A empresa francesa de laticínios Danone se tornou alvo de ameaças de boicote do setor agrícola brasileiro após declarações de seu diretor financeiro global, Jurgen Esser. Em entrevista à agência Reuters, ele afirmou que a multinacional não compra soja do Brasil e insinuou que a produção brasileira não é sustentável.

Essa posição seria uma antecipação à adoção do Regulamento Antidesmatamento da União Europeia (EUDR). O prazo para adesão é 30 de dezembro para grandes empresas e 30 de junho de 2026 para micro e pequenas empresas, ainda em discussão pelo Parlamento e pelo Conselho Europeu. 'Temos um sistema de rastreamento muito eficaz e podemos assegurar que utilizamos apenas ingredientes sustentáveis em nossos processos. Não compramos mais soja do Brasil', afirmou o executivo da multinacional.

Foto: Divulgação/Governo do Estado do Piauí
A soja segue como a commoditie mais exportada pelo estado do Piauí

Com a repercussão da declaração nas redes sociais, consumidores iniciaram uma campanha para boicotar a venda dos produtos da Danone nos supermercados. A Associação dos Produtores de Soja do Brasil ( Aprosoja Brasil ) também se posicionou ante a afirmação de Jurgen Esser, e a classificou como “um ato discriminatório contra o Brasil e sua soberania” , especialmente pelo ataque da reputação da soja brasileira.

“O Brasil, na realidade, já está atingindo a linha de desmatamento líquido zero há bastante tempo. Embora exista desmatamento, também há muita regeneração da vegetação natural. Portanto, a afirmação de que o Brasil lidera a destruição de floresta tropical no mundo é fala de quem desconhece a dinâmica das florestas no Brasil. Pior ainda, está discriminando o único produtor de soja no mundo que preserva o meio ambiente e os recursos hídricos dentro das suas propriedades”, defendeu a Aprosoja.

Por sua vez, o Ministério da Agricultura também repudiou “posturas intempestivas e descabidas” anunciadas por empresas europeias, cuja atuação no mercado brasileiro é bastante forte. O órgão também criticou o regulamento, pois “considera as normas arbitrárias, unilaterais e punitivas”, especialmente por “desconsiderarem particularidades dos países produtores e impor exigências com impactos significativos sobre os custos e a participação de pequenos produtores no mercado europeu”.

Polêmica envolvendo o EUDR

O adiamento do regulamento antidesmatamento da União Europeia foi defendido pelas próprias autoridades de Bruxelas, que temem um rompimento abrupto nas cadeias de fornecedores. De forma suscinta, o EUDR prevê a adoção de diversos procedimentos para atestar que produtos das cadeias de soja, carne, borracha, café, madeira, cacau e óleo de palma não são oriundos de áreas desmatadas após 2020.

As gigantes do setor alimentício, como Nestlé e Unilever, já aderiram a medidas com o intuito de atender algumas das futuras exigências impostas pelo regulamento. Dessa forma, essas empresas também evitam multas que podem custar até 4% do faturamento anual.