Com 70 anos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, passou a despachar temporariamente da sua residência no Rio de Janeiro. No grupo de risco da pandemia do novo coronavírus, o ministro seguiu a orientação do colega, Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde, para fazer home office. Desde sexta-feira da semana passada, despacha de sua casa.
Do Rio, Guedes participou ao longo do dia de conferências virtuais com a sua equipe direta, os presidentes dos bancos públicos (Banco Central, Banco do Brasil, BNDES, e Banco do Brasil) e o Palácio do Planalto.
A ausência de Brasília, onde o presidente Jair Bolsonaro continua despachando presencialmente no seu local de trabalho, o Palácio do Planalto, tem alimentado especulações sobre o seu distanciamento, justamente nesse momento mais crítico de contenção do alastramento do novo coronavírus e de medidas para atenuar as consequências na economia.
Segundo auxiliares, o ministro continua trabalhando “loucamente” em contatos também com governadores, investidores, economistas e membros do governo. Guedes tem sido representado nas reuniões presenciais pelos secretários especiais de Fazenda, Waldery Rodrigues, e Executivo, Marcelo Guaranys.
A ausência de Brasília vêm porém, alimentado rumores sobre sua saída do cargo e desentendimentos com o presidente. Todos desmentidos por ele via ligações diretas pelo WhatsApp ou mensagens diretas para quem, de fora da equipe, consegue uma atenção na sua agenda. Depois que teve o telefone clonado, o ministro não faz ligações pelo número do seu celular.
As críticas ao seu “sumiço” aumentaram depois que o presidente Bolsonaro passou a defender o fim do confinando em massa da população em contraponto à posição dos governadores. Um assessor direto ressalta que ele é do grupo de risco e diz que é injusta a crítica por ele estar tendo a cautela. A demora de efetivação das medidas de mitigação da crise, já anunciadas, também é atribuída a falta de coordenação no Ministério da Economia.
Como apurou o Estado, o ministro é um dos integrantes do governo a alertar o presidente Bolsonaro sobre o risco da paralisação brusca da economia.
Nos bastidores de Brasília, o comandante da política econômica tem sido um contraponto à continuidade de um bloqueio generalizado e às medidas de fechamento do comércio. Publicamente, porém, diz que não é médico para falar sobre ações de saúde. A interlocutores, confidenciou que não tem conhecimento na área de saúde para "ousar" aconselhar o presidente, mas disse que explicou que há uma defesa crescente do isolamento vertical (para pessoas do grupo de risco, incluindo idosos e pessoas com outras doenças) em vez do horizontal (para toda a população). “Me limito a observar que o confinamento horizontal prolongado pode ter um enorme impacto na economia”, diz ele a quem pergunta.
As ações de isolamento para todos sem distinção são recomendações de autoridades sanitárias, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), como a única forma de evitar a disseminação da doença em estado de transmissão sustentada, ou seja, quando não se sabe a origem da contaminação.
Oficialmente, em entrevista ao Estado, na segunda-feira, 23, Guedes deu uma resposta curta quando foi questionado sobre o confinamento para conter o alastramento da pandemia: “Eu tenho que seguir, por enquanto, o Mandetta. Ele é o médico”.
Os argumentos dos que defendem o isolamento mais brando, inclusive da equipe econômica, é que o bloqueio do comércio desconsidera o enorme impacto humanitário e social de uma recessão econômica profunda, que afeta principalmente os segmentos mais vulneráveis da população.
Nesse cenário, para eles, o custo no pós-crise epidêmica seria mais prejudicial para a população. Circulam previsões na Esplanada que o Brasil pode demorar mais de quatro anos para se recuperar do baque econômico, portanto, depois das próximas eleições presidenciais marcadas para 2022.
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