O âncora e editor-chefe do "Jornal Nacional", William Bonner, foi autuado pela Receita Federal acusado de irregularidades em contrato com a Globo. Além de Bonner, pelo menos mais 20 outros âncoras, jornalistas, artistas e ex-profissionais da emissora já receberam multas do Fisco. As informações são do colunista Ricardo Feltrin, da UOL.
William já recorreu da autuação milionária, assim como a Globo, que nega qualquer irregularidade, tanto nos contratos atuais como nos passados.
A megaoperação da Receita, que está investigando supostas irregularidades em contratos de profissionais da TV brasileira, foi revelada no ano passado quando mais de 40 artistas da Globo foram autuados.
A acusação
A Receita Federal acusa artistas e a Globo de conluio para reduzir o pagamento de impostos e de sonegar o Fisco por meio da chamada "pejotização", ou seja, em vez de serem contratados com carteira assinada, esses profissionais optam por um acordo com a Globo (ou outras empresas) por meio de suas empresas pessoais —as chamadas pessoas jurídicas.
Com a "pejotização", isso lhes dá a liberdade de terem outras atividades: fazer cinema, teatro, propagandas, "merchans", apresentação de eventos e presenças "vip" em eventos (pagas, claro) etc.
Para a Receita, no entanto, isso é uma manobra para reduzir as alíquotas devidas e sonegar impostos, pois em vez de pagarem 27,5% sobre seus rendimentos na Globo (como ocorre com pessoas físicas com salários mais altos), os profissionais "pejotizados" pagam alíquotas menores (15% sobre o total mais 10% sobre o que exceder R$ 20 mil mensais).
As autuações também já atingiram âncoras e ex-jornalistas da Record, como Reinaldo Gottino e Adriana Araújo. No entanto, a Globo até agora concentra o "grosso" dos investigados e multados.
O que diz o STF
O Supremo Tribunal Federal decidiu em dezembro de 2020 que é válido e constitucional o artigo 129 da Lei 11.196/2005, que trata da legislação prevista às pessoas jurídicas para fins fiscais e previdenciários, aos prestadores de serviços intelectuais, inclusive os de natureza científica, artística ou cultural.
A ação foi movida pela Confederação Nacional da Comunicação Social (CNCOM), entidade representante das empresas do setor, que pediu ao STF a ratificação dessa modalidade de contratação, "diante de decisões tomadas da Justiça do Trabalho, da Justiça Federal e do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) que reconheceram a esses trabalhadores a aplicação da legislação pertinente às pessoas físicas, ou seja, contratação mediante vínculo empregatício com base nas normas trabalhistas vigentes".
Para a CNCOM, "órgãos como a Receita vêm desqualificando o regime jurídico previsto no artigo 129, considerando que a medida 'precariza' as relações de trabalho e serve de pretexto para burlar a atuação do fisco sobre o pagamento de encargos trabalhistas por meio da chamada "pejotização". Segundo a entidade, a controvérsia "causa insegurança jurídica e ameaça a livre atividade econômica".
Outro lado
O colunista procurou William Bonner, por meio da CGCom, não se manifestou sobre o assunto, mas a Globo vem reiterando desde o ano passado que todos os vínculos contratuais estão dentro da legalidade.
A emissora afirma que não só seus funcionários, mas a própria emissora tem direito de contestar cobranças que consideram injustas, e que estão fazendo isso.
Confira abaixo a nota:
"A Globo não comenta questões relacionadas a procedimentos administrativos, próprios ou de terceiros, mas esclarece que todas as formas de contratação praticadas pela empresa, inclusive em relação ao jornalista William Bonner, estão dentro da lei e todos os impostos incidentes são pagos regularmente.
Assim como qualquer empresa, a Globo é passível de fiscalizações, tendo garantido por lei também o direito de questionar, em sua defesa, possíveis cobranças indevidas do fisco. Assina: Central Globo de Comunicação."
Ver todos os comentários | 0 |