Fechar
GP1

Entretenimento

Oprah faz discurso sobre assédio no Globo de Ouro

"Cada um de nós nesta sala é celebrado por causa das histórias que contamos, e este ano nós nos tornamos a história".

Homenageada com o Prêmio Cecil B. DeMille, concedido anualmente pela Associação de Correspondentes Estrangeiros a figuras notáveis da indústria audiovisual americana, a atriz e apresentadora Oprah Winfrey foi protagonista de um dos momentos mais emocionantes da cerimônia de entrega do Globo de Ouro 2018, que aconteceu na noite deste domingo (7).

  • Foto: Instagram/Hugo GlossOprah WinfreyOprah Winfrey

Conforme o Globo, em seu discurso de agradecimento, que deu o que falar em todo mundo, Oprah lembrou do Oscar concedido em 1964 a Sidney Poitier por sua atuação em "Olhai os lírios do campo". Ela também mencionou a morte recente de Recy Taylor, aos 98 anos, uma mulher negra raptada e estuprada em meados dos anos 1940, no estado americano do Alabama, e deixada à beira de uma estrada por seus agressores brancos. Na época, a ativista dos direitos civis Rosa Parks, conhecida por enfrentar a proibição de negros andarem nos ônibus na parte da frente, assumiu o caso e o levou à Justiça.


Ela também falou sobre os recentes casos de assédio sexual em Hollywood: "Cada um de nós nesta sala é celebrado por causa das histórias que contamos, e este ano nós nos tornamos a história". Desde que as acusações de violências sexual em Hollywood vieram à tona, esse é o primeiro evento que reuniu tantas celebridades. A grande maioria das atrizes foi ao evento vestindo preto, em apoio ao movimento Time’s Up, da luta pelo fim dos assédios.

  • Foto: ReutersGlobo de OuroGlobo de Ouro

Sobre a imprensa ela disse: “Eu quero dizer que valorizo a imprensa mais do que nunca, enquanto tentamos navegar esses tempos complicados, o que me faz pensar nisso: o que eu sei, com certeza, é que falar sua verdade é a ferramenta mais poderosa que todos nós temos”.

Leia o discurso na íntegra:

"Obrigada, Reese [Witherspoon]. Em 1964, eu era uma garotinha sentada no chão de linóleo da casa da minha mãe em Milwaukee, assistindo Anne Bancroft apresentar o Oscar de melhor ator, na 36ª edição do prêmio. Ela abriu o envelope e disse cinco palavras que literalmente fizeram história: 'O vencedor é Sidney Poitier'. O homem mais elegante que eu já vi subiu ao palco. Sua gravata era branca, sua pele era negra – e ele estava sendo celebrado. Nunca havia visto um homem negro ser celebrado dessa maneira.

Tentei muitas, muitas vezes explicar o que um momento como esse significa para uma garotinha, uma criança que olha a mãe passar pela porta, cansada até os ossos de limpar a casa de outras pessoas. Mas tudo o que posso fazer é citar aquela música que Sidney cantou em 'Os lírios do campo': 'Amém, amém, amém, amém'.

Em 1982, Sidney recebeu o prêmio Cecil B. DeMille aqui no Globo de Ouro, e eu sei que, neste momento, há algumas garotinhas assistindo eu me tornar a primeira mulher negra a receber esse mesmo prêmio. É uma honra, é uma honra e é um privilégio compartilhar a noite com todas elas e também com os incríveis homens e mulheres que me inspiraram, que me desafiaram, que me apoiaram e fizeram minha jornada até esse ponto possível. Dennis Swanson, que apostou em mim para o talk show 'A.M. Chicago'. Ele me viu no programa e disse ao Steven Spielberg: 'Ela é a Sophia de ‘A Cor Púpura’'. Gayle, minha amiga, e Stedman, meu porto seguro.

Quero agradecer à Associação dos Correspondentes Estrangeiros. Sabemos que a imprensa está sob cerco nos dias de hoje. Nós também sabemos que é a dedicação insaciável para descobrir a verdade absoluta que nos impede de fechar os olhos para a corrupção e a injustiça – para tiranos e vítimas, e segredos e mentiras. Eu quero dizer que valorizo a imprensa mais do que nunca, enquanto tentamos navegar esses tempos complicados, o que me faz pensar nisso: o que eu sei, com certeza, é que falar sua verdade é a ferramenta mais poderosa que todos nós temos.

E eu estou especialmente orgulhosa e inspirada por todas as mulheres que se sentiram fortes o suficiente e empoderadas o suficiente para falar e compartilhar suas histórias pessoais. Cada um de nós nesta sala é celebrado por causa das histórias que contamos, e este ano nós nos tornamos a história. Mas essa não é uma história que afeta apenas a indústria do entretenimento. É uma história que transcende qualquer cultura, geografia, raça, religião, política ou local de trabalho.

Então, eu quero hoje a noite expressar gratidão a todas as mulheres que sofreram anos de abuso e agressão porque elas, como minha mãe, tiveram filhos para se alimentar e contas a pagar e sonhos para perseguir. São as mulheres cujos nomes nunca conheceremos. São trabalhadoras domésticas e trabalhadoras agrícolas. Elas estão trabalhando em fábricas, em restaurantes, estão nas universidades, engenharia, medicina e ciência. Elas fazem parte do mundo da tecnologia, da política e dos negócios. Elas são nossos atletas nas Olimpíadas e elas são nossas soldadas nas Forças Armadas.

E há outra pessoa, Recy Taylor, um nome que conheço e acho que vocês também deveriam conhecer. Em 1944, Recy Taylor era uma jovem esposa e mãe que caminhava para casa voltando da igreja que ela frequentava em Abbeville, no Alabama, quando foi raptada por seis homens brancos armados, estuprada e deixada com os olhos vendados ao lado da estrada. Indo para casa, depois da igreja.

Eles ameaçaram matá-la se ela alguma vez contasse a alguém, mas sua história foi relatada à Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor, onde uma jovem trabalhadora chamada Rosa Parks se tornou a investigadora principal em seu caso e juntas buscaram justiça. Mas a Justiça não era uma opção na era de Jim Crow. Os homens que tentaram destruí-la nunca foram perseguidos. Recy Taylor morreu há dez dias, pouco antes de seu aniversário de 98 anos.

Ela viveu como todos nós vivemos, muitos anos em uma cultura destruída por homens brutalmente poderosos. Por muito tempo, não ouviam as mulheres, ou não acreditavam nelas quando ousavam falar a verdade sob o poder desses homens. Mas esse tempo acabou. Esse tempo acabou. Esse tempo acabou.

E eu só espero – eu só espero que Recy Taylor tenha morrido sabendo que sua verdade, como a verdade de tantas outras mulheres que foram atormentadas naqueles anos, e até agora atormentadas, segue adiante. Estava em algum lugar no coração de Rosa Parks, quase 11 anos depois, quando tomou a decisão de ficar sentada no ônibus em Montgomery, e está aqui com todas as mulheres que escolhem dizer: 'Eu também'. E está em todo homem – todo homem que escolhe ouvir.

Na minha carreira, o que sempre tentei fazer de melhor, seja na televisão ou no cinema, é dizer algo sobre como homens e mulheres realmente se comportam. Para dizer como sentimos vergonha, como amamos e como nos enfurecemos, como falhamos, como recuamos, perseveramos e como superamos. Entrevistei e retratei pessoas que resistiram às coisas mais feias que a vida pode oferecer, mas uma qualidade que todos parecem compartilhar é a capacidade de manter a esperança para uma manhã mais clara, mesmo durante as noites mais sombrias.

Então, eu quero que todas as garotas assistindo aqui, agora, saibam que um novo dia está no horizonte! E quando esse novo dia finalmente amanhecer, será por causa de muitas mulheres magníficas, muitas das quais estão aqui neste auditório, esta noite e alguns homens fenomenais, lutando para garantir que se tornem os líderes que nos levam ao tempo em que ninguém nunca mais terá de dizer “Eu também”.

Confira os premiados da noite:

TV

Melhor Ator em Série Limitada ou Filme para a TV - Ewan McGregor

Melhor Série Limitada ou Filme para a TV - Big Little Lies

Melhor Ator Coadjuvante de TV - Alexander Skarsgard - Big Little Lies

Melhor Atriz em Série Limitada ou Filme para a TV - Nicole Kidman - Big Little Lies

Melhor Série de Comédia ou Musical - The Marvelous Mrs Maisel

Melhor Série de Drama - The Handmaid's Tale

Melhor Atriz de TV - Musical ou Comédia - Rachel Brosnahan - The Marvelous Mr. Maisel

Melhor Ator de TV - Musical ou Comédia - Aziz Ansari - Master of None

Melhor Atriz Coadjuvante de TV - Laura Dern - Big Little Lies

Melhor Ator de Série de Drama - Sterling K. Brown - This Is Us

Melhor Atriz de Série de Drama - Elizabeth Moss - The Handmaid's Tale

CINEMA

Melhor Animação - Viva - A Vida é uma Festa

Melhor Filme de Drama - Três Anúncios Para Um Crime

Melhor Filme de Comédia ou Musical - Lady Bird - É Hora de Voar

Melhor Filme em Língua Estrangeira - In The Fade

Melhor Ator de Filme de Drama - Gary Oldman - O Destino de uma Nação

Melhor Atriz de Filme de Drama - Frances McDormand

Melhor Atriz em Filme de Comédia ou Musical - Saoirse Ronan - Lady Bird - É Hora de Voar

Melhor Ator em Filme de Comédia ou Musical - James Franco - The Disaster Artis

Melhor Ator Coadjuvante em Filme - Sam Rockwell - Três Anúncios Para Um Crime

Melhor Atriz Coadjuvante em Filme - Alison Janney - I, Tonia

Melhor Diretor em Filme - Guillermo del Toro - A Forma da Água

Melhor Trilha Sonora de Filme - Alexandre Desplat - A Forma da Água

Melhor Canção Original - This is Me, de Benj Pasek e Justin Paul - O Rei do Show

Melhor Roteiro - Três Anúncios Para Um Crime

Mais conteúdo sobre:

Ver todos os comentários   | 0 |

Facebook
 
© 2007-2024 GP1 - Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do GP1.