Com o temor de uma derrota na reunião da executiva nacional do PSDB marcada para esta terça-feira, 17, em Brasília – quando tucanos discutirão o impasse em torno da pré-candidatura para o Palácio do Planalto –, a equipe do ex-governador João Doria já prepara uma ofensiva jurídica. A ideia é evitar que a cúpula partidária faça qualquer movimento para barrá-lo no intuito de apoiar a senadora Simone Tebet (MDB-MS). A defesa do paulista prevê ainda uma disputa por recursos do fundo eleitoral caso a candidatura de Doria se dê em meio a uma guerra de decisões judiciais.
Termina nesta quarta-feira, 18, o prazo para que MDB, PSDB e Cidadania definam se seguirão juntos, ou não, na busca de um palanque único. Os partidos haviam se comprometido a definir um nome de consenso na chamada terceira via para se contrapor à polarização na disputa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).
O problema é que Doria insiste em ser cabeça de cabeça de chapa por ter ganhado as prévias tucanas de novembro do ano passado. Agora o impasse se dá porque uma pesquisa quantitativa e qualitativa foi contratada para guiar a escolha do candidato. Doria já havia se queixado do uso do levantamento e aliados chamaram a iniciativa de tentativa de “golpe”.
Em meio ao processo de radicalização do embate entre Doria e a executiva do PSDB, o fundo eleitoral já aparece como fator de desgaste. Quando ainda era coordenador da pré-campanha do ex-governador, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, havia prometido ao pré-candidato o repasse de R$ 65 milhões. No entanto, após o rompimento com Araújo e a ameaça de judicialização, Doria pode conseguir a manutenção da candidatura na Justiça, mas não ter nenhuma garantia de repasse dos recursos.
“O fundo eleitoral é uma questão mais complexa e precisa passar pela executiva nacional. É um debate que precisa ser construído internamente”, disse ao Estadão Arthur Rollo, advogado de Doria. Especialista em Direito Eleitoral, ele foi contratado pelo ex-governador para comandar a estratégia jurídica no enfrentamento com o PSDB. Rollo afirmou que a legenda não pode deixar o cofre de Doria, mesmo se a campanha for sub judice, totalmente vazio. “O PSDB vai precisar dar algo do fundo eleitoral. Há jurisprudência do TSE (Tribunal Superior Eleitoral)”, disse.
Sobre os movimentos mais recentes de Araújo, que convocou a reunião para hoje, o advogado foi taxativo e disse que qualquer decisão contrária à pré-candidatura do ex-governador será “nula”. “A convocação foi genérica e não houve sequer o direito de defesa para o ex-governador. A executiva nacional não tem esse poder. Está tudo errado”, afirmou.
Segundo Rollo, a depender do resultado do encontro, ele vai protocolar uma medida judicial no TSE imediatamente. O gesto, porém, seria mais simbólico, uma vez que, na avaliação do advogado, qualquer anúncio da sigla seria inócuo. “O estatuto do PSDB tem regras bastante específicas. É a primeira vez que questionam o resultado de prévias no partido.”
Isolamento
Como mostrou o Estadão, a sinalização de Doria de recorrer à Justiça Eleitoral isolou ainda mais o ex-governador no partido. Já do lado do MDB, Simone afirmou ontem que será candidata se for a mais bem avaliada na pesquisa encomendada pelas legendas, mesmo com a ameaça de Doria de questionamentos.
“Nós aceitamos as regras do jogo e amanhã (hoje) temos o resultado dele. Se porventura o meu nome for indicado na (pesquisa) quali, eu serei pré-candidata pelo meu partido, independentemente de outros partidos se somarem conosco ou não”, disse a senadora, durante palestra em ciclo de debates promovido pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Em outra frente, o coordenador da pré-campanha de Doria e presidente do PSDB-SP, Marco Vinholi, articulou uma investida nas redes sociais e apostou na militância tucana para evitar que o partido abra mão de ter candidato próprio. “Vamos defender a manutenção do resultado das prévias e continuar com a pré-campanha. Politicamente o resultado das prévias fortalece nossa posição”, afirmou o dirigente.
A pré-campanha de Doria divulgou ontem um levantamento que aponta uma reação da militância tucana nas redes sociais após o presidente de honra do partido e ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso sair em defesa do ex-governador. Segundo a equipe de Doria, foram mais de 12 mil menções no Twitter, o que levou a hashtag DoriaPresidente aos trending topics em oitavo lugar, um dia depois da carta que Doria divulgou – assinada com Rollo – com a alegação de tentativa de golpe no partido. O movimento atingiu 60 tuítes por minuto, segundo a pré-campanha.
Discordância
O posicionamento de FHC, contudo, causou desconforto entre aliados de tucanos. Anteontem, o ex-presidente manifestou apoio ao ex-governador em uma rede social. “Agiu bem o candidato João Doria. Ressaltando que o resultado das prévias deve ser respeitado”, escreveu.
Ontem, o presidente do Cidadania, Roberto Freire, legenda que formou uma federação partidária com o PSDB, respondeu à publicação do ex-presidente, também em rede social. Segundo Freire, as prévias do partido aliado sempre foram respeitadas, desde quando foram iniciadas as conversas em busca de uma candidatura única, ainda com a presença do União Brasil à mesa. “João Doria era o candidato do PSDB. O da unidade poderá ser ou não. Com admiração”, escreveu ele a Fernando Henrique.
No início das negociações, o União Brasil – fusão de PSL com DEM – participava da construção da candidatura única. Neste mês, Luciano Bivar, presidente da sigla, anunciou o desembarque do projeto e confirmou sua própria pré-candidatura ao Planalto.
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