O Banco do Brasil já pregou avisos de fechamento nas portas de pelo menos 160 unidades de sua rede, considerando agências tradicionais e postos de atendimento, segundo mapeamento preliminar feito pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Finaceiro (Contraf) e obtido pelo Estadão/Broadcast. Apesar da crise gerada no Palácio do Planalto, o plano de reestruturação, anunciado em janeiro, não só foi mantido como já começa a ser implementado.
A lista oficial das agências que serão fechadas - em um total de 112 -, porém, ainda não foi divulgada pelo BB. Segundo o secretário-geral da Contraf, Gustavo Tabatinga, funcionário do banco, o conglomerado se nega a passar aos funcionários as unidades que serão encerradas, postura que ele afirma ser inédita. "O banco alega questões de mercado, mas, em todas as reestruturações feitas no passado, o banco nos passava essas informações, até para que possamos orientar os trabalhadores", disse o sindicalista, em entrevista ao Estadão/Broadcast.
Diante da negativa do BB, os bancários se mobilizaram e começaram a mapear, por conta própria, as agências e os postos de atendimento que já estavam em processo de encerramento. Para isso, foram de unidade em unidade para verificar quais delas já contavam com o cartaz que avisa do fechamento aos clientes, uma obrigação que o banco tem de cumprir 30 dias antes do encerramento de fato.
O levantamento é considerado preliminar porque a Contraf não tem presença em todos os municípios onde o BB tem alguma unidade. O número, portanto, pode ser maior.
O plano do BB envolve a desativação de 361 unidades ao longo do primeiro semestre, sendo 112 agências tradicionais, sete escritórios e 242 postos de atendimento. Além disso, haverá a conversão de 243 agências em postos de atendimento e oito postos de atendimento em agências, transformação de 145 unidades de negócios em Lojas BB, sem guichês de caixa, relocalização compartilhada de 85 unidades de negócios e criação de 28 unidades de negócios (14 agências especializadas agro e 14 "escritórios digitais leves").
Nordeste
Pelo mapeamento do Contraf, a região mais afetada será a Nordeste, com 60 unidades com cartazes já colados. O Estado com maior número de encerramentos em andamento, por enquanto, é São Paulo, com 17, seguido do Rio de Janeiro, com 14, e o Pará, com 13.
"Fechar agências numa pandemia é jogar as pessoas para a aglomeração e exclusão bancária. Há agências que estão em cidades que só têm aquela agência e vão ficar sem banco", afirma Juvandia Moreira, presidente da Contraf.
Segundo o levantamento, 23 municípios ficarão sem nenhuma agência tradicional do BB, a maioria no Nordeste: seis na Bahia (Caem, Gentil do Ouro, Itaquera, Lajedo do Tabocal, Pau Brasil e Uibai), quatro em Sergipe (Nossa Senhora de Lourdes, Monte Alegre, Pacatuba e Tomar de Geru), duas no Ceará (Santo Antônio do Jaguaribe e Itaiçaba), uma em Alagoas (Passo do Camaragibe) e uma na Paraíba (Alagoa Grande).
Também ficarão órfãos cinco municípios do Pará (Água Azul do Norte, Curuca, Monte Dourado, Ourem e Ourilândia do Norte), um no Acre (Mâncio Lima), um no Mato Grosso (Ribeirão Cascalheira), um no Paraná (Laranjal) e um em Rondônia (Alto Alegre dos Parecis).
De acordo com Tabatinga, da Contraf, já há uma chiadeira nesses municípios por parte de políticos e da população. "Quando um município recebe uma agência, é visto como uma conquista, porque o cidadão deixa de precisar ir a um município vizinho. Então, ninguém quer abrir mão. Já tem um monte de audiência pública marcada em câmaras municipais", conta.
O banco tem afirmado, contudo, que os municípios que ficarem sem agências tradicionais do BB terão pelo menos um posto de atendimento ou um correspondente bancário. Em fevereiro, o banco contava com 4.389 agências, de acordo com dados compilados pelo Banco Central (BC) e atualizados mensalmente. "Estamos em 4.883 municípios. Após o plano, estaremos presentes em 4.883 municípios. Nenhum município será desassistido", disse o presidente do BB, André Brandão, em recente conversa com a imprensa sobre os resultados do banco.
Procurado para falar sobre o mapeamento feito pela Contraf, o BB não comentou.
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