Após embates entre ministros por mais recursos para bancar obras públicas, o governo prepara uma medida provisória para abrir um crédito extraordinário de cerca de R$ 5 bilhões para custear investimentos em infraestrutura e ações indicadas por parlamentares, segundo apurou o Estadão. O acordo em torno da medida foi selado na quarta-feira, 12, entre o presidente Jair Bolsonaro, ministros e lideranças do Congresso Nacional.
Depois de se reunir com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no Palácio da Alvorada, Bolsonaro defendeu a manutenção do teto de gastos, mecanismo que limita o avanço das despesas à inflação e que ficou na linha de tiro após a pressão por mais gastos. Nas conversas internas, porém, o presidente deu aval ao uso do crédito extraordinário, uma das poucas exceções possíveis para que despesas fiquem livres de qualquer limitação imposta pelo teto.
O uso de créditos extraordinários para bancar obras públicas, sob o argumento de estimular a economia após os impactos da pandemia de covid-19, era uma defesa do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. O ministro tem adotado como mantra a fala de que a ordem de Bolsonaro é não deixar obras paradas no País.
Diante da contínua pressão de ministros e parlamentares por mais recursos para obras, no entanto, o governo tomou a decisão de abrir o crédito extraordinário independentemente da consulta. O valor é menor que os R$ 35 bilhões pretendidos inicialmente pelos defensores da manobra.
Segundo apurou a reportagem, entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões irão para ações do Ministério do Desenvolvimento Regional. A Infraestrutura, do ministro Tarcísio de Freitas, também será contemplada – a pasta pode receber R$ 2,5 bilhões a mais. Tanto Marinho quanto Tarcísio participaram da reunião ontem no Palácio da Alvorada.
Haverá ainda uma reserva de recursos a ser destinada a obras indicadas diretamente pelos parlamentares, uma forma de contemplar o Centrão e ganhar apoio no Congresso à manobra. A MP precisará ser validada pelos parlamentares.
Nesta quinta-feira, 13, ao lado de Bolsonaro, Marinho defendeu que o governo não pode deixar "obras importantes" paralisadas. Eles participaram da inauguração da obra de revitalização do Porto Futuro, em Belém (PA).
O crédito extraordinário pode ser aberto para bancar “despesas imprevisíveis e urgentes”, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública. Já o orçamento de guerra, aprovado para facilitar a execução de despesas necessárias ao combate da covid-19, tirou uma série de amarras fiscais para gastos de enfrentamento a “efeitos sociais e econômicos” da pandemia. Técnicos do governo e de órgãos de controle têm dúvidas se bancar obras que já estão em andamento ou ainda serão iniciadas pode ser enquadrado como enfrentamento a efeito econômico da pandemia.
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