O Banco Central estuda mudar a regra de correção da caderneta de poupança, a principal fonte para os financiamentos à casa própria e ainda hoje o investimento mais popular dos brasileiros.
A medida não é para agora, exigirá um prazo para consulta pública e uma transição longa e feita em etapas. Mas a fala do presidente do BC, Roberto Campos Neto, revelando os estudos em andamento, durante evento do setor imobiliário, acabou colocando o tema da remuneração da poupança em debate na véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), quando a taxa Selic, hoje em 7,75%, poderá ultrapassar 8,5%.
Pela regra em vigor, se os juros passarem desse patamar, a caderneta passaria a render 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (hoje, zerada). Com a Selic abaixo de 8,5%, o rendimento da poupança é de 70% da taxa Selic mais a TR. Esse modelo existe desde 2012 e foi adotado na época para permitir a redução dos juros naquele momento.
O BC quer que a poupança tenha uma correção mais próxima daquela que é usada para fazer o financiamento de projetos imobiliários. Hoje, há um descasamento de prazos e de indexadores. A caderneta, que tem uma liquidez de curto prazo (ou seja, o poupador pode a qualquer momento fazer o saque do dinheiro), é também fonte do crédito imobiliário, em geral de longo prazo, entre 20 anos e 30 anos.
Esse descasamento exige um colchão de liquidez alto (uma reserva) para fazer frente aos saques. O ponto em análise pelo BC é que se a poupança tivesse um indexador mais próximo daquele que é usado para o financiamento, esse colchão tão elevado não seria necessário, liberando mais recursos para o sistema.
O BC tem há mais de um ano um grupo de estudo dedicado a fazer uma nova fórmula da poupança que funcione melhor como captador de recursos e como repassador. Embora a mudança exija cautela e muito cuidado na implementação, poderá ser anunciada ainda em 2022, durante o governo Bolsonaro. O assunto vem sendo discutido com os bancos.
“Com a Selic em 2%, estávamos preocupados com a migração alta para a poupança. Com a taxa de juros subindo, temos preocupação com a saída de recursos da poupança”, enfatizou Campos Neto no evento, quando foi provocado por um participante que questionou os depósitos compulsórios altos da poupança e propôs a criação de uma caderneta indexada ao IPCA.
Segundo o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, essa mudança é uma demanda antiga do setor. “Faz anos que está em todas as propostas que da Cbic ter indexador de índice de preços e não a TR, que é manipulada pelo governo”, diz.
Para Rodrigo Sgavioli, head de Alocação e Fundos da XP, a dinâmica de relacionamento da poupança com o investidor brasileiro vem mudando e cada vez mais a aplicação vem sendo usada como um “pit stop” (parada) dos recursos para serem gastos por pouco tempo ou uma reserva de emergência. Um instrumento fácil de acessar e de resgatar, o qual o poupador opta mesmo que perca em rentabilidade.
“Ouso dizer que no ano passado a poupança foi alvo de uma captação absurda sendo que deveria ser o contrário. Minha percepção é que a poupança foi vista como um lugar seguro quando todo mundo ficou com medo da pandemia num momento de aversão a risco”, avalia.
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