Antony Sher, um dos mais aclamados atores shakespearianos, o preferido do príncipe Charles, morreu ontem, aos 72 anos, segundo informou a Royal Shakespeare Company, onde trabalhou por quase 40 anos desde que se juntou à companhia, em 1982. Sher foi diagnosticado com câncer terminal no começo do ano. Seu companheiro, o diretor artístico da Royal, Gregory Doran, se licenciou para cuidar do parceiro.
Sher nasceu em Cape Town, no sul da África, em 1949, e militou duramente contra o apartheid e o racismo. Interpretou os principais papéis nas peças de Shakespeare, entre eles performances memoráveis como Rei Lear, Macbeth e Ricardo III. É provável que nenhum ator de sua geração tenha rivalizado com ele na interpretação de Falstaff ou o Shylock de O Mercador de Veneza.
Também se destacou em peças do repertório clássico, como Tartufo, de Molière, ou moderno, como o Willy Loman de A Morte de um Caixeiro Viajante, de Arthur Miller. Após ganhar os principais prêmios do teatro inglês e ser indicado ao Tony, principal prêmio do teatro americano, por sua interpretação do artista Stanley Spencer em Stanley, no National Theatre e na Broadway, Antony Sher passou a se dedicar a um repertório mais intimamente ligado à sua origem judaica e sul-africana. Ele adaptou para o palco o mais conhecido livro de Primo Levi, É Isto um Homem?, um monólogo inquietante sobre as memórias do escritor em Auschwitz, que fez carreira na Broadway em 2005.
O último grande papel de sir Antony Sher na Royal Shakespeare Company foi em Kunene and the King, do escritor John Kani, em que ele interpreta um veterano ator diagnosticado com câncer. Sher também apareceu em filmes que alcançaram grande popularidade, como Shakespeare in Love (Shakespeare Apaixonado, 1998), peça que teve o roteiro escrito por Tom Stoppard e Marc Norman, filmada pelo diretor John Madden.
Sher e seu companheiro Gregory Doran formaram um dos primeiros casais gays após o reconhecimento da união civil entre homossexuais na Inglaterra, em 2005. Eles casaram em 2015. Como se sabe, a Inglaterra condenava homossexuais à prisão até 1961, quando o filme Victim (Meu Passado me Condena), dirigido por Basil Dearden e com Dirk Bogarde no papel principal, foi exibido em júri, para provar que os gays eram chantageados por sua condição para não serem presos.
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