Encarar uma onça-pintada pode até parecer um pesadelo para alguns, mas foi a realização de um sonho para Jorge Neumann. O médico de 69 anos viajou dias para ter uma rara oportunidade - fotografar a vida selvagem no Pantanal brasileiro. As fotos do profissional, que é referência nacional em transplantes de órgãos, ficaram tão boas que ele decidiu reuni-las em um livro. Assim nasceu Vida, Entre o Céu e a Terra, compilação de poemas e imagens de aves, répteis e outros animais que acaba de ser lançada pela editora Liliana Reid.
O livro faz parte de projeto da Biometrix Diagnóstica, que adquiriu os 1.500 exemplares disponíveis e promove a campanha Asas Que Salvam Vidas, que destina 100% dos recursos arrecadados com a venda dos livros a ONGs que apoiam causas relacionadas à doação de órgãos. “Sou médico há 45 anos e sei das dificuldades enfrentadas pelas famílias de quem está à espera de um transplante. O trabalho das ONGs faz a diferença na vida de muitos.”
Além dos bichos da Região Centro-Oeste, o livro também apresenta fotos feitas na Região Sul do País, especialmente em Lagoa do Peixe e Tavares. A escritora, jornalista e editora Paula Teitelbaum ficou responsável pelo texto e o design gráfico é de autoria de Alice Neumann, filha do médico.
“Adoraria saber pintar, mas sou péssimo pintor. Para mim, fotografar é como pintar com a luz”, relata Neumann. O transplantista, que começou a tirar fotos na infância por influência do pai, acredita que seus registros fotográficos servem não só para apreciar os animais, mas também como alerta. “É uma forma de mostrar como a natureza é bela, mas também frágil. É muito fácil perder a vida selvagem, seja com secas ou com queimadas. Fotografar é tornar um instante permanente.”
Neumann começou a fotografar animais na pandemia, por incentivo de um amigo. Primeiramente, eles foram até a Lagoa do Peixe e Tavares. Ali, o médico se apaixonou pela fauna nacional. O destaque, no entanto, vai para as aves. “São coloridas, vivazes e alegres, mas também fugidias. É um desafio fotografá-las e mostrar”, revela o transplantista.
Animado com a primeira iniciativa, a dupla de amigos decidiu ir mais longe. Enquanto o mundo se trancava, ambos se aventuraram pelo Pantanal em busca da vida selvagem. “Levantávamos antes das 6 da manhã, comíamos e depois navegávamos o dia inteiro pelo Rio São Lourenço. O clima era de 40º, quente demais. É uma experiência bem pesada, mas encantadora.”
A onça
O encontro com a onça, o ápice da viagem, foi celebrado por todos que conviveram com Neumann e seu amigo durante a jornada. “Tirar foto de um animal raro ou arredio é uma satisfação enorme”, revela o médico ao contar que ficou a 10 metros do felino. Mas fotografia e medicina não são as únicas paixões de Neumann, que também pilota aviões planadores e garante que as três atividades se conectam mais do que se possa imaginar.
“São três atividades que carregam a ciência em seu DNA”, afirma, citando os desafios técnicos da fotografia, da medicina e da pilotagem. Mas ele acredita ainda que há algo de artístico em suas três paixões. “Há uma sensibilidade na medicina, uma percepção necessária que conversa com o artístico. Já em aviões planadores, você está em contato direto com a natureza. Neles, não há nada que o sustente no ar a não ser a natureza. E a fotografia é como pintar com a luz.”
Ver todos os comentários | 0 |