O poeta brasileiro Antônio Cícero morreu através de procedimento de eutanásia na Suíça, na manhã desta quarta-feira (23). Irmão da cantora Marina Lima e autor de textos que se tornaram clássicos na literatura e na Música Popular Brasileira (MPB), como os poemas “Guardar” e a letra da canção “Fullgás”. Ele tinha Alzheimer.
O escritor foi à Suíça acompanhado do marido Marcelo Pies, que comunicou aos mais próximos da família a decisão do poeta pela morte assistida. Confira abaixo o texto de despedida deixado por Antônio Cícero.
Parte da obra de Antônio Cícero
Natural do Rio de Janeiro, Antônio Cícero cursou filosofia dentro e fora do Brasil e começou a ser reconhecido a partir do final da década de 1970. À época, ele começou a compor letras de algumas das principais canções de sua irmã mais nova, Marina Lima, como "Fullgás", "Charme do Mundo" e "Pra Começar".
Entre outras colaborações de grande audiência na MPB, escreveu as letras de "À Francesa", com Claudio Zoli, e de "O Último Romântico", com Lulu Santos e Sérgio Souza.
Ao longo da carreira, ele publicou quatro livros de poesia, os títulos “Guardar”, de 1996, “A cidade e os livros”, de 2002, “Livros de sombras: pintura, cinema e poesia”, de 2010 e “Porventura”, de 2012. Além disso, integrou diversas coletâneas e foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), em 2017.
Poemas mais reconhecidos
Entre seus poemas mais reconhecidos, está “Guardar”, o qual o público brasileiro conheceu ainda mais após a atriz Fernanda Montenegro gravar vídeo declamando-o. Leia o texto abaixo.
“Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso, melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que de um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar”
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