O jornalista Rômulo Rocha enviou ao blog, na tarde desta segunda-feira (03), direito de resposta sobre matéria publicada, na última quinta-feira (30), sobre uma representação ingressada pelo senador Ciro Nogueira contra o jornalista.
- Foto: Facebook/Romulo RochaRomulo Rocha
Na nota, Rômulo afirma que “não produzo, não produzi, muito menos difundo ou difundi qualquer informação falsa sobre o senador Ciro Nogueira” e que “não posso ser responsabilizado por Fake News, já que não produzi nenhuma notícia sabidamente falsa”.
O jornalista diz ainda ter sido pressionado: “Enfatizo que lamento profundamente ter sido pressionado pela assessoria do senador Ciro Nogueira para revelar fonte, sob a grave insinuação de que se eu não o fizesse, eu arcaria com as consequências, porque iria “parecer” que fui eu”.
Confira abaixo a nota na íntegra:
Afronta à Constituição
“Lamento pressão do senador Ciro Nogueira e de sua assessoria para revelar fonte jornalística”
Nota argumentativa de Rômulo Rocha
- NÃO REVELO MINHAS FONTES E QUEM PRODUZIU E DIFUNDIU ‘INFORMAÇÃO’ DE GRUPO PRIVADO QUE RESPONDA POR ISSO
1 – Em face do que se tomou conhecimento através da imprensa, afirmo que não produzo, não produzi, muito menos difundo ou difundi qualquer informação falsa sobre o senador Ciro Nogueira, sendo que sou reconhecidamente apoiador e financiador de projeto no país que trata de fact-checking. Outra, não posso ser responsabilizado por Fake News, já que não produzi nenhuma notícia sabidamente falsa. Na verdade, ninguém produziu. Ademais, informo ainda que detalhes de suposto diálogo comprometedor, em forma de print, me despertam uma certa curiosidade e mantenho ávido interesse jornalístico por eles. É inerente do jornalismo investigativo juntar pontas aparentemente desconexas, ‘fora da realidade’ (no caso concreto, nem tanto), e dar significação a elas. Isso ninguém pode me tirar, muito menos um senador da República alvo da Operação Lava Jato;
2 – Enfatizo que lamento profundamente ter sido pressionado pela assessoria do senador Ciro Nogueira para revelar fonte, sob a grave insinuação de que se eu não o fizesse, eu arcaria com as consequências, porque iria “parecer” que fui eu. Uma afronta à Constituição Federal, que tutela a fonte jornalística. Ser pressionado por assessor de um senador da República para atentar contra a Constituição é algo grave em Democracias constituídas;
3 – Participo, como convidado, de um grupo de discussão privado onde se informa sobre acontecimentos do mundo político no Piauí, e como jornalista faço perguntas, não afirmações. Os assuntos são discutidos e por vezes geram pautas, para se negar ou afirmar o tema revelado. Aliás, questionar é dever do jornalista, algo que o senador da República parece não estar acostumado em seu estado;
4 – Confesso que causou espanto o fato de um print de uma suposta conversa onde um político, que sequer tem seu nome citado, tenha movimentado a assessoria de um senador da República de forma frenética, a ponto de pressionar profissional de imprensa para que revelasse a qualquer custo quem lhe havia passado determinada informação empacotada em suposta montagem. Lamento, com base ainda no noticiado na imprensa, que uma ação junto à Justiça Eleitoral atribuída ao senador Ciro Nogueira contra minha pessoa, peça a minha responsabilização caso eu não revele fonte jornalística, oficializando ato de pressão, em continuidade ao anterior à suposta judicialização do caso, o que faz lembrar, de forma figurada, os sacos plásticos da polícia carioca;
5 – Afirmo que enquanto profissional de imprensa NÃO REVELAREI a fonte jornalística, uma vez que a Constituição Federal, reforça-se, me resguarda tal possibilidade, embora seja muito fácil declinar nomes, de quem, tenho certeza, não difundiu, nem produziu suposto diálogo entre jornalista e autoridade pública. Porém, se assim o fizesse, não deveria integrar as fileiras da profissão de jornalista. Lamento, conforme o noticiado, de que haveria o pedido de quebra de sigilo para encontrar minha fonte, o que me parece ser combustível para mais polêmica, após a minha notificação e constatação de tais investidas. Acredito, no entanto, que há outros dispositivos para encontrar o autor do que a assessoria do senador diz ser uma “montagem grosseira” do que rasgando a Constituição;
6 – Lamento também, conforme noticiado na imprensa, possível existência de uma argumentação da assessoria jurídica do referido senador da República, supostamente usada em peça jurídica, para me forçar a revelar fonte jornalística. Tal argumentação sustenta que se eu não revelar a fonte de um print a mim repassado - como repassado a outros profissionais de imprensa, eu seja imediatamente condenado, já que não existiriam outras maneiras de descobrir os VERDADEIROS culpados. Ora, ora, por essa ótica, normal seria então se aceitar como verdadeiro que o senador Ciro Nogueira recebeu dinheiro sujo (“bolsas e malas”), oriundo da propina no âmbito da Lava-Jato, já que delatores revelaram tal acontecimento, e em não tendo outro meio de prova, que o político seja logo responsabilizado e encarcerado, uma vez que fica “parecendo” que ele foi beneficiado. Isso é meio absurdo, não?;
7 – Lamento ainda que o blogueiro Herbert Sousa, do Portal GP1, sucessivas vezes, tentando desconstruir a minha imagem, tenha feito publicações gravemente tendenciosas em aparente profundo ranço contra colega de profissão e sem o menor senso crítico. Uma delas narra pedido de cassação do meu registro profissional. Já outra noticia que haja a quebra de confiança entre um jornalista e uma fonte jornalística, no caso envolvendo o senador Ciro Nogueira. Tais pedidos são perigosos para a liberdade de imprensa, e não deveriam ser aceitos, sem questionamentos - bovinamente -, por profissionais de comunicação sérios;
8 – Estou à disposição da Polícia Federal para dizer o porquê de seguir investigando não a veracidade do formato do polêmico print em si, questionado por mim em grupo privado, um espaço de discussões -, mas trechos do seu conteúdo. E afirmo que me sinto à vontade para justificar a busca por pontas soltas oriundas das entrelinhas da suposta montagem devido à conexão do que existe na peça e fatos narrados por pessoa notória, na condição de jornalista, visto este já ter comentado sobre a existência de oferta de dinheiro para publicar contrainformação (exaltação de denunciado, desinformação, desacreditação) visando rebater escritos desse profissional de imprensa, assim como combater escritos do editor chefe do Portal AZ, jornalista Arimateia Azevedo. A pessoa que narra tais histórias é ligada a Ciro Nogueira. Os fatos, no entanto, não envolvem o respectivo senador. Aliás, essas narrações ajudaram a entender a posição de um outro portal que contrainformava quando eu expus a destinação suspeita de emendas da Alepi para a fundação FCAMC. Também vi semelhança entre o que é tratado sobre Marcelo Castro no
polêmico print e informações do mundo real. Portanto, não é a veracidade da forma que eu persigo, mas as muitas nuances do seu conteúdo, ainda que os atores possam não ser aqueles que vieram a público dizer em alto e bom som: SOU EU;
9 - É válido ressaltar, que no grupo privado de WhatsApp do qual faço parte, hoje em dia, e infelizmente, já se chegou a mencionar expressões como “financiamentos (financiadores)”, permitindo inferir que aquelas autoridades que possuem ‘boas relações’ não são alvo de críticas internas, ao contrário dos seus adversários políticos. Isso é verdade?;
10 – O grupo privado é, inclusive, composto por membros da assessoria de Ciro Nogueira e um desses supostos, já chegou a inserir neste mesmo grupo conteúdo contra Wilson Martins, um vídeo montado no qual o candidato a senador da República é chamado de “ladrão” repetidas vezes, numa truncagem ultrajante. Estranho que tal postagem não tenha sido condenada por ninguém, muito menos pelo organizador do grupo, o que evidencia uma certa dose (dupla), no mínimo, de hipocrisia. Em outra oportunidade esse suposto assessor diz que os “autores” da suposta peça, que na visão dele, é contra o senador Ciro Nogueira, já foram descobertos e “demitidos”. Por que então pressionar um jornalista? Hoje em dia parece existir nesse espaço privado uma verdadeira patrulha do político do PP, o que faz do grupo, antes de discussão e debates (além de exageros, como em qualquer grupo de WhastsApp), um ambiente hostil, onde indagar sobre algo relacionado ao senador e outros pode fazer com que você seja duramente reprimido e até acionado judicialmente, em nítidos atos de censura. No mais, é informar que os números celulares dos integrantes do tal grupo privado, frise-se (e inúmeros comentários), podem vir a ser disponibilizados, tranquilamente, à Justiça Eleitoral, para saber quem realmente difundiu, fora de um contexto apuratório e de discussão, conteúdo para grupos diversos, visando atingir as incontroláveis redes sociais, se é que isso é relevante, já que o print não tem o nome do parlamentar, e nem tem o poder de mudar os rumos de uma campanha eleitoral. No mais, tudo soa como intimidação;
11 - Por último, e não menos importante, em meio a essa caçada desproporcional e desrespeitosa a uma fonte jornalística, é fácil pensar que o tal senador da República não ‘parece’ muito preocupado com as tentativas do Supremo Tribunal Federal, na pessoa do relator da Lava Jato ministro Edson Fachin, de lhe notificar, em face de inquérito (Inq 4720) um tanto embaraçoso, justamente aquele em que um dos ex-assessores de Ciro Nogueira, apontado como delator de fatos supostamente não republicanos, foi incluído no programa de proteção à testemunha do Ministério da Justiça - conforme anexos, devido, ao que se presume, a riscos contra a sua integridade física. Um fato que deveria ser discutido e informado ao povo piauiense, por ser muito mais sério para o futuro do país, mas que, infelizmente, não é repercutido pela imprensa local. Por quê? Mais: EU TENHO QUE TER MEDO?
Rômulo Rocha
Jornalista
Despacho para tentativa de notificação de Ciro Nogueira
Denúncia oferecida contra Ciro Nogueira
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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