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Reitor talibã impede mulheres de frequentarem Universidade de Cabul

A decisão remonta a ações que grupo fundamentalista implementava em seu primeiro governo.

Intensificando as restrições do Talibã às mulheres, o novo reitor da Universidade de Cabul, pertencente ao grupo fundamentalista, anunciou na segunda-feira que as mulheres serão impedidas, indefinidamente, de entrar na instituição, seja como professoras ou como estudantes.

"Eu dou a vocês minha palavra, como reitor da Universidade de Cabul", escreveu no Twitter, na segunda-feira, Mohammed Ashraf Ghairat. ""Enquanto não for previsto um verdadeiro ambiente islâmico para todos, as mulheres não poderão vir para as universidades ou trabalhar. Primeiro o Islã."


A nova política universitária repete a primeira vez em que o Talibã esteve no poder, entre 1996 e 2001, quando as mulheres só tinham permissão para sair de casa se acompanhadas por um parente masculino, eram espancadas por desobediência e eram totalmente afastadas da escola a partir dos 10 anos.

Algumas funcionárias, que trabalharam com relativa liberdade nas últimas duas décadas, criticaram a decisão, questionando a ideia de que o Taleban teria o monopólio de definir a prática da fé islâmica.

"Neste lugar sagrado, não havia nada que não fosse islâmico", disse uma professora, falando sob condição de anonimato por medo de represálias, como fizeram várias outras entrevistadas pelo The New York Times. "Presidentes, professores, engenheiros e até mesmo mulás são treinados aqui e treinados para a sociedade. A Universidade de Cabul é o lar da nação do Afeganistão", afirmou.

Nos dias após a tomada do poder pelo Talibã, em agosto, as autoridades se esforçaram para insistir em que a nova fase seria melhor para as mulheres e que elas teriam permissão para estudar, trabalhar e até mesmo participar do governo. No entanto, nada disso aconteceu.

Os líderes do Talibã nomearam, recentemente, um gabinete só com homens. O novo governo também proibiu as mulheres de retornar aos locais de trabalho, citando preocupações com a segurança, embora as autoridades tenham descrito essa proibição como temporária.

Há duas semanas, o Talibã substituiu o reitor da Universidade de Cabul, a principal faculdade do país, por Ghairat, um integrante de 34 anos do movimento que se referiu às instituições de ensino do país como "centros de prostituição".

Esse foi outro duro golpe para o sistema de ensino superior afegão, que havia sido impulsionado durante anos por centenas de milhões de dólares em ajuda estrangeira, mas que vem sofrendo um retrocesso desde o retorno do Talibã ao poder, em 15 de agosto.

"Não há esperança, todo o sistema de ensino superior está em colapso", disse o ex-porta-voz do Ministério do Ensino Superior, Hamid Obaidi, que também foi professor da Escola de Jornalismo da Universidade de Cabul.

Dezenas de milhares de estudantes estão em casa porque suas universidades estão fechadas. A Universidade Americana do Afeganistão, na qual os Estados Unidos investiram mais de US$ 100 milhões, foi completamente abandonada e assumida pelo Taleban.

Professores e conferencistas de todo o país, muitos dos quais foram educados no exterior, deixaram seus cargos, antecipando regulamentações mais rigorosas por parte do Talibã. O governo já está nomeando puristas religiosos, muitos com experiência acadêmica mínima, para chefiar as instituições.

Em um ato simbólico de resistência, o Sindicato dos Professores do Afeganistão, na semana passada, enviou uma carta ao governo exigindo a rescisão da nomeação de Ghairat. O jovem reitor também foi criticado nas redes sociais por sua falta de experiência acadêmica.

Em contato com o The New York Times, alguns de seus colegas de classe o descreveram como um estudante isolado com visões extremistas que tinha problemas com os outros alunos e professoras. "Ainda nem comecei o trabalho", disse Ghairat, rejeitando os temores provocados por sua nomeação, em entrevista à publicação. "Como eles sabem se eu sou qualificado ou não? Que o tempo seja o juiz", concluiu, acrescentando que seus 15 anos trabalhando em assuntos culturais para o Taleban fizeram dele um candidato perfeito para o cargo.

Embora algumas mulheres tenham retornado às aulas em universidades privadas, as universidades públicas do país continuam fechadas. Mesmo que reabram, parece que as mulheres serão obrigadas a frequentar aulas segregadas, com apenas mulheres como instrutoras.

Mas, com tão poucas professoras disponíveis - e muitas delas ainda estão publicamente impedidas de trabalhar -, diversas mulheres, quase certamente, não terão aulas para frequentar.

Centenas de professores ou estudantes ainda estão tentando sair do Afeganistão. Muitos têm entrado em contato com organizações estrangeiras com as quais estavam associados no passado e imploram por patrocínio para que possam ser removidos do país.

Em Washington, um alto funcionário do Departamento de Estado sinalizou, na segunda-feira, uma irritação crescente com o Talibã pelo fato de que pessoas que se considera que sofrem alto grau de ameaça de retaliação - incluindo mulheres que participaram de programas de treinamento americanos - não tenham sido autorizadas a viajar ou deixar o país livremente.

O trauma enfrentado pelos estudantes afegãos foi resumido na experiência de uma estudante de 22 anos da Universidade de Cabul que conversou com o The New York Times na semana passada.

Em novembro, com a capital ainda nas mãos do governo pró-Ocidente, membros do Taleban armados entraram em uma sala de aula na Universidade de Cabul e abriram fogo, matando 22 de seus colegas de classe. Depois de escapar por uma janela para salvar sua vida, a jovem foi baleada na mão enquanto fugia do prédio.

Ela ficou traumatizada e com dores crônicas, mas ainda assim continuou a frequentar as aulas. Em agosto, quando os combatentes talibã entraram em Cabul, ela estava a apenas meses de receber seu diploma. Agora, com o decreto do Taleban, seu sonho parece ter se tornado impossível.

"Todo o trabalho árduo que fiz até agora parece que se foi", disse. "Eu me vejo desejando ter morrido naquele ataque com meus colegas de classe, ao invés de viver para ver isso", disse.

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