Autoridades de Pernambuco e da Paraíba identificaram novas manchas de óleo no litoral desde a última quinta-feira, 25. Pelo menos onze municípios pernambucanos notificaram marcas do poluente, além de cinco praias paraibanas.
Investigações preliminares apontam que não é o mesmo material que se espalhou pela costa nordestina em 2019, quando 130 municípios registraram o rastro de um derrame de petróleo cru no oceano. São necessárias, porém, pesquisas mais aprofundadas.
Segundo Clemente Coelho Junior, professor de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco (UPE), que desde 2019 participa de vistorias, reuniões e análises técnicas para estudar as manchas de óleo, em 17 de agosto foi resgatado pelo Instituto Biota um filhote de tartaruga em Maceió com uma grande quantidade de piche na boca.
“Aquilo era algum sinal de alerta”, afirmou. “No domingo, dia 21, encontrei uma mancha pequena na praia do Cupe, em Porto de Galinhas (PE). Achei estranho, mas desde 2019, nesta época, por conta da agitação do mar, os fortes ventos, correntes maiores, acaba mobilizando a areia da praia e aparecem manchas daquele ano”, explicou o pesquisador.
Na quinta-feira, 25, Clemente recebeu fotos de colegas mostrando bolotas de piche em Maracaípe e Porto de Galinhas, importantes pontos turísticos do litoral sul de Pernambuco. A partir de uma rede de comunicação com moradores de várias praias, descobriu-se que outras praias estavam com o material, alguns do tamanho de uma bola de tênis.
Logo depois disso, foram acionados o Ibama e a Marinha. Em 2019, houve críticas ao poder público diante da demora de acionar o plano de contingência para incidentes por óleo.
Até agora, em Pernambuco, foram registrados o aparecimento de materiais em Olinda, Recife, Paulista, Cabo, Jaboatão, Itamaracá, Goiana, Sirinhaém, Tamandaré, Ipojuca e São José da Coroa Grande.
“Essas bolas de petróleo não eram tão fluidas como as de 2019. Algumas, inclusive, possuíam organismos incrustados que chamamos de lepas, um crustáceo que geralmente gruda no que estiver boiando no oceano. É um bicho que vive em mar aberto - e isso era um sinal de que essas bolotas estavam vindo de muito longe”, enfatizou Clemente Coelho, reforçando que a configuração do material é diferente de 2019.
Conforme o professor da UPE, apesar de o material não parecer tão tóxico quanto o óleo que manchou o litoral nordestino há três anos, é desaconselhado o manuseio do material por parte da população. Caso sejam identificadas manchas de óleo, é recomendado que se acione as autoridades responsáveis de cada estado.
No momento em que as manchas surgiram em Pernambuco, os pesquisadores avisaram à Paraíba, que também registrou o aparecimento do óleo, mas em menor quantidade. Por lá, foram identificadas aparições nas praias de Carapibus, Tambaba, Pitimbu, Jacarapé e do Amor.
A prefeitura do Recife ampliou em 200% o efetivo para limpeza da orla de Boa Viagem, com 60 trabalhadores trabalhando diariamente na limpeza. A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco informou que, nesta segunda-feira (29), o comitê que monitora o aparecimento de vestígios de óleo avaliou as atividades de monitoramento do final de semana e discutiu novas ações.
Entre as ações previstas, estão a ampliação das equipes de monitoramento, provisão de estrutura para a eventual necessidade de contenção de manchas de óleo, com mantas e barreiras; reforço no estoque de EPIs; reunião com os municípios litorâneos para reforçar as orientações de limpeza das praias (coleta e destinação correta dos resíduos); reforço na comunicação dos informes de utilidade pública e do telefone de emergência ambiental da CPRH: (81) 99488-4453.
Segundo nota enviada pela Secretaria de Meio Ambiente, nesta segunda-feira, foram encontrados vestígios de óleo em 6 municípios: Paulista, Tamandaré, São José da Coroa Grande (em quantidade muito pequena), Goiana, Jaboatão dos Guararapes e Recife. As amostras dos materiais recolhidos estão em análise no Laboratório de Compostos Orgânicos em Ecossistemas Costeiros e Marinhos (OrganoMAR), da UFPE. Já as amostras colhidas pela Marinha do Brasil foram enviadas para a análise do Instituto de Estudos Almirante Paulo Moreira (IEAPM). Uma nova reunião está marcada para a quinta-feira, 1º.
Recorrência
De acordo com o pesquisador, eventos como esse devem se tornar cada vez mais comuns, pois a corrente marítima Sul Equatorial, que vem da África em direção ao litoral nordestino, está localizada em uma área de intenso fluxo de navios petroleiros. Assim, acidentes de pequena ou grande proporção ou ações criminosas fazem com que esse material seja conduzido até as praias brasileiras.
O professor alerta para a necessidade de maior seriedade nos acordos internacionais, buscando minimizar acidentes com o petróleo, e também defende a mobilização do poder público e da sociedade civil. Clemente Coelho Júnior explicou que um comitê regional do Consórcio Nordeste vem articulando o Plano Regional de Contingência para lidar com esse tipo de situação e sente que, após 2019, a população tem se mostrado mais atenta e preocupada com a questão, o que ajuda no monitoramento e nos cuidados ambientais.
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