Sem conseguir vender ativos, a ex-líder do mercado de livrarias Saraiva está prestes a entregar mais um aditivo de seu plano de recuperação judicial, na tentativa de finalmente realizar sua assembleia de credores, já várias vezes remarcada, e encerrar um imbróglio que dura mais de três anos. Aprovar o plano é um ponto-chave para que a varejista consiga sobreviver – mesmo com um porte muito distante do que já teve. Ao entrar em recuperação judicial, sua dívida era de quase R$ 700 milhões.
Segundo fontes próximas ao caso, as mudanças do plano de recuperação realizadas ao longo dos últimos meses são bastante pontuais e não mudam as premissas. A rede propõe que os credores possam optar por um deságio de 80% da dívida, com o pagamento do restante em ações da empresa, que é listada na Bolsa. A segunda opção é a de receber até 2048, com o início do pagamento em 2026 e juros de 0,5% ao ano.
Nos bancos
Da dívida com garantias (não quirografária), grande parte está nas mãos do Banco do Brasil – mais de R$ 120 milhões. Uma fatia bem menor pertence ao Itaú Unibanco.
O BB não tem se colocado contra o plano, mas suas decisões têm sido lentas, o que explica o longo período de ajustes. Ainda que o prazo para a realização da assembleia esteja perto do fim, um novo adiamento não é descartado, apesar de fontes alegarem otimismo de que o BB estará pronto para votar o plano a partir do dia 16 deste mês, conforme o cronograma.
O BB também vem tentando vender seu crédito da Saraiva para fundos de investimento. Internamente, a leitura é de que, se isso ocorrer, poderá ser positivo para o plano, pois pode acelerar sua aprovação.
Outra parte da dívida da empresa está nas mãos de fornecedores, como editoras e prestadores de serviços. Há ainda os aluguéis de shoppings, que não foram pagos. O acerto com esse grupo, contudo, já teria sido feito. A visão interna é de que sair da recuperação judicial ajudará a Saraiva a voltar a ter produtos em consignação (a loja expõe o produto, sem a necessidade de compra) e não precisaria mais gastar seu caixa para ter sortimento em suas prateleiras.
Longo processo
A Saraiva está em recuperação judicial desde 2018. Com dívidas na época na ordem de R$ 674 milhões, não conseguiu vender os ativos que seriam utilizados para pagar os credores e para injetar dinheiro na operação. No ano passado, fez a terceira tentativa de vender um conjunto de lojas e o seu e-commerce, mas não atraiu interesse.
Recentemente, Marcos Guedes, terceiro líder da empresa em dois anos, deixou a presidência. Segundo fontes do setor editorial, com a saída dele, perdeu-se o canal com a Saraiva.
No último relatório divulgado nos autos do processo, o administrador judicial, a RV3, informa que a Saraiva registrou em 2021 um prejuízo de R$ 15,7 milhões. Em dezembro, mês importante para o varejo por conta do impulso do Natal, a Saraiva viu suas vendas líquidas caírem 44%. Segundo o mais recente resultado da empresa, referente a setembro, a Saraiva tinha 37 lojas, sete a menos do que um ano antes. No início de 2017, um ano antes da recuperação judicial, eram 113 lojas.
O futuro da Saraiva remete também ao atual contexto das livrarias no Brasil. A Livraria Cultura, que também já foi uma das maiores do País, é outra que luta para sair de sua recuperação judicial. A briga das duas é para não ter o mesmo desfecho da Laselva, que teve sua falência decretada em 2013.
Procurada, a Saraiva não respondeu à solicitação da reportagem.
Crise em números:
R$ 15,7 milhões foi o prejuízo registrado pela Saraiva em 2021.
37 é o número de lojas que a Saraiva tem hoje; em 2017, um ano antes de iniciar o processo de recuperação judicial, eram 113.
44% foi quanto caíram as vendas líquidas da rede em dezembro, período em que o varejo normalmente tem o desempenho impulsionado pelo Natal.
Ver todos os comentários | 0 |