais necessário. Se há uma lição a mais que temos desse conflito da Ucrânia, é que precisamos de parceiros confiáveis. Os países do Mercosul, e o Brasil, em particular, são muito confiáveis. Então, eu diria que a crise é um elemento que reforça a nossa vontade de chegar ao acordo. Ele está praticamente finalizado na negociação. Faltam pequeníssimos detalhes, mas fica um tema muito importante que é o da sustentabilidade. Em particular, o tema do desmatamento.

Como a União Europeia pode ajudar o Brasil a diminuir a dependência dos fertilizantes russos, de modo que o presidente Bolsonaro possa se distanciar mais de Putin?

Estamos falando com nossos parceiros. É um desafio que estamos tendo na própria Europa: buscar alternativas para muitos produtos e, principalmente, para a energia da Rússia. Estou seguro de que ideias vão surgir e da boa vontade do Brasil para demonstrar a força dessa união frente ao conflito da Rússia. Ao reforçarmos as sanções, haverá um custo para os europeus e para o conjunto da comunidade internacional. Estamos trabalhando para nos prepararmos melhor para isso. Muitos especialistas dizem que tínhamos que ter nos preparado antes para sermos menos dependentes da Rússia na energia. Mesmo assim, a União Europeia não vai recuar com as suas sanções.

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