Fechar
GP1

Economia e Negócios

PIB cresce 4,6% em 2021, mas guerra piora perspectiva para 2022

A economia do Brasil cresceu 0,5% no quarto trimestre do ano passado ante o terceiro do mesmo.

A economia do Brasil terminou 2021 confirmando a recuperação completa das perdas registradas com a pandemia de covid-19 em 2020, mas o ritmo lento da atividade no quarto trimestre e, agora, a guerra na Ucrânia, lançam dúvidas sobre o desempenho deste ano, que pode passar de uma esperada estagnação para uma retração. Com alta de 0,5% no quarto trimestre ante o terceiro, o Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todo o valor gerado na economia) cresceu 4,6% no ano passado, ante queda de 3,9% em 2020, informou nesta sexta-feira, 4, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na prática, após atingir o fundo do poço no segundo trimestre de 2020, auge da pandemia, a economia se recuperou entre o terceiro trimestre daquele ano e o primeiro de 2021. O desempenho dos três primeiros meses garantiu o avanço do ano passado. Nas palavras da economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, após voltar ao nível pré-pandemia, a economia “ficou de lado”.


O economista-chefe do banco Original, Marco Caruso, descreveu o desempenho do biênio 2020 e 2021 como “um grande zero a zero”. “Os 4,6% (de crescimento em 2021) nos devolvem para níveis pré-pandemia e mostram o quanto 2022 será um ano complicado”, disse o economista.

A recuperação do fim de 2020 a 2021 se deu de forma heterogênea, assim como foi heterogênea a forma como a pandemia desorganizou a economia, favorecendo alguns setores e prejudicando outros. Indústria e agropecuária saíram na frente na retomada, enquanto o setor de serviços, que responde por cerca de 70% da economia e é o mais afetado pelas restrições ao contato social, demorou mais para pegar o ritmo.

Só que o desempenho da indústria foi perdendo fôlego ao longo dos trimestres, por causa da demanda pouco firme e do travamento das cadeias globais de produção, que, desde 2020, vem causando escassez e encarecimento de componentes – a falta de semicondutores para a fabricação de automóveis é um dos ícones do problema. Já o crescimento dos serviços foi ganhando ritmo à medida que o avanço da vacinação contra covid-19 foi permitindo a volta ao “normal” de uma série de atividades, com o relaxamento de medidas de restrição ao contato social.

Serviços, agropecuária e indústria

Por causa dessa heterogeneidade e dos ritmos distintos, no quarto trimestre, os serviços cresceram 0,5% ante o terceiro trimestre, enquanto a agropecuária avançou 5,8% e a indústria recuou 1,2%. No agregado de 2021, houve crescimento de 4,7% nos serviços e de 4,5% na indústria. Afetada por problemas climáticos, com a estiagem e as geadas, a agropecuária encolheu em 0,2% ante 2020.

A reabertura da economia ao longo de 2021 também permitiu uma relativa melhora do mercado de trabalho, que já emprega número recorde de pessoas, embora com salários mais baixos – a renda média do trabalho terminou o ano passado no menor valor da série histórica do IBGE, iniciada em 2012.

Essa relativa melhora no mercado de trabalho, além dos pagamentos de novas rodadas do Auxílio Emergencial, ainda que com valores menores do que em 2020, impulsionou o consumo das famílias, principal componente do PIB pelo lado da demanda. O consumo cresceu 0,7% no quarto trimestre e fechou 2021 com avanço de 3,6%. Ainda pela ótica da demanda, a formação bruta de capital fixo (FBCF, a medida dos investimentos no PIB) avançou 0,4% no trimestre e 17,2% no ano.

“No início, houve uma recuperação sem empregos. Depois, o PIB andou de lado, mas com uma composição mais favorável aos empregos, ainda que abrindo vagas informais e que pagam pouco”, afirmou Bráulio Borges, economista sênior da LCA Consultores, ressaltando que a recuperação do nível de atividade econômica ao patamar anterior à pandemia não pode ser definida como um resultado positivo, já que, antes da covid-19, esperava-se crescimento em 2020 e 2021.

Agora, segundo economistas, esse processo de “normalização” está praticamente esgotado, faltando apenas alguma recuperação nos serviços mais afetados pelo isolamento social, como bares, restaurantes, hotéis e atividades de lazer. O problema é que, já no fim do ano passado, economistas alertavam que, terminada a “normalização”, há poucos motores para impulsionar a economia.

A inflação elevada – turbinada por choques de oferta de alimentos, energia e combustíveis, pelo encarecimento de matérias-primas e pela alta do dólar, que só passou a dar alívio neste início de 2022 – minou ainda mais o rendimento das famílias, segurando o consumo, ao mesmo tempo em que levou o Banco Central (BC) a elevar os juros básicos, esfriando uma demanda já não muito aquecida.

“O crédito mais caro, o ambiente de instabilidade e o comportamento dos indicadores de confiança não nos deixam ser muito otimistas com 2022”, afirmou o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani.

Para Caruso, do banco Original, o ano não começou “tão bem, com a pandemia voltando a piorar temporariamente e a guerra no exterior”. A guerra na Ucrânia tende a agravar o quadro. Novas rodadas de valorização de matérias-primas, como o petróleo, pressionarão ainda mais a inflação, levando o BC a manter os juros elevados por mais tempo, ou, até mesmo, ir mais longe nos aumentos. O alívio nas cotações do dólar neste início de ano, que “ajudaria muito no processo de desinflação”, nas palavras de Alessandra Ribeiro, pode acabar apenas evitando uma nova escalada muito forte da inflação.

“Ainda não mudamos nenhum número (de projeção) por causa da guerra, porque depende muito da duração. Quanto mais prolongado o conflito, maiores os efeitos. Se for mais prolongado, haverá um efeito adicional na inflação, mas é um cenário econômico pior em relação ao que tínhamos previamente, que já não era muito bom”, afirmou a economista da Tendências.

(Colaboraram Cícero Cotrim e Marianna Gualter)

Mais conteúdo sobre:

Ver todos os comentários   | 0 |

Facebook
 
© 2007-2024 GP1 - Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do GP1.