O Senado aprovou nesta quinta-feira (12) o projeto de lei que estabelece o marco regulatório para a exploração de energia elétrica em alto-mar, conhecido como PL das eólicas “offshore”. Apesar de avançar na regulação de uma fonte de energia limpa, o texto foi aprovado com a inclusão de emendas polêmicas, conhecidas como “jabutis”, que favorecem os setores de carvão e gás natural. Segundo entidades do setor elétrico, essas alterações podem elevar a conta de luz dos brasileiros em até 9%.
Os “jabutis”, termos que se referem a emendas sem relação com o tema original do projeto, foram incluídos durante a tramitação na Câmara dos Deputados. O projeto inicial, proposto pelo então senador Jean Paul Prates (PT/RN), recebeu oito emendas desse tipo na Câmara, das quais seis foram mantidas pelo Senado. As mudanças incluem extensões de incentivos fiscais ao carvão até 2050 e ampliação de contratações de usinas termelétricas a gás natural, o que aumenta os custos para o consumidor final.
De acordo com a Frente Nacional dos Consumidores de Energia, o PL pode gerar um impacto de R$ 21 bilhões anuais em subsídios até 2050, totalizando cerca de R$ 545 bilhões. Isso representa 51,7% do orçamento anual da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), atualmente em R$ 40,6 bilhões.
Debate no Senado
Durante a discussão, a inclusão das emendas foi criticada por senadores do governo e por parlamentares independentes. O senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) classificou as alterações como “uma floresta inteira de jabutis” e afirmou que elas desvirtuam o objetivo principal do projeto, que é promover energia limpa. Ele também antecipou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve vetar os dispositivos que favorecem carvão e gás natural.
Por outro lado, senadores como Rogério Marinho (PL-RN) e o relator Weverton Rocha (PDT-MA) defenderam os incentivos, argumentando que eles garantem segurança ao sistema energético do país. Rocha negou que o projeto resultará em aumento nas tarifas de energia.
A votação mostrou divergências entre os partidos. Enquanto o governo e o partido Novo orientaram seus senadores a votar contra os “jabutis”, legendas como PL, Podemos, União e PP apoiaram as emendas. A oposição e partidos como PSD e Republicanos deixaram a decisão a cargo de seus parlamentares.
O resultado foi de 40 votos favoráveis e 28 contrários à manutenção dos incentivos ao carvão e ao gás.
Críticas aos incentivos a carvão e gás
O senador Otto Alencar (PSD/BA) ressaltou que o projeto original não incluía incentivos fiscais para carvão e gás, e que a prorrogação desses benefícios é incoerente com os compromissos ambientais do Brasil. “Sediarámos a COP 30 e como explicaremos que estamos incentivando empresas poluentes?”, questionou o parlamentar. Ele defendeu que esse tipo de discussão seja tratado em projetos específicos e não no contexto de energia limpa.
O próximo passo
O projeto agora segue para sanção presidencial. O presidente Lula tem a prerrogativa de vetar as emendas polêmicas antes que a lei entre em vigor. Caso sejam vetados, os “jabutis” ainda podem ser reanalisados pelo Congresso Nacional, que pode manter ou derrubar os vetos. Veja como foi a votação abaixo:
Senadores que votaram sim para manter os jabutis a favor do gás e do carvão:
Alan Rick (União/AC)
Angelo Coronel (PSD/BA)
Astronauta Marcos Pontes (PL/SP)
Carlos Portinho (PL/RJ)
Ciro Nogueira (PP/PI)
Damares Alves (Rep/DF)
Daniella Ribeiro (PSD/PB)
Davi Alcolumbre (União/AP)
Dr. Hiran (PP/RR)
Eduardo Braga (MDB/AM)
Eduardo Gomes (PL/TO)
Efraim Filho (União/PB)
Esperidião Amin (PP/SC)
Flávio Bolsonaro (PL/RJ)
Hamilton Mourão (Rep/RS)
Irajá (PSD/TO)
Izalci Lucas (PL/DF)
Jaime Bagattoli (PL/RO)
Jayme Campos (União/MT)
Jorge Seif (PL/SC)
Laércio Oliveira (PP/SE)
Lucas Barreto (PSD/AP)
Luis Carlos Heinze (PP/RS)
Magno Malta (PL/ES)
Marcio Bittar (União/AC)
Marcos Rogério (PL/RO)
Mecias de Jesus (Rep/RR)
Omar Aziz (PSD/AM)
Plínio Valério (PSDB/AM)
Professora Dorinha Seabra (União/TO)
Rodrigo Cunha (Podemos/AL)
Rogerio Marinho (PL/RN)
Romário (PL/RJ)
Soraya Thronicke (Podemos/MS)
Tereza Cristina (PP/MS)
Vanderlan Cardoso (PSD/GO)
Veneziano Vital do Rêgo (MDB/PB)
Wellington Fagundes (PL/MT)
Weverton (PDT/MA)
Wilder Morais (PL/GO)
Senadores que votaram não para manter os jabutis a favor do gás e do carvão:
Alessandro Vieira (MDB/SE)
Ana Paula Lobato (PDT/MA)
Augusta Brito (PT/CE)
Beto Faro (PT/PA)
Carlos Viana (Podemos/MG)
Republica MG Cleitinho (Rep/MG)
Eduardo Girão (Novo/CE)
Eliziane Gama (PSD/MA)
Fabiano Contarato (PT/ES)
Fernando Farias (MDB/AL)
Flávio Arns (PSB/PR)
Humberto Costa (PT/PE)
Jaques Wagner (PT/BA)
Jorge Kajuru (PSB/GO)
Jussara Lima (PSD/PI)
Leila Barros (PDT/DF)
Margareth Buzetti (PSD/MT)
Otto Alencar (PSD/BA)
Paulo Paim (PT/RS)
PT SE Rogério Carvalho (PT/SE)
UNIÃO PR Sergio Moro (União/PR)
PSD AC Sérgio Petecão (PSD/AC)
Podemos RN Styvenson Valentim (Podemos/RN)
Teresa Leitão (PT/PE)
Zenaide Maia (PSD/RN)
Zequinha Marinho (Podemos/PA)