A ansiedade aumentou nesta quarta-feira, 25, entre milhares de afegãos que estão dispostos a tudo para fugir do novo regime do Talibã, depois que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, confirmou que as operações de retirada no aeroporto de Cabul terminarão na próxima semana.
Milhares de afegãos estão aglomerados há vários dias na entrada do aeroporto da capital, protegido por mais de 6.000 soldados americanos, com a esperança de embarcar em um dos voos fretados pelos países ocidentais.
Apesar da situação caótica, Washington já ajudou a retirar 70.700 pessoas do Afeganistão, incluindo 4.000 americanos, desde a criação de uma ponte aérea em 14 de agosto, na véspera da entrada dos taleban em Cabul e de seu retorno ao poder.
Milhares de estrangeiros, ou afegãos que temem por suas vidas por terem trabalhado para o governo derrubado ou para as forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nas últimas duas décadas de guerra, também foram retirados por países aliados.
Durante uma reunião virtual na terça-feira do G7, Biden descartou prolongar além de 31 de agosto a presença militar no Afeganistão, uma possibilidade que chegou a ser cogitada para permitir a conclusão da operação de retirada.
"Estamos a caminho de terminar em 31 de agosto a missão, que busca retirar pessoas da forma mais eficiente e segura", declarou o presidente americano, que foi pressionado por vários líderes europeus para prorrogar o prazo.
O respeito à data-limite depende, no entanto, da cooperação dos taleban para permitir a chegada ao aeroporto dos que desejam sair do país, destacou Biden.
Em seu comunicado final, o G7 também fez um apelo para que os taleban, que retornaram ao poder após uma derrota em 2001 para uma coalizão liderada pelos Estados Unidos, garantam uma "passagem segura" aos que desejam deixar o Afeganistão.
Biden estabeleceu o dia 31 de agosto para a retirada das tropas estrangeiras, depois de citar em um primeiro momento a data simbólica de 11 de setembro, quando os atentados de 2001 completarão 20 anos.
"Risco de ataque"
Vários países aliados alertaram que a data de 31 de agosto não permitirá a retirada de todas as pessoas, ainda mais porque, para que o fim da missão seja efetivo neste dia, a operação deve ser interrompida antes. A França anunciou que vai encerrar as ações na quinta-feira à noite.
Biden justificou a decisão de não estender a missão pelo "crescente risco de ataque" do grupo extremista Estado Islâmico (EI) no aeroporto.
Os talibãs reiteraram a veemente oposição a qualquer prorrogação das retiradas, o que o movimento fundamentalista chamou de "linha vermelha".
Durante uma entrevista coletiva, o porta-voz taleban Zabihullah Mujahid acusou Washington e seus aliados de esvaziar o país de pessoas com formação, como engenheiros e médicos, que trabalharam com os países ocidentais.
"Eles têm aviões, têm o aeroporto, deveriam retirar seus cidadãos e os terceirizados daqui, mas não deveriam estimular os afegãos a fugir", disse Mujahid. "Este país precisa da experiência deles", completou.
Muitos afegãos de áreas urbanas e com formação temem que o Talibã estabeleça o mesmo regime fundamentalista de quando governou entre 1996 e 2001, especialmente brutal para as mulheres.
Preocupação com a economia
Os talibã sabem que devem basear o governo nas estruturas administrativas existentes, pois não contam com a bagagem necessária para governar sozinhos e, sobretudo, para reativar uma economia devastada pela guerra e muito dependente da ajuda internacional.
Fora de Cabul, nas zonas rurais e em algumas cidades, as pessoas tentam aproveitar o fim de décadas de guerra, mas as mulheres e as minorias étnicas temem por seu futuro.
Em alguns lugares, os islamitas separaram homens e mulheres no trabalho, ou nas escolas. Durante o regime anterior dos talibãs, as mulheres não eram autorizadas a trabalhar, nem a estudar.
"A atitude dos talibãs é mais flexível do que as pessoas esperavam, mas muitos estão preocupados com a economia", afirmou um trabalhador humanitário em Khost (sudeste), uma região mais conservadora que a capital.
Os talibãs ainda não formaram um governo, pois alegam aguardar a saída das tropas estrangeira. Sem leis válidas em todo território, as normas são diferentes dependendo da região.
Os islamitas se esforçam para tentar apresentar uma imagem mais moderada à população e à comunidade internacional, mas não conseguem convencer a maioria das pessoas.
A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, estabeleceu como "linha vermelha" o tratamento dos taleban às mulheres e meninas.
Mujahid afirmou que as funcionárias públicas afegãs poderão retornar ao trabalho quando a segurança estiver garantida, mas que, por enquanto, devem permanecer em casa.
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