Após reconhecer pela primeira vez que a dívida bruta vai passar dos 100% do PIB nos próximos anos, o Tesouro Nacional traçou um cenário alternativo para medir como o endividamento brasileiro reagiria a uma combinação de três choques, no crescimento, na taxa básica de juros (Selic) e no resultado primário das contas. Nessa situação, a dívida bruta subiria sem parar nos próximos anos e chegaria a 125,2% do PIB em 2029. Já a dívida líquida também aceleraria e alcançaria 113,1% do PIB em 2029.
No cenário base, as projeções são de dívida bruta em 98,0% do PIB em 2029 (após um pico de 100,8% em 2026) e dívida líquida em 86,9% no mesmo ano.
A combinação de choques usada pelo Tesouro para estimar o cenário alternativo é de um crescimento do PIB um ponto porcentual menor que no cenário base de cada ano, uma Selic maior em um ponto porcentual em cada ano, e um resultado primário nas contas pior em um ponto porcentual do PIB no mesmo período.
Na reunião desta semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic inalterada no seu piso histórico, em 2% ao ano. No entanto, cresce no mercado uma expectativa de antecipação das altas na Selic, o que impactaria diretamente a dívida.
“Choques que obstruam a retomada do crescimento econômico, onerem o custo da dívida ou prolonguem e aprofundem os déficits primários podem conduzir a dívida pública a uma trajetória sem perspectiva de estabilidade no horizonte de tempo abarcado pelo presente relatório, como ilustra essa análise de sensibilidade”, diz o relatório do Tesouro.
No seu cenário base, o Tesouro considerou projeções de mercado para o período de 2020 a 2023, o que inclui Selic média de 2,8% neste ano, 2,2% em 2021, 4,0% em 2022 e 5,3% em 2023. De 2024 a 2029, a Selic média considerada pelo Tesouro foi de 6,0% ao ano.
Exposição da dívida à variação de juros é ponto de atenção, diz Tesouro
A atual exposição da dívida pública ao risco de oscilações nas taxas de juros é um ponto de atenção, destacou hoje o Tesouro Nacional.
O indicador de risco de repactuação, que reflete o total da dívida que teria seu custo renovado no horizonte de um ano em caso de mudanças nas taxas de juros nesse período, está em 55,0% da Dívida Pública Federal (DPF) e em 66,5%, considerando a DPF e as operações compromissadas.
Ambos os indicadores são maiores que o observado em 2019, quando estavam em 53,5% e 62,0%, respectivamente.
O risco de repactuação resulta da soma de toda a dívida a vencer em doze meses com a parcela da dívida atrelada à taxa flutuante (Selic) que vence em um prazo superior a doze meses
"Uma estratégia de financiamento que atue na direção da redução dos riscos de refinanciamento e de mercado é essencial no médio prazo. Mas sua execução passa pela estabilidade econômica, com destaque para a credibilidade fiscal do País", destacou o Tesouro.
"Neste sentido, reforça-se a importância de pautar-se a agenda fiscal com soluções que permitam a condução da dívida pública a patamares mais baixos e compatíveis com uma menor percepção de risco", acrescentou o órgão.
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