Feitosa Costa: Prédio é chave para esclarecer morte de Fernanda Lages

Todos os dias passo pela avenida João XXIII e instintivamente volto o olhar para o prédio em que funcionará o Ministério Público Federal em breve.

Ali, no pátio posterior, Fernanda Lages Veras, uma menina de 19 anos que apenas despontava para a vida, foi encontrada morta no dia 25 de agosto.

Aprendi, ao longo de 34 anos de profissão, convivendo em várias redações, principalmente a do velho e inesquecível jornal “O Estado” onde se movimentavam verdadeiras "águias" como Montgomery de Holanda, Arimateia Azevedo, Chico Viana, J.Barros, Pedro Alcântara e o próprio Helder Feitosa, que o repórter precisa sentir o cheiro da notícia.

Sim, a notícia tem cheiro, não duvidem!

Por isso desde a manhã do dia 25 procuro uma resposta que sei ser o ponto chave para a elucidação do fato:
- Por que Fernanda morreu naquele prédio?

A resposta deveria ter sido buscada desde o primeiro momento.

Em qualquer das hipóteses levantadas até aqui para justificar a morte de Fernanda, uma coisa é certa: ou ela conhecia perfeitamente o caminho para chegar ao terraço do edificio do Ministério Público ou foi conduzida até lá, pessoalmente ou através de algum sistema de comunicação que a polícia afirma não ter encontrado sinal até agora.

O percurso

Entramos, eu e a repórter Wanessa Gomes, de "supetão" , no edifício e fomos até o local em que Fernanda caiu ou foi jogada. Estávamos muito apressados por que temíamos que a nossa verdadeira identidade fosse descoberta antes de alcançarmos o ponto.

Faltavam 20 minutos para as 6 horas da manhã, o portão da frente já estava aberto e os operários estavam chegando. Foi mais ou menos nesse horário que Fernanda entrou, talvez um pouco mais cedo.

Para começar tivemos uma dificuldade imensa para encontrar a porta da escada. Depois, cumprimos uma verdadeira maratona de 214 degraus. A todo momento você pensa que não chegará nunca. Quando termina um lance de escada vem logo outro. Demoramos 16 minutos para chegar ao ponto. Wanessa, que tem apenas 23 anos, chegou ofegante, bastante cansada.

A compleixão física de Wanessa é muito menor do que a de Fernanda, portanto com menos facilidade de se cansar. Wanessa não tinha ingerido bebida alcóolica e nem tinha passado a madrugada cansativa que Fernanda passara.

Fernanda, sem querer adivinhar ou fazer conjecturas, precisaria de muito mais tempo para chegar ao terraço do prédio do que se estima que ela precisou, principalmente se não conhecesse as instalações.

E se ela conhecesse o prédio?

Ai seria o caso de se descobrir por que ela conhecia as instalações de uma obra que passava despercebida na avenida João XXIII para a maioria dos mortais de Teresina.

Como uma garota bonita, apaixonada pela vida saberia que abrindo o portão de uma obra vizinha, se movimentando com uma certa rapidez atingiria uma passagem comum lá nos fundos dos dois terrenos?

E ainda: como essa mesma garota, sem conhecer as intalações ou ser conduzida de alguma forma, se desvencilharia de um vigilante profissional sem acordar um operário que dormia próximo a seus movimentos, conseguiria encontrar as escadas e chegar ao topo do edificio?

Por isso desde o inicio das investigações acredito que a resposta final está no prédio.

Por que aquele edificio?

Será que é lógico se supor que Fernanda, depois de uma alegre noitada com amigos, passando pela avenida João XXIII, de repente imaginou que entrando pelo portão de uma obra vizinha, encontraria uma passagem nos fundos, conseguiria burlar a vigilância de um profissional da Servi-San, encontraria a entrada da escada, subiria vários andares, se depararia com um parapeito quase à altura da sua cabeça e, mesmo exausta, encontraria forças para transpor esse obstáculo e se jogar?

Admito que tudo é possível, mas estudei topografia na antiga Escola Técnica Federal do Piauí e sei que não se conhece em tão pouco tempo um terreno com tantos obstáculos.

Fernanda deve ter entrado ali porque conhecia o caminho ou foi devidamente orientada. Em qualquer das hipóteses conclui-se que a sua morte nâo foi decisão própria.

Sei que aquele prédio tem muito a dizer. Vou continuar olhando na sua direção todos os dias.

Fotos do percurso realizado por este respórter e pela jornalista Wanessa Gomes no prédio do MPF, onde a estudante Fernanda Lages foi encontrada morta.