O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, emplacou o economista José Gomes da Costa como presidente interino do Banco do Nordeste (BNB). Gomes da Costa foi oficializado nesta segunda-feira, 17, no cargo e vai acumular a nova função com a diretoria financeira do banco. Após descobrir que o economista havia sido filiado ao PT, o presidente Jair Bolsonaro resistiu à indicação, mas acabou cedendo à forte pressão do aliado político.
Dados da Justiça Eleitoral mostram que Gomes da Costa se filiou ao PT da Bahia em fevereiro de 2003, na cidade de Lauro de Freitas. A filiação aparece como “excluída” em novembro de 2009 e “cancelada” em junho de 2019. Atualmente, ele não está em nenhum partido.
Alvo de escândalos de corrupção em governos passados, o BNB ganhou os holofotes em 2005, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, quando um assessor do deputado José Guimarães (PT-CE) foi pego com R$ 209 mil em espécie na mala e US$ 100 mil na cueca. Apurações do Ministério Público Federal mostraram que o dinheiro seria oriundo de propina, a partir de contratos com o banco. À época, o presidente do BNB, Roberto Smith, era indicado por Guimarães. No ano passado, a Justiça Federal arquivou o processo contra o deputado.
Em setembro, Costa Neto gravou vídeo exigindo a demissão de Romildo Rolim, então presidente do BNB. O motivo apontado foi um contrato de R$ 583 milhões com o Instituto Nordeste Cidadania (Inec), ligado ao PT no Ceará. Desde a saída de Rolim, o banco vinha sendo comandado por Anderson Possa, que acumulava a função com a de diretor de negócios.
O Estadão apurou que o interesse envolvido na mudança é o microcrédito. A área conta com R$ 15 bilhões por ano e o presidente interino do BNB deve trabalhar para que a Camed Corretora administre os recursos. Além disso, Costa Neto – preso e condenado no mensalão – quer a colaboração de seu apadrinhado para afrouxar as regras de nomeação do presidente do BNB e, mais adiante, emplacar outro nome no cargo.
Coordenador da bancada do Nordeste no Congresso, o deputado Júlio Cesar (PSD-PI) confirmou que a escolha de Gomes da Costa – funcionário de carreira do BNB, com cargo de superintendente em Salvador desde o fim de 2017 – é de responsabilidade do partido de Bolsonaro. “A indicação coube ao PL”, disse Júlio César. Ele lembrou que o partido já havia tentado conquistar antes o comando do BNB para Gomes da Costa, mas não obteve sucesso.
O banco opera o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste, que tem previsão orçamentária de R$ 26,6 bilhões para este ano. Com relevância no desenvolvimento da região, o BNB sofre fortes pressões políticas e é controlado pelo PL.
Rolim, que havia chegado à presidência do BNB em 2017, na gestão de Michel Temer (MDB), era apadrinhado pelo então presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE). Com a troca de governo, Rolim buscou apoio em outros partidos do Centrão. Em 2020, Costa Neto já havia tentado tirar Rolim do cargo. À época, o indicado era Alexandre Cabral, ex-presidente da Casa da Moeda. Cabral chegou a ser nomeado para comandar o BNB, mas ficou apenas um dia na função. Pesaram contra ele investigações para apurar contratos fraudulentos na Casa da Moeda.
Banco diz que presidente foi escolhido pelo Ministério da Economia
Em nota, o BNB afirmou que o novo presidente foi “escolhido pelo Ministério da Economia por sua experiência profissional e acadêmica” e negou a ingerência política na instituição. “Gomes é economista pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com mestrado em Economia pela mesma universidade, possui MBA em finanças pela Escola de Economia do Rio de Janeiro, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e formação em ‘banking’, pela Escola de Administração de São Paulo, também da FGV”, informou o banco.
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