Residentes de Cabul lutaram para encontrar dinheiro nesta quarta-feira, 25, mesmo depois que o Talibã ordenou que os bancos reabrissem pela primeira vez em mais de uma semana, em meio à alta dos preços - e da incerteza - no Afeganistão.
Os militantes islâmicos - que viram muitas fontes importantes de renda nacional serem sufocadas - agora proibiram as pessoas de retirar dólares do Afeganistão. Zabihullah Mujahid, o porta-voz do Talibã, declarou na terça-feira que eles impediriam os afegãos de transportar dólares "por ar ou terra" e confiscariam as notas.
Muitos caixas eletrônicos estão vazios na capital e as pessoas tiveram que esperar horas para sacar dinheiro nos últimos dias. Alguns residentes de Cabul disseram ao The Washington Post que só conseguiram encontrar um caixa eletrônico aberto na manhã de quarta-feira.
Em meio à crescente pressão, os insurgentes ordenaram que alguns burocratas de nível médio do Ministério das Finanças e do Banco Central do Afeganistão retomassem o trabalho, já que o novo regime enfrenta um aperto de caixa e uma crise humanitária iminente.
“As pessoas estão ficando sem dinheiro e todos aguardando a reabertura dos bancos”, disse um médico na capital, sob condição de anonimato, devido à delicadeza da situação.
A saída apressada de funcionários treinados, jornalistas, defensores dos direitos humanos e outros está deixando o país dilacerado pela guerra sem a experiência necessária para governar, como explicaram analistas. “É hora de as pessoas trabalharem por seu país”, disse Mujahid. “Precisamos da experiência delas.”
Na manhã de ontem, depois que o Talibã ordenou que os bancos reabrissem pela primeira vez desde a tomada da capital, em meados de agosto, os residentes disseram que a maioria das portas dos bancos continuava fechada. Longas filas se formaram de fora de alguns bancos, mas não ficou claro se algum realmente abriu suas portas ou se apenas o acesso a caixas eletrônicos estava liberado.
“Não recebemos relatos de abertura dos bancos, mas tudo ficará normal em breve para acabar com as preocupações das pessoas”, disse Bilal Karimi, assessor de Mujahid.
Mas o aumento dos preços, o fechamento de empresas e a corrida por dinheiro aumentaram a incerteza na cidade. A moeda local – afegane– caiu desde que o Talibã encenou seu rápido avanço em meio à retirada militar dos EUA.
Outra moradora, observando de casa enquanto os preços de bens básicos como farinha e arroz sobem, disse estar preocupada. “Precisamos que uma rotina diária seja revivida em breve; caso contrário, haverá preocupações mais sérias”, disse ela ao Washington Post, também sem se identificar.
O Afeganistão já era um dos países mais pobres do mundo e dependia muito da ajuda externa, que o Banco Mundial estimou no ano passado como responsável por cerca de 43% de uma economia atingida por décadas de conflito. Essa ajuda está agora em perigo.
Mais pobreza no Afeganistão
O economista Muhammad Dawood Niazi, que vive em Cabul, disse que o futuro também depende de como o Talibã governará o país desta vez. Ele alertou que a incerteza prolongada pode levar a economia à queda livre e mais pessoas à pobreza.
“Essa mudança inesperada de governo paralisou tudo no Afeganistão. Negócios, comércio e outras atividades econômicas”, disse ele. “As pessoas são as que mais sofrem.”
“Deus me livre, se um governo for anunciado que não seja aceitável para o mundo. Então teme-se o pior cenário econômico, que pode empurrar mais pessoas para a pobreza”, alertou, enquanto a comunidade internacional aguarda o resultado das discussões do Talibã para formar um novo governo.
Uma nova rodada de sanções ocidentais, uma possibilidade levantada pelo secretário de Relações Exteriores britânico, Dominic Raab, prejudicaria ainda mais a economia.
Preocupado com o impacto do retorno do Talibã, o Banco Mundial suspendeu o financiamento na quarta-feira para projetos no Afeganistão – até 30% do orçamento civil do país.
O governo de Joe Biden também cortou o acesso aos bilhões de dólares de reservas do Banco Central afegão mantidas em contas bancárias dos EUA. Os serviços de transferência eletrônica, incluindo a Western Union, também interromperam as operações, afetando o fluxo vital de dinheiro dos afegãos para o exterior.
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